Bras�lia – � margem das prioridades da agenda da presidente Dilma Rousseff, as rela��es exteriores brasileiras enfrentaram, em 2013, importantes impasses diplom�ticos. Entre a elei��o do embaixador brasileiro Roberto Azev�do para a dire��o-geral da Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC), as den�ncias de espionagem americana e a crise que culminou na retirada do ent�o ministro Antonio Patriota do comando do Itamaraty, analistas consultados pela reportagem descreveram os �ltimos 12 meses como pouco felizes para a Casa de Rio Branco. Sob nova dire��o desde agosto passado - quando o ministro Luiz Alberto Figueiredo foi nomeado para chefiar a pasta de Rela��es Exteriores –, o Itamaraty ter� no pr�ximo ano o desafio de recuperar espa�o no tabuleiro internacional.
O pr�prio epis�dio que levou � queda de Patriota – no qual o encarregado de neg�cios brasileiro Eduardo Saboia decidiu trazer ao Brasil o senador boliviano Roger Pinto Molina, sem conhecimento do Itamaraty – foi considerado o �pice da frouxid�o na chancelaria brasileira. “Isso evidenciou uma descoordena��o interna no Itamaraty e, sobretudo, uma falta de lideran�a do seu ministro”, observa Luiz Augusto de Castro Neves, ex-embaixador e presidente do Centro Brasileiro de Rela��es Internacionais (Cebri). A nomea��o de Figueiredo, que mal assumiu o posto e teve de encarar as den�ncias de espionagem norte-americana contra o Brasil, despertou esperan�as de maior firmeza na condu��o da diplomacia. “Ainda � cedo para avaliarmos, mas tudo indica que ele ter� mais lideran�a sobre a casa,e parece ter a admira��o da presidente, o que � um requisito essencial”, afirma Castro Neves.
O presidente do Cebri pondera que um dos desafios para os pr�ximos anos deve ser a amplia��o do com�rcio exterior. Ele observa que o Brasil � “muito falante” em organismos internacionais, mas carece de participa��o mais significativa nas transa��es bilaterais. “O Brasil � respons�vel por 1,3% do com�rcio mundial, o mesmo de 20 anos atr�s. N�o houve crescimento. O Mercosul contribuiu muito pouco para a integra��o comercial regional, al�m de estar cheio de problemas e de barreiras”, aponta. Spektor e Castro Neves sustentam que o trunfo da diplomacia brasileira foi a elei��o do embaixador Roberto Azev�do para a dire��o-geral da OMC. “A campanha foi profissional, contou com recursos e coes�o na Esplanada dos Minist�rios, houve engajamento e uma estrat�gia clara de comunica��o. � um modelo a ser estudado ereproduzido”, elogia o professor da FGV. Castro Neves, por�m, salienta que Azevedo passou a ser um funcion�rio internacional, deixando de representar os interesses brasileiros.
FALTA DE ESTRAT�GIA Para William Smith, professor de estudos internacionais e especialista em Brasil pela Universidade de Miami, a aus�ncia de uma estrat�gia clara do Itamaraty na busca pela lideran�a regional e em suas ambi��es s�o empecilhos para tornar o Brasil um ator global. Apesar de admitir o papel-chave do pa�s na coordena��o frente a desafios regionais, Smith avalia que as lideran�as brasileiras n�o t�m investido recursos pol�ticos, diplom�ticos e econ�micos para aproveitar o “v�cuo de poder parcial criado pela obsess�o norte-americana com a guerra global contra o terrorismo”. O estudioso explica que, se antes o objetivo era usar a lideran�a na Am�rica Latina como “plataforma de lan�amento” para o Brasil, hoje cresce a percep��o de que vizinhos latino-americanos limitam a capacidade do pa�s de se destacar na pol�tica internacional. Tal vis�o, segundo Smith, implicaria busca por uma rela��o mais madura com os EUA e uma aproxima��o com a Uni�o Europeia, “contrariando o Mercosul”. “O risco dessa mudan�a seria o Brasil ficar como um l�der sem seguidores”, analisa.
• Retrospectiva
Esc�ndalos e mudan�as
Principais acontecimentos no ano para a diplomacia brasileira:
» 21/2 - Os servidores do Itamaraty protestaram contra casos de ass�dio moral no �rg�o.
» 2/3 - A revela��o de que a c�pula da chancelaria brasileira recebia sal�rios maiores que o da presidente da Rep�blica e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ultrapassando, por vezes, o teto constitucional, provocou rea��o de pol�ticos e representantes da sociedade civil.
» 18/4 - Den�ncia do caso de que pelo menos 17 diplomatas recebiam altos sal�rios sem dar expediente.
» 7/5 - O diplomata brasileiro Roberto Azev�do � eleito para a dire��o-geral da Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC), tornando-se o primeiro latino-americano a comandar o �rg�o.
» 6/6 - O Itamaraty comemorou a soltura de torcedores do Corinthians presos na Bol�via sob suspeita da morte do jovem Kevin Espada, de 14 anos, durante um jogo pela Ta�a Libertadores.
» 7/7 - Edward Snowden revela documentos denunciando que a Ag�ncia de Seguran�a Nacional (NSA) dos EUA rastreou telefonemas e e-mails de cidad�os e de empresas baseados no Brasil. O ent�o representante dos EUA no Brasil Thomas Shannon foi convocado a prestar esclarecimentos ao Itamaraty.
» 7/8 - O Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) determinou o corte dos supersal�rios pagos pelo Itamaraty e o ajuste ao teto constitucional (R$ 28 mil) em um prazo de 60 dias.
» 23/8 - O ent�o encarregado de neg�cios do Brasil em La Paz Eduardo Saboia deixou a Bol�via na companhia do senador boliviano Roger Pinto Molina, opositor ao presidente Evo Morales e que ficou abrigado por cerca de 15 meses na representa��o brasileira no pa�s. A opera��o foi realizada sem que La Paz concedesse salvo-conduto a Molina e, supostamente, sem conhecimento do Itamaraty.
» 26/8 - O ent�o ministro das Rela��es Exteriores Antonio Patriota pediu demiss�o em decorr�ncia do caso envolvendo o senador boliviano.
» 28/8 - Luiz Alberto Figueiredo, representante brasileiro na ONU, assumiu o comando do Itamaraty.
» 1º/9 - Documentos vazados por Snowden mostraram que os principais assessores da presidente Dilma foram espionados pela NSA.
» 8/9 - Novas den�ncias indicaram que a Petrobras teria sido alvo do monitoramento.
» 17/9 - Dilma Rousseff anunciou o cancelamento da visita de Estado que faria aos Estados Unidos.
» 25/9 - A presidente condenou a espionagem norte-americana durante discurso na abertura da 68ª Assembleia Geral da ONU, e defendeu regula��o da internet.
» 10/10 - Dilma pediu ao Itamaraty que interviesse pela bi�loga brasileira Ana Paula Maciel, presa na R�ssia ap�s integrar protesto da organiza��o Greenpeace contra a explora��o de petr�leo no �rtico.
» 18/12 - A Assembleia Geral da ONU aprovou, por unanimidade, a proposta de Brasil e Alemanha que estende a sites da internet o direito � privacidade previsto na Declara��o Internacional dos Direitos.
» 20/12 - Brasil tem participa��o confirmada na confer�ncia de paz Genebra 2, marcada para 22 de janeiro, cujo objetivo ser� negociar o fim da guerra civil na S�ria.