Pela primeira vez em cinco anos de governo, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PMDB) n�o encarnou o papel de foli�o exultante no desfile do samb�dromo. Prestigiou as escolas de samba, desceu � pista, no recuo da bateria, brincou com integrantes de algumas alas, mas de forma discreta e sem nenhuma declara��o p�blica.
A cautela no primeiro Carnaval depois da onda de manifesta��es no pa�s, com mais intensidade no Rio de Janeiro, j� estava decidida, mas foi refor�ada pelo fato de que o prefeito enfrenta um dos momentos mais turbulentos de sua gest�o. Como se n�o bastasse o caos provocado pelas mudan�as no tr�nsito do centro duas semanas antes do feriado, a greve de garis, encerrada na noite de s�bado, 8, depois de uma semana, transformou a cidade em um mar de lixo e mau cheiro. Al�m disso, v�rios bairros sofrem com os transtornos das obras que t�m de ser conclu�das at� os Jogos Ol�mpicos de 2016.
"O prefeito pode se dar a esse luxo, porque tem o calend�rio a seu favor. Se fosse ano eleitoral para ele talvez n�o fizesse o que est� fazendo. Mas existe de fato uma sensa��o de que as coisas est�o fora do normal. J� no r�veillon ficaram evidentes as dificuldades de transporte, as filas enormes para os banheiros, problemas na seguran�a.
A demoli��o do viaduto da Perimetral � uma medida nada comum. Houve as mudan�as no tr�nsito, muitas obras simult�neas. N�o havia como prever a greve dos garis, mas houve um momento em que juntou tudo. Isso � c�clico. O prefeito pode se preparar para perder avalia��o positiva, mas, com o tempo, as coisas voltam ao normal", diz o cientista pol�tico Jairo Nicolau.
O pesquisador lembra o per�odo em que, entre 1995 e 1996, o ent�o prefeito Cesar Maia, hoje vereador do DEM e pr�-candidato a governador, transformou o Rio em um enorme canteiro de obras, como o programa Rio Cidade, deixando os cariocas � beira de um ataque de nervos. Conclu�das as interven��es e passado o caos, Maia elegeu seu sucessor, Luiz Paulo Conde, secret�rio desconhecido e um dos precursores da gera��o de "postes" na pol�tica.
Desgaste
Durante o Carnaval, Paes determinou a demiss�o de 300 grevistas, mas, na Quarta-Feira de Cinzas, anunciou que voltaria atr�s, por sugest�o da Defensoria P�blica. Para completar o desgate, um v�deo em que o Paes atira restos de fruta, durante um encontro pol�tico na zona oeste, foi divulgado na internet, na �ltima quinta-feira, 6. O prefeito - que h� seis meses implementou a Lei do Lixo Zero, com multas pesadas para quem sujar a cidade - aplicou a puni��o a si mesmo.
Entre a sexta-feira, 7, e o s�bado, 8, Paes resolveu reagir e voltou ao estilo combativo, que n�o deixa ataque sem reposta. Disse que a greve era "um motim", com motiva��o pol�tica e lembrou que um dos l�deres grevistas, C�lio Viana, � filiado ao oposicionista PR, partido do ex-governador Anthony Garotinho, pr�-candidato ao Pal�cio Guanabara. O movimento grevista entrou em conflito com o sindicato da categoria, que tem entre os dirigentes aliados de Paes, como o tesoureiro, Manoel Martins Meireles, do PTB.
Embora n�o fosse inicialmente o alvo principal dos protestos, centrados no governador S�rgio Cabral (PMDB), o prefeito aos poucos passou a ser criticado pelos manifestantes, por concentrar esfor�os nas obras para a Olimp�ada de 2016, apesar das car�ncias em sa�de e educa��o. Tamb�m para o pesquisador Marcus Figueiredo, a irrita��o da popula��o "� passageira", embora seja cedo para prever a intensidade das manifesta��es na Copa do Mundo. "No caso dos Jogos Ol�mpicos, quando as obras terminarem, o que se projeta � um resultado positivo. As manifesta��es tendem a perder for�a", diz Figueiredo.
Estresse
No dia 28 de fevereiro, uma reportagem do New York Times disse que Paes estava sob estresse intenso por ter de cuidar de dois grandes eventos - a Copa e a Olimp�ada - em t�o curto espa�o de tempo. A reportagem citou casos de acessos de raiva do prefeito, que teria jogado um cinzeiro e um grampeador em dois assessores e xingado uma vereadora de "vagabunda". Os fatos s�o antigos e foram revelados em reportagem da revista �poca em junho de 2013. Dois amigos de Paes e secret�rios municipais, Pedro Paulo e Alex Costa, contaram ter sido atingidos por objetos arremessados pelo prefeito, que n�o faria "por mal". A pessoa xingada foi ex-vereadora Andrea Gouvea Vieira, em 2006, antes de Paes se tornar prefeito, por causa de desaven�as no segundo turno da elei��o estadual, quando os dois eram do PSDB.
O jornal americano tamb�m lembrou o epis�dio em que, em maio de 2013, Eduardo Paes deu um soco em um eleitor que o hostilizou, em um restaurante japon�s. O prefeito faz o estilo de n�o levar desaforo para casa. J� ligou para um programa ao vivo da Globonews para contestar coment�rios sobre fiscaliza��o na via expressa Linha Amarela e mandou parar o carro oficial na regi�o central da cidade para responder a uma eleitora que o criticara.
"Ele tem essa caracter�sticas, que �s vezes atrapalha, gosta do confronto, da ret�rica, pode passar imagem de arrog�ncia. Mas o governador Cabral peca pelo outro lado, de muito bonach�o. Os pol�ticos volta e meia s�o testados nas emo��es", diz Jairo Nicolau. Voltado para a administra��o, Paes tem evitado entrar na briga entre o PMDB e o PT do Rio, mant�m a alian�a com os petistas e j� prometeu apoio � reelei��o da presidente Dilma Rousseff. "A Olimp�ada ser� um grande teste para o prefeito. Se der certo, ele sai com um capital pol�tico importante", afirma o cientista pol�tico.