Duas estudantes, de 18 e 20 anos, foram presas na noite deste domingo, 15, ap�s se beijarem durante evento evang�lico realizado em S�o Sebasti�o, litoral norte de S�o Paulo. O protesto foi realizado enquanto o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC/SP) iniciava sua prega��o a cerca de dois mil fi�is.
"Essas duas precisam sair daqui algemadas", bradou Feliciano, sob aplausos dos evang�licos, que assistiram � cena por meio de dois tel�es. Do palco, o deputado instru�a os policiais a localizarem as jovens em meio � multid�o.
Joana Palhares, 18, e Yunka Mihura foram cercadas, detidas e algemadas por guardas municipais e encaminhadas para o 1º Distrito Policial de S�o Sebasti�o. Elas foram liberadas ap�s prestarem depoimento. A atitude gerou revolta em um grupo de 10 pessoas que acompanhava as duas jovens.
Antes de serem encaminhadas para a delegacia, elas foram levadas para debaixo do palco, onde Joana afirmou ter sido agredida por diversos GCMs. "S� pararam porque a Yunca gritou muito". Segundo ela, Yunca chegou a ser jogada pelos GCMs para o lado da grade que separava o palco do p�blico.
Na delegacia, ap�s passar por exame de corpo delito, Joana, que tem corpo franzino, apresentava diversos hematomas nos bra�os e nas costas. "Eles (guardas) simplesmente me jogaram na grade e depois nos levaram para debaixo do palco, onde fui agredida por tr�s guardas e ainda levei dois tapas na cara, mesmo algemada. Tudo isso por causa de um beijo", queixou-se Joana.
"Foi uma atitude completamente injusta, me senti impotente enquanto a Joana apanhava e eu n�o podia fazer nada. Mas v�rios casais heterossexuais estavam se beijando normalmente no evento", relatou Yunca.
Den�ncia
O advogado Daniel Galani, que representou as jovens, disse que ir� formalizar uma den�ncia contra o deputado na Comiss�o dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Foi uma afronta grav�ssima aos direitos humanos e ao direito � livre express�o", avaliou. "Como o deputado tem foro privilegiado, vamos ver como a OAB pode interferir nesta quest�o".
Um boletim de ocorr�ncia foi registrado pelas estudantes contra os guardas municipais que participaram da ocorr�ncia. "Vamos apresentar tamb�m uma den�ncia na corregedoria da Guarda Municipal para que apure o caso". Ainda segundo o advogado, as estudantes n�o mant�m relacionamento homoafetivo. "Apenas se beijaram para se manifestarem contra a posi��o preconceituosa do deputado".
"Perseguido"
Enquanto as estudantes prestavam depoimento na delegacia, Marco Feliciano condenou a atitude das estudantes. Com todo o p�blico a seu favor, disparou cr�ticas contra as jovens e seus respectivos pais. "O que pensam os pais dessas meninas que v�m a um culto para beijar outra mulher? Esses baderneiros ter�o o troco no ano que vem, pois seremos a maior bancada evang�lica da hist�ria no Congresso".
Feliciano tamb�m criticou a imprensa. "Se os jornais publicarem mat�rias e derem raz�o para esses baderneiros, vou convocar uma grande manifesta��o nas portas desses jornais para protestarmos na pr�xima ter�a-feira". Ele se disse "perseguido" e "humilhado" pela m�dia.
A reportagem tentou e n�o conseguiu contato com o deputado. Em sua conta pessoal no Twitter, Feliciano postou �s 16h08 tr�s mensagens em que apenas transcreve o art. 208 do C�digo Penal Brasileiro. "Escarnecer de algu�m publicamente, por motivo de cren�a ou fun��o religiosa; impedir ou perturbar cerim�nia ou pr�tica de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: pena deten��o, 1 m�s a 1 ano ou multa. P.U. Se h� emprego de viol�ncia, a pena aumenta de 1/3, sem preju�zo da correspondente � viol�ncia", escreveu o deputado.