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Estado de Minas

Relatos de um drama di�rio de quem se valeu do Minha casa, minha vida

Moradores do conjunto constru�do com recursos do programa em Uberl�ndia reclamam da precariedade das habita��es e do descaso com que s�o tratados pelas construtoras


postado em 01/11/2013 06:00 / atualizado em 01/11/2013 09:11

 

Iracilda Lizardo no quarto com as paredes mofadas (foto: Cleiton Borges / Esp. EM )
Iracilda Lizardo no quarto com as paredes mofadas (foto: Cleiton Borges / Esp. EM )

Uberl�ndia –
O sonho da casa pr�pria no Shopping Park, em Uberl�ndia, � um pesadelo que se vive junto. Por todas as ruas do condom�nio popular, os relatos dos moradores s�o arrebatadores. H� duas semanas, parte do material el�trico da casa de seu Heleno Almeida Campos, de 58 anos, aposentado por invalidez, foi trocada por outros mais resistentes. Segundo ele, o reparo foi feito por uma empreiteira contratada pela Caixa Econ�mica Federal (CEF) depois de diversas reclama��es de problemas como aquecimento e fogo nos interruptores. A parte de tr�s da casa, onde era para ser um quintal, continua desnivelada e n�o pode ser aproveitada. O aposentado conta que j� pagou oito caminh�es de terra para acertar o terreno, mas ainda n�o foi suficiente. Cada um, segundo ele, custou R$ 100. “N�o tenho dinheiro para comprar mais um caminh�o”, lamenta o aposentado, que paga R$ 92 de presta��o por m�s. Ele teve tamb�m de colocar piso na casa, pois o im�vel foi entregue com cer�mica apenas na cozinha. A l�mpada do pequeno corredor que d� acesso ao banheiro n�o funciona. “J� troquei v�rias vezes, sempre queima ou d� curto e eu acabei desistindo dela”, afirma o aposentado mostrando um fio dependurado no lugar onde deveria haver uma l�mpada.

A parte da frente de sua casa � de terra. A construtora entregou o im�vel apenas com uma passarela de cimento. “O que parecia um sonho para a gente acabou virando um pesadelo”, reclama o aposentado. Segundo ele, em uma das vezes em que procurou a construtora para reclamar foi alvo de chacota. “Um funcion�rio do qual n�o me lembro o nome disse que eu estava pagando uma mis�ria pela casa e ainda ficava reclamando. � muita humilha��o.” O argumento de que os im�veis foram muito baratos e que, se n�o fosse o empreendimento, muitos estariam morando de favor, na rua ou pagando aluguel � relatado com frequ�ncia como a principal desculpa usada pelas construtoras para os problemas nas casas.

O im�vel ao lado do de Heleno Campos tamb�m est� desnivelado. Para evitar risco para seus tr�s filhos pequenos, Leandro Silva, 34, desempregado, cercou o local com uma tela e no barranco do fundo plantou p�s de mandioca. Ele tamb�m j� teve de comprar seis caminh�es de terra para acertar o terreno, mas ainda n�o foi suficiente. Entre a sua moradia e a dos vizinhos do fundo n�o h� muro. O forro colocado no lugar da laje est� soltando e o piso continua no cimento.

Mofo

A dona de casa Iracilda Em�dio Lizardo, 76 anos, dorme na sala, pois os dois quartos da casa, que faz parte do conjunto, est�o mofados. Segundo ela, que se mudou para o local h� dois anos, quando chove a parede fica preta de mofo. Alguns interruptores n�o acendem e de vez em quando sai fogo das tomadas. Como se n�o bastassem os problemas de infraestrutura, ela conta que o carn� com a presta��o mensal de R$ 82 n�o tem chegado pelos Correios. “Sempre pago multa por causa disso.” Al�m da multa pelo atraso, ela tem de pagar R$ 2 pela segunda via do boleto. A n�o entrega do carn� pelos Correios � uma reclama��o feita por todos os moradores ouvidos pela reportagem.

Casa de Cecília Josina foi entregue sem parte do forro(foto: Cleiton Borges / Esp. EM/D.A Press)
Casa de Cec�lia Josina foi entregue sem parte do forro (foto: Cleiton Borges / Esp. EM/D.A Press)
A casa de dona Cec�lia Josina de Paula Costa, 47, que vive com o marido, cadeirante, a filha e uma neta ainda beb� no conjunto foi entregue sem portas. A da frente, a dos fundos e as do banheiros foram colocadas por ela com recursos pr�prios. Segundo ela, as casas foram invadidas antes da entrega oficial e o que foi levado pelos invasores n�o foi reposto. Os quartos continuam sem portas, em um deles o forro est� incompleto e no outro n�o tem luz. Tamb�m na sala, falta  parte do forro, deixando � mostra um emaranhado de fios, a caixa de luz n�o tem tampa, e uma das paredes est� rachada de fora a fora. O fundo tamb�m est� desnivelado.

O quintal da casa de Ang�lica Queiroz da Silva, 25 anos, � um barranco de cerca de quatro metros de altura. Para evitar risco para as duas filhas, Elo� e Kaira, ela teve de levantar um muro logo depois da cozinha. “Quando chove o esgoto volta todo e a casa fede inteirinha”, conta. Do lado de fora da resid�ncia, v�rios fios aparentes. “J� reclamamos mas a construtora fala que a gente tem de se conformar porque paga uma merreca”, afirma a dona de casa se referindo � presta��o de R$ 50 que a fam�lia paga pela casa no conjunto.

Inunda��o

No primeiro dia na casa nova no Shopping Park a resid�ncia da auxiliar de cozinha Francisca de Oliveira, 60 anos, foi inundada. � que a tubula��o n�o estava ligada ao sistema hidr�ulico, tinha conex�o apenas com a rede externa. Tempos depois a casa come�ou a pegar fogo. “Nossa sorte � que a gente estava em casa e assim que o fogo come�ou desligamos a chave da energia, que fica do lado de fora da casa.” Ela conta que depois disso trocou toda a fia��o. “O eletricista que mexeu disse que era tudo fio fino e ruim.”

A funcion�ria p�blica K�tia Silva, 31 anos, m�e de quatro filhos, disse que morre de medo de encontrar a casa queimada na volta do servi�o. Trabalhando na �nica escola municipal do bairro, ela diz que sempre d� um pulo em casa ou liga para os vizinhos para se certificar de que est� tudo em ordem. Uma das casas que pegaram fogo no conjunto fica nas proximidades da sua. O temor de inc�ndio � tanto que nas ruas do conjunto o que n�o falta s�o an�ncios de eletricistas colados em postes ou pregados no muro. Ela reclama da falta de privacidade. “As casas e os c�modos s�o separados um dos outros por uma parede incompleta. Se a gente tirar o forro e subir em um banco, a gente v� a casa do vizinho. Isso � p�ssimo. A gente n�o tem privacidade nenhuma.”


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