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Estado de Minas

Militante de esquerda e general debatem a tomada pelo poder dos militares em 1964

O Estado de Minas colocou frente a frente um militante de esquerda e um general do Ex�rcito para debater dobre o per�odo de ditadura, a partir de 1964. Durante mais de duas horas, os debatedores deixaram claro o ponto de vista divergente em rela��o � hist�ria recente do Brasil, respeitando as vis�es distintas dos que estiveram em lados opostos.


postado em 30/03/2014 06:00 / atualizado em 30/03/2014 07:26

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Vald�sio Guilherme de Figueiredo - 26/6/1937

General de Ex�rcito. Assentou pra�a em 1953. Como tenente , serviu na 1º Regimento de Infantaria, onde permaneceu at� janeiro de 1964. Promovido ao posto de capit�o, em 1965, assumiu o 1º Regimento Sampaio, at� ser relacionado para cursar a Escola de Aperfei�oamento de Oficiais em 1968. Em 1970, foi designado instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). J� major, em 1974, foi designado para estagiar no Quartel-General da 4ª Regi�o Militar/4ª Divis�o de Ex�rcito, em Juiz de Fora e, mais tarde, em Belo Horizonte. Em maio de 2001, j� no posto de general, assumiu o Comando Militar da Amaz�nia, onde permaneceu at� 2002. Nomeado ministro do Superior Tribunal Militar at� a aposentadoria, em 2007.



(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Apolo Heringer Lisboa - 17/2/1943
Militante do movimento de resist�ncia Organiza��o Marxista-Leninista Pol�tica Oper�ria (Polop), graduado em medicina humana, em 1967, pela UFMG, temmestrado em medicina veterin�ria tamb�m pela UFMG (1993), na �rea de epidemiologia. � professor no Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em educa��o pela FAE/UFMG, com a tese “Projeto Manuelz�o: uma estrat�gia de transforma��o da mentalidade social”. Idealizador e fundador do Projeto Manuelz�o, que mobiliza a sociedade para a recupera��o hidro-ambiental do Rio das Velhas. � especialista em pneumologia sanit�ria e epidemiologia em cursos na Fran�a e na B�lgica.

- Revolu��o ou golpe

General: Digo nem uma coisa nem outra. Revolu��o tem muito tiro e muita morte, parece uma coisa mais s�ria. Chamo de rea��o democr�tica. Nem golpe, nem revolu��o. Porque o presidente fugiu, ent�o o presidente da C�mara assumiu.   O que houve foi uma guerra revolucion�ria em termos militares.

Apolo: Considero que o nome apropriado � golpe militar. Porque o pa�s tinha uma Constitui��o. As For�as Armadas t�m que zelar pela Constitui��o, para manter o calend�rio eleitoral. Mas ela tomou partido da UDN e criou-se uma frente pela ilegalidade, para derrubar o presidente eleito, precipitando o pa�s em uma aventura. Ent�o, acho melhor golpe militar. Revolu��o envolve a participa��o ativa de classes sociais. No caso, havia condi��es pr�-revolucion�rias, posso at� aceitar isso. Mas quer�amos conduzir tudo de forma democr�tica. Para se ter uma ideia, o partido de Jo�o Goulart, o PTB, que era o mesmo partido criado pelo Get�lio, tinha maioria no Congresso. Ent�o, setores que temiam perder privil�gios sociais, que vinham desde o per�odo colonial, perceberam que por meio de elei��es n�o chegariam l� (no poder). Apelaram, ent�o, para os militares

General: J� se institucionalizou a chamar de golpe. Mas acho injusto e n�o concordo em chamar de golpe militar, porque foi muito mais civil do que militar. Os militares foram um instrumento. Foi tudo programado pelo governador de Minas. Minas Gerais foi a vanguarda deste movimento. A Constitui��o diz que o Ex�rcito deve zelar pela defesa da p�tria e garantiar os poderes constitu�dos, da lei e da ordem. Mas na �poca de 1964 n�o se tinha lei e ordem.

