Em poucos minutos, dezenas desfilam pelo palanque eletr�nico repetindo chav�es e pedindo o voto. Ser�o mais de mil filiados a uma das 32 legendas com registro formal na Justi�a Eleitoral, concorrendo nas elei��es de outubro a uma das 77 cadeiras na Assembleia Legislativa e uma das 53 da bancada federal mineira. Nas grandes e m�dias siglas, a �nica regra � que o discurso mais geral dos candidatos a deputado reforce o conceito da campanha ao governo de Minas e ao Pal�cio do Planalto. J� nos partidos pequenos vale tudo. Os “caciques” dominam o curto tempo e cada um fala o que quer. Dado o surpreendente desempenho nas �ltimas elei��es gerais do palha�o Tiririca, a “f�rmula” que refor�a um sentimento de desalento com a representa��o pol�tica poder� ressurgir com for�a.
Com um s� bord�o anunciado numa voz �spera, o m�dico cardiologista En�as Carneiro, fundador do Partido da Reedifica��o da Ordem Nacional (Prona) amealhou em 2002 a vota��o recorde em S�o Paulo para deputado federal de 1,57 milh�o de votos. Tudo em En�as – que faleceu em 2007 – era muito caracter�stico: em contraste com a careca lustrosa, a enorme barba preta. Grandes �culos de m�ope encobriam o rosto do candidato, que invariavelmente vestia um terno sempre dois n�meros maior do que o seu manequim. En�as, que na d�cada de 1990 concorreu duas vezes � Presid�ncia da Rep�blica, pregando o “estado nacional soberano”, a “ruptura com o modelo servil em que o Brasil fica de joelho no cen�rio internacional”, “contra a d�vida galopante” e em cr�tica �s privatiza��es, naquela campanha limitava-se a repetir, em protesto contra os segundos que dispunha na propaganda eleitoral: “Meu nome � En�as”. O tom indignado cativou.
Nas elei��es de 2010, foi a vez do palha�o Tiririca (PR-SP). Ele conquistou 1,3 milh�o de votos desqualificando a pol�tica e o Congresso Nacional: “Vote no Tiririca, pior do que t� n�o fica!”. Tripudiando em cima da representa��o pol�tica, ele disparava: “Para deputado federal, Tiririca. Vote no abestado”. Em seus poucos segundos, havia varia��es no enredo: “Adivinha quem est� falando? Duvido voc�s adivinhar! Sou eeeu, o Tiririiiica, candidato a deputado federaaaal, 2222, n�o esqueeeee�a, peguei voc�s, enganei voc�s, voc�s pensou que fosse outra pessooooa, sou eu, o abestaaaaado, vote 2222!”. O sucesso foi tanto que, at� no Sul de Minas, onde em v�rias cidades fronteiri�as era exibida a programa��o pol�tica de S�o Paulo, o “abestado” ganhou muitos votos. E quem levou a melhor foi o deputado federal Aelton Freitas (PR), que no estado era o dono do n�mero 2222.
Em Minas, nas elei��es de 2010, a frase que mais se repetiu na campanha televisiva dos candidatos a deputado estadual e federal foi: “Sou ficha limpa”. A nova legisla��o acabara de ser sancionada, mas ainda se discutia no Supremo Tribunal Federal (STF) se seria aplicada ou n�o naquele pleito. Apesar dos esfor�os individuais voltados para a telinha de “desconhecidos” que tentavam a sorte e sonhavam em “explodir” nas urnas, nenhum dos candidatos despontou com a for�a de um Tiririca.
O fato � que diferentemente da propaganda pol�tica para as campanhas ao governo, ao Senado e � Presid�ncia da Rep�blica, exce��o aos casos raros, a efic�cia do palanque eletr�nico para os candidatos a deputado estadual e federal � questionada: “Al�m de ser baixa a audi�ncia, ao longo de todo o processo da propaganda eleitoral gratuita o candidato entra no m�ximo umas cinco vezes por alguns segundos”, avalia o deputado federal Marcus Pestana, presidente estadual do PSDB.
PUXADORES DE VOTO Apesar da d�vida quanto � efic�cia do programa eleitoral para deputados, � intensa a disputa dentro dos partidos pol�ticos pela visibilidade dos “segundos da fama”. Os candidatos a deputado federal t�m 25 minutos �s ter�as, quintas e s�bados em cada um dos dois blocos. Os candidatos a deputado estadual t�m �s segundas, quartas e sextas-feiras, 17 minutos em cada um dos dois blocos. “Em regra, o PT distribui o tempo por igual entre os candidatos a deputado”, afirma o deputado federal Odair Cunha, presidente da legenda em Minas. Eventualmente, entretanto, “puxadores de voto” podem ter um tempo diferenciado, j� que os votos que carregam contribuem para conquistar mais cadeiras para o partido. “A dire��o partid�ria pode convencer os candidatos a apostarem, no programa, em um candidato forte. A outra op��o � dividir igualmente. Como temos a convic��o de que decide pouco, dividimos igualmente”, assinala Marcus Pestana.
J� no PMDB, os deputados estaduais e federais que disputam a reelei��o t�m mais tempo do hor�rio eleitoral do que aqueles que os debutantes. “Quem � deputado e quem est� na executiva do partido tem mais tempo”, afirma Saraiva Felipe, presidente do PMDB em Minas. “H� um conceito geral da campanha majorit�ria que � sugerido aos candidatos. Quem n�o quiser pode passar a mensagem que quiser em seu tempo”, afirma Saraiva, que sonha em ter em sua chapa um candidato com a espontaneidade do palha�o: “N�s nunca tivemos o privil�gio de ter um Tiririca. Se aparecer, colocamos na hora”.