Rio, 25 - O coronel da reserva Paulo Malh�es, que havia assumido ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, voltou atr�s nesta ter�a-feira nas declara��es ao prestar depoimento � Comiss�o Nacional da Verdade. Pressionado pelos integrantes da comiss�o, Malh�es confirmou ter torturado presos pol�ticos e ter "matado pouca gente". Ele se negou a fornecer nomes de presos assassinados durante a ditadura militar, de agentes da repress�o e a informar o n�mero de pessoas que passaram pela Casa da Morte, centro de tortura clandestino que funcionou em Petr�polis (RJ).
"Eu acho que foi um depoimento importante, esclarecedor. Ele acabou por reconhecer que � um torturador. Poucas vezes n�s tivemos a confiss�o de um torturador como ele fez, justificando que tinha que torturar um inimigo. Perguntei se ele teria o mesmo crit�rio para o crime comum, e ele assumiu que sim - para o roubo, para o tr�fico. E que n�o tinha nenhum remorso pela tortura e mortes praticadas", afirmou o ex-ministro da Justi�a Jos� Carlos Dias, integrante da CNV, que interrogou Malh�es.
Inicialmente, o coronel da reserva aceitou comparecer � audi�ncia, mas queria ser ouvido reservadamente. Por fim, aceitou falar com a presen�a da imprensa, desde que rep�rteres n�o fizessem pergunta. Ele chegou ao Arquivo Nacional �s 14 horas, e se locomoveu numa cadeira de rodas. Malh�es n�o se encontrou com a historiadora In�s Etienne Romeu, �nica sobrevivente da Casa da Morte, que participou da audi�ncia na parte da manh�.
Malh�es disse que foi mal interpretado nas entrevistas aos jornais
O Dia
e
O Globo
, quando falou "por meio de par�bolas". Ele disse que chegou a receber a miss�o de dar sumi�o no corpo de Rubens Paiva, mas foi deslocado para outra fun��o. "Eu s� disse que fui eu porque eu acho uma hist�ria muito triste quando a fam�lia diz que leva 38 anos querendo saber o paradeiro do corpo. N�o sou sentimental, n�o. (Falei) Para n�o come�ar uma guerra para saber onde estava o corpo".
Segundo ele, os restos mortais de Rubens Paiva eram "uma massa morta, enterrada e desenterrada". "N�o tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era realmente dele". O coronel negou que tivesse sofrido amea�as por conta das declara��es, mas afirmou que seus cinco filhos e oito netos sofreram "san��es" depois que suas declara��es foram publicadas.
Malh�es falou por 2 horas e 11 minutos. Ele minimizou o que era a Casa da Morte. Para o militar, o local era uma "casa de conveni�ncia, onde se procurava ganhar o preso para ele voltar como infiltrado na pr�pria organiza��o". "Conseguimos v�rios", disse, sem informar nomes. O coronel foi evasivo em v�rias respostas. Disse que a casa funcionou por quatro ou cinco anos e defendeu a tortura como meio de se obter informa��es de "elementos de grande periculosidade". "N�o diria que ele tenha sido corajoso. Foi um exibicionista, mostrando todo este lado m�rbido que est� presente no car�ter dele", afirmou Dias. "O caso Rubens Paiva est� esclarecido. Ele diz que n�o participou da miss�o, mas n�o importa, porque ele reconheceu que houve a miss�o".