(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Pra�a Sete � o cora��o de BH e espa�o de protestos

Pra�a abriga quase todo dia manifesta��es, algumas barulhentas, outras silenciosas, como as mensagens de cartazes e adesivos contra tudo e contra todos


postado em 15/12/2013 07:00 / atualizado em 15/12/2013 07:58

No pequeno papel colocado no alto da parede de um prédio da praça, o recado que ganhou dimensão nacional: 'Ninguém manda no que a rua diz'(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
No pequeno papel colocado no alto da parede de um pr�dio da pra�a, o recado que ganhou dimens�o nacional: 'Ningu�m manda no que a rua diz' (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)

O cora��o de Belo Horizonte pulsa. E como! Todos os dias, milhares e milhares de pessoas passam pela Pra�a Sete, no Hipercentro da capital mineira. � raro o dia em que ela n�o abriga algum protesto barulhento ou manifesta��es as mais variadas, seja em um dos quarteir�es fechados ou no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas. S� na semana passada o local foi ocupado por trabalhadores da constru��o civil e policiais civis reivindicando melhores sal�rios, evang�licos pregando contra a programa��o da televis�o e militantes do Partido Comunista Revolucion�rio (PCR) criticando o leil�o do pr�-sal. Mas um outro protesto, silencioso e an�nimo, tamb�m faz parte do dia a dia do lugar.

Nos quatro cantos da pra�a, os postes e paredes se transformam, da noite para o dia, em palco de cr�ticas e amanhecem cobertos com cartazes e adesivos. Contra tudo e contra todos. Um verdadeiro muro de reclama��es. Nem mesmo a qualidade de uma determinada marca de bacon, p�ssima, segundo alerta um cartaz colado em um poste em frente ao Cine Theatro Brasil, escapa das cr�ticas. Do mesmo modo que surgem, desaparecem de um dia para outro retirados pela equipe de limpeza da prefeitura. Para em seguida reaparecer. S� os escritos ou desenhados � tinta permanecem.

A exce��o � um adesivo emblem�tico, que reflete bem o ativismo pol�tico social nos muros do cora��o da capital mineira. Colocado bem no alto de uma das paredes da pra�a, no quarteir�o fechado da Rua Rio de Janeiro, ele resiste �s investidas da turma da limpeza. Est� l� desde junho. “Ningu�m manda no que a rua diz”, avisa o texto, que j� virou um alerta nacional, A frase apareceu nas redes sociais durante os protestos que tomaram conta do Brasil e acabou ganhando as ruas de outras cidades. Adesivos iguais j� apareceram nos muros de S�o Paulo e Porto Velho.

Na semana passada, a mesma parede que abriga essa frase apareceu coberta com um enorme cartaz – � moda antiga, feito de cartolina e caneta hidrocor nas cores azul, verde e amarelo – pregando contra o voto obrigat�rio e defendendo o voto nulo. “Em 2014 fiquem atentos: o pol�tico n�o � seu amigo”, diz o texto. Um pouco mais longe, no mesmo espa�o, foi colada uma c�pia de uma not�cia sobre os recursos aplicados pelo governo federal na constru��o de est�dios para a Copa do Mundo, cheio de coment�rios �cidos sobre os gastos. Antes, a mesma parede abrigou protestos contra a viol�ncia praticada contra mulheres e um alerta impresso em letras garrafais em uma folha de papel of�cio: “A chapinha � nazista”.

TERRORISTA
No quarteir�o da Rua Carij�s, as placas com a identifica��o do endere�o oficial da pra�a foram trocados por outras onde se l� “Pra�a 8 de Mar�o, Dia Internacional da Mulher”. Nessa mesma quadra, uma imagem de Osama bin Laden, mentor do atentado �s Torres G�meas em 11 de setembro de 2001, capturado e morto pelos Estados Unidos em 2011, foi impressa em uma cabine telef�nica. Entre os frequentadores habituais do local ningu�m tem ideia de quem seja o autor.

Emiliano Zapata, l�der da Revolu��o Mexicana de 1910 e figura cultuada por partidos radicais de esquerda, tamb�m estampava at� h� poucos dias um poste da pra�a. Ele teve a companhia de outro revolucion�rio, o guerrilheiro Carlos Marighella, eleito deputado federal pelo PCB e que que chegou a ser considerado o inimigo n�mero 1 do regime militar. Fotos dele foram pregadas em diversos pontos da pra�a. “H� 44 anos morria Marighella. Sua mem�ria � combust�vel para nossa luta”, diz o texto da homenagem a ele. Dezenas de imagens diferentes de Che Guevara, um dos l�deres da Revolu��o Cubana, tamb�m inundaram a Pra�a Sete, em outubro, m�s em que ele foi assassinado, na Bol�via.

MIST�RIO
Mas o manifestante mais ass�duo de todos � uma inc�gnita. Todos que frequentam a pra�a conhecem seu ativismo – bastante conservador – mas n�o tem ideia de quem ele seja. Toda semana postes dos quatro quarteir�es fechados da pra�a s�o cobertos por not�cias comentadas. O autor tira c�pias de reportagens de jornais populares e, � m�o, escreve sua opini�es. Na maioria das vezes s�o assuntos que envolvem viol�ncia contra mulheres e crian�as e temas da pol�tica. Na semana passada o assunto mais comentado por ele foi a pris�o dos envolvidos com o mensal�o e a apreens�o do helic�ptero de uma empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD) com coca�na. Mas, �s vezes, ele usa o espa�o tamb�m para conselhos para ajudar a preservar o matrim�nio. E reclama quando seus “informes” s�o arrancados.

Mas ele n�o � o �nico a transformar postes em jornais. Uma pessoa que se identifica como Arthur Neves � o autor do boletim informativo batizado de O centen�rio, tamb�m colado na Pra�a Sete. Em uma de suas edi��es, ele criticava a demora da conclus�o das obras do BRT (novo modelo de transporte que est� sendo implantado pela Prefeitura de Belo Horizonte) no Centro, que, segundo ele, atrapalha comerciantes e pedestres.

DATA MARCADA
Algumas manifesta��es nos muros t�m data. Caso da foto de cinco cubanos detidos h� 13 anos pelos EUA acusados de conspira��o. Eles foram presos quando monitoravam em Miami cubano-americanos que fazem oposi��o ao regime de Fidel Castro. Uma campanha mundial pede a liberta��o de todos eles. Todo dia 5 de cada m�s Jos� Vieira e Telma Ara�jo, da Associa��o Cultural Jos� Mart�, colam em um muro imagens de todos eles e tamb�m manifestos pedindo a sua liberta��o imediata. “H� 18 meses venho aqui todo dia 5 colar esses cartazes” conta Jos� Vieira, que milita h� 40 anos no movimento social. Segundo ele, os cinco s�o “os �ltimos soldados da Guerra Fria”. “Gosto muito deste lugar. Tem um astral bom, um clima de liberdade e de luta”. E, segundo ele, � bastante democr�tico. Os postes e paredes que o digam.

Tradicional centro de ocupação, Praça tem destaque no coração de todos belorizontinos(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Tradicional centro de ocupa��o, Pra�a tem destaque no cora��o de todos belorizontinos (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)