Juliana Braga e Denise Rothenburg
Bras�lia – A inesperada alian�a entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), obrigar� o PT e o governo a cederem mais espa�os para as legendas que continuam na base. Vendo as candidaturas de oposi��o se fortalecerem, partidos que sempre reclamaram de pouca aten��o da presidente Dilma Rousseff e seus correligion�rios agora enxergam uma via de centro esquerda alternativa na qual podem se abrigar. Com isso, PT precisar� preparar estrat�gia para n�o perder aliados e, com isso, tempo de televis�o durante a campanha e a maioria no Congresso Nacional.
Dentro do PT ainda n�o est� claro qual ser� o impacto da alian�a pessebista na base. Como pegou todos de surpresa, nem a legenda nem o governo tra�aram esse cen�rio para os pr�ximos meses. Os petistas se re�nem hoje pela manh� para uma an�lise mais profunda das consequ�ncias da uni�o.
Um dia ap�s a oficializa��o do acordo, a tend�ncia petista tem sido minimizar o estrago. O l�der do governo na C�mara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (SP), por exemplo, ainda n�o v� amea�as em vota��es importantes. “Nas mat�rias nas quais houver identidade de prop�sitos e de pol�tica ideol�gica, n�o altera em nada”, acredita. “O que muda � que o partido que n�o est� na base se sente mais livre para tomar decis�es. Mas, na pr�tica, o PSB j� vinha se afastando. N�o causou nenhum terremoto”, avalia.
Ainda assim, legendas aliadas est�o conscientes de que o poder de barganha pode ser maior. O l�der do PMDB na C�mara, Eduardo Cunha (RJ), comemorou ontem o acordo porque viu afastada de vez a possibilidade de o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva trazer Eduardo Campos para ser vice de Dilma. E ele avalia que a coliga��o pessebista n�o ter� for�a para derrubar o vice-presidente Michel Temer e a presidente. “Marina deu um tiro no p�. N�o sabe se conseguir� levar os votos que tem e ainda n�o agrega tempo de televis�o a Eduardo. Quando a campanha come�ar, A�cio Neves (PSDB-MG) ter� mais espa�o”, analisa.
O Pal�cio do Planalto j� se prepara para a ofensiva peemedebista para ocupar o Minist�rio da Integra��o Nacional, desocupado por Fernando Bezerra (PSB-PE). O partido esperava herdar a cadeira, mas Dilma optou por nomear o secret�rio de Infraestrutura H�drica, Francisco Teixeira, aliado dos irm�os Cid e Ciro Gomes. O PMDB deve a partir de agora retomar as press�es para ocup�-lo. “O PMDB sempre quer mais espa�o. Isso � patol�gico”, diz um auxiliar do governo.
Afinidade
Outra amea�a est� nos palanques estaduais. Marina Silva j� se comprometeu em fazer campanha para os parlamentares que a ajudaram na cria��o da Rede, e isso pode pesar na balan�a. No caso do PDT, por exemplo, legenda que tem at� minist�rio mas n�o perde a oportunidade de lembrar que s� decidir� quem apoiar� em 2014, v� em dois estados a possibilidade de ter apoio de Marina. No Distrito Federal, o deputado Reguffe pode sair ao governo ou ao Senado e j� tem promessa de apoio. No Rio Grande do Sul, o deputado Vieira da Cunha pretende lan�ar-se ao governo, como oposi��o a Tarso Genro (PT) e com apoio da ex-senadora.
Enquanto isso, o PSB se estrutura para tentar arrancar da base legendas com afinidade ideol�gica. Ainda n�o houve tempo para a tarefa, mas eles esperam que, depois da surpresa, outros partidos se animem a deixar o governo de Dilma tamb�m.
Oposi��o hist�rica ao PT
Apesar de um discurso oficial de n�o agress�o e de n�o fazer oposi��o por oposi��o, a coliga��o entre Rede e PSB j� deu sinais de que adotar� um discurso mais agressivo com rela��o ao governo de Dilma Rousseff. Na cerim�nia de s�bado, os dois elevaram o tom e adotaram uma postura que assustou o Pal�cio do Planalto. Ainda assim, o grupo formado no fim de semana conta com opositores hist�ricos do PT, que devem assumir o papel de bater de forma mais contundente nos governos petistas. Paulo Bornhausen — filho de Jorge Bornhausen, um dos fundadores do PFL —, o ex-senador e ex-DEM Her�clito Fortes, al�m do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), devem aderir o projeto e fazer a linha de frente do ataque.
O secret�rio de Desenvolvimento Econ�mico de Santa Catarina, Paulo Bornhausen, que j� passou pelo DEM e PSD, filiou-se ao PSB. O pai dele foi um dos opositores hist�ricos do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Em 2005, quando petistas se envolveram no esc�ndalo do mensal�o, Jorge chegou dizer que queria “acabar com essa ra�a”, referindo-se a possibilidade de minar o governo de Lula. Paulo, que est� licenciado da C�mara, saiu do PSD quando viu que a legenda deveria apoiar Dilma Rousseff. Ele deve tentar reeleger-se deputado federal. Her�clito tamb�m deu trabalho ao PT durante o mensal�o. Ele, que tamb�m passou pelo DEM, filiou-se ao PSB h� quatro dias.
J� o ruralista Ronaldo Caiado, que permanece no DEM, j� deu sinais de que apoiar� Eduardo Campos � presid�ncia. Ele hoje � um dos principais opositores do governo dentro da C�mara dos Deputados. Caiado tem resist�ncias dos sonh�ticos, mas poder� adotar discurso mais duro, j� que Marina e Eduardo, se exagerarem no tom, podem cunhar imagem de mal agradecidos, por terem sido ministros de governos petistas.
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) minimiza a influ�ncia da trinca na campanha de Marina e Eduardo. “Da parte do PSB, queremos construir uma campanha baseada na confian�a dos eleitores ao nosso projeto, n�o de desconstru��o dos governos anteriores. E essas pessoas que j� fizeram oposi��o est�o aderindo a essa concep��o”, justificou. Na opini�o do senador, quem optar por uma campanha agressiva acabar� perdendo. “A desqualifica��o de advers�rios acabar� voltando contra quem escolher esse caminho”, acredita.
Aposta na legenda
Os antigos aliados PMDB e PT desdenharam a uni�o de for�as entre Eduardo Campos e Marina Silva, mas os socialistas est�o convictos de que esse pouco caso � jogo de cena. Em especial, no que se refere a uma das elei��es que mais agita os pol�ticos: a de bancadas de deputados federais, fundamentais para obten��o de tempo de tev� e recursos do fundo partid�rio. O PSB j� fez as contas, e dada a corrida para filia��o de pessoas interessadas em ingressar na pol�tica, a chance de crescimento de bancadas na C�mara dos Deputados e nas assembleias legislativas estaduais no ano que vem � real e n�o apenas coisa de sonh�tico. Em oito anos, o PV, por exemplo, cresceu a sua vota��o na legenda em 524%, de 127 mil, em 2002, saltou para 824 mil.
A expectativa � que as filia��es ocorridas no PSB, um partido bem mais amplo do que
o PV, possa potencializar
esse n�mero.