Apolo: Os civis n�o teriam condi��es de derrubar o presidente da Rep�blica. Ent�o, as For�as Armadas agiram e instrumentalizaram para socorrer grupos civis antidemocr�ticos, que n�o queriam esperar as elei��es porque sabiam que iam perder.

- Os dias 31 de mar�o e
1º de abril.


Apolo: No dia 31 de mar�o, ningu�m sabia o que estava acontecendo. S� quando amanheceu dia 1º de abril, que ficamos sabendo que houve o golpe. Eu era l�der estudantil na Faculdade de Medicina e vice-presidente do diret�rio acad�mico (DA). Ent�o, quando houve o golpe o presidente caiu fora e, naquele mesmo dia, eu assumi a presid�ncia do DA. Nas ruas, v�amos muitos grupos se formando, o Ex�rcito invadiu a Faculdade de Medicina. Lembro-me de que a CGT declarou greve geral dos trabalhadores. As r�dios transmitiam sem parar e a gente ficou at�nito, sem saber o que fazer. N�o t�nhamos experi�ncia de resist�ncia a golpe militar. Nesse dia, a sensa��o era de que tudo estava caindo, um terremoto pol�tico, com fechamento de diret�rios, invas�o de f�bricas e sindicatos, muita not�cias desencontradas. Tenho uma impress�o muito ruim desse dia e n�o quero nunca mais que isso aconte�a no Brasil.

General: Eu era segundo-tenente, estava chegando de Clevel�ndia do Norte (Amap�), onde fui servir. De maneira que l� n�o tinha energia el�trica e s� tinha r�dio a pilha que funcionava de noite. S� pegava uma r�dio, Alb�nia, n�o pegava r�dios brasileiras. N�o acompanhamos a ren�ncia. Ficamos de prontid�o. Foi um movimento muito bem planejado, porque j� em 1963 ocorriam reuni�es e palestras de alguns setores e autoridades. Fui nomeado instrutor militar da Academia Militar das Agulhas Negras em fevereiro de 1964. Quando houve o movimento, estava na academia militar, como instrutor. Neste dia estava treinando a equipe de tiro do meu curso de infantaria. Foi uma coisa t�o natural. Quando soube, os cadetes j� estavam em forma na ala, de capacete e mochila. Sabia o que tinha de fazer, ent�o assumi o comando dos cadetes. No dia seguinte entramos em posi��o e ficamos controlando a Via Dutra. Essa foi minha participa��o. Foi uma experi�ncia at� certo ponto desagrad�vel, porque passamos alguns dias dormindo em po�as d’�gua. Mas,voltamos glorificados pela popula��o, como aconteceu tamb�m aqui em Minas.
Apolo: Foi meio folcl�rico esse primeiro dia. Se o general Amaury Kruel, do 2º Ex�rcito, tivesse tomado uma atitude diferente, tudo poderia ter um outro desfecho. Sempre tive a vis�o de que as For�as Armadas refletem o povo brasileiro. Por isso � importante a democracia, para n�o permitir que s� uma opini�o prevale�a no pa�s. Temos que conviver com as diferen�as.

General: Na realidade, o anticomunismo nas For�as Armadas n�o surgiu em 64. Ele j� vem desde 1935, quando houve a Intentona Comunista. Houve uma avers�o � doutrina comunista. O Ex�rcito nunca me ensinou a ser democrata, me ensinou a ser anticomunista. Por que n�o me ensinou a ser democrata? � uma institui��o baseada na hierarquia e disciplina, n�o pode ser muito democrata. Uma das coisas que mais incomodou as For�as Armadas no pr�-movimento de 64 foi a promiscuidade, foi aquele neg�cio, me desculpe os termos, mas tinha gente pulando carnaval segurando almirante pela bunda. Ent�o uma coisa que n�o cabe na cabe�a da gente. Uma promiscuidade com o presidente da Rep�blica vivendo dentro de quartel. A gente at� lavava a m�o depois, porque tinha que cumpriment�-lo. Pra�as colocavam bilhetinho dentro do bolso dele. E o cunhado dele (Leonel Brizola), l� de Porto Alegre (RS), mandando sargento matar oficial.

Apolo: O esp�rito anticomunista dentro das For�as Armadas predominou a partir de 1935. Foi um erro muito grande da Intentona Comunista e dos partidos comunistas se alinharem com a Uni�o Sovi�tica. Foi um erro pol�tico, uma tentativa de golpe dentro das For�as Armadas. Aquilo permitiu que todos no pa�s se colocassem contra os comunistas.

- Outro caminho

General: O maior inimigo do comunismo no Brasil foi Luiz Carlos Prestes. Porque ele fez tanta bobagem e criou uma rebeldia contra a doutrina. A sociedade brasileira, na �poca, era muito mais cat�lica do que � hoje. Ent�o, n�o combinava. De maneira que n�o vejo que a sociedade brasileira quisesse a revolu��o. O brasileiro � muito do samba, do carnaval, expansivo. E n�o combina o estilo europeu aqui dentro do Brasil. A verdade � que o Jo�o Goulart n�o mandava nada e quem mandava era o cunhado dele (Leonel Brizola) e o cunhado dele era perigoso. Ele com certeza passaria o cunhado para tr�s. Se n�o ocorresse a rea��o, fatalmente isso aconteceria.

Apolo: O general tem toda raz�o em dizer que o povo brasileiro n�o estava a favor do comunismo. O que o povo brasileiro estava querendo era comer, escola, atendimento m�dico. O povo brasileiro queria viver como gente, ser respeitado. A principal proposta de governo, do Celso Furtado e Thiago Dantas, era reformista, para aumentar o mercado interno, expandir. E, se fiz�ssemos a inclus�o social, aumentando o mercado interno, a ind�stria brasileira tinha como crescer muito, de forma independente. J� t�nhamos a ind�stria do a�o e a Consolida��o das Leis do Trabalho (CLT), criadas por Get�lio Vargas. J� t�nhamos a Petrobras. Ou seja, t�nhamos o a�o, o petr�leo, estradas constru�das por Juscelino, e energia. O Brasil neste momento poderia dar um salto grande desenvolvendo o mercado interno. E para isso tinha que fazer as reformas para o povo ter dinheiro para comprar. O Jo�o Goulart n�o prop�s o comunismo. Ele era um propriet�rio de terras, um burgu�s. O Brizola tamb�m n�o era comunista. Depois da revolu��o cubana e dentro da Guerra Fria, qualquer movimento que havia era considerado comunista, porque os Estados Unidos, tiveram medo de acontecer no Brasil o que aconteceu em Cuba. Ent�o, tudo que era luta social aparecia como sendo comunismo.

General: � um tanto mitol�gico essa defini��o de quem � comunista. S� � comunista quem n�o tem dinheiro no bolso e se tem dinheiro no bolso n�o � mais comunista. Agora, o despreparo e a fraca personalidade do ent�o presidente e a ascend�ncia do cunhado (Leonel Brizola) sobre ele � o que o derrubou. O ministro da Guerra (Jair Dantas Ribeiro) andava ao lado dele fardado e at� ia a com�cio com a farda. Ele exonerou o ministro da Marinha (almirante S�lvio Mota) porque puniu os marinheiro amotinados. Ou seja, ele se juntou � parte mais fraca das For�as Armadas. Ele n�o queria saber da oficialidade porque tinha o ministro da Guerra e alguns outros e achou que estava protegido. Mas se esqueceu de que as for�as pol�ticas s�o for�as.  O governador de Minas (Magalh�es Pinto) era muito poderoso. Era uma raposa esperta. O Rio de Janeiro tinha um governador bom(Carlos Lacerda/UDN)  e S�o Paulo tinha um governador do "rouba mas faz" (Ademar de Barros/PRP), mas era querido e respeitado pelos paulistas. De maneira que ele n�o aglutinou esses pol�ticos.

- Guerra civil

General: Ele (Jo�o Goulart) n�o fugiu para evitar a guerra civil. Ele fugiu para n�o ser preso porque o Carlos Lacerda j� tinha colocado as For�as do Rio de Janeiro para prend�-lo. N�o foram as For�as Armadas que queriam prend�-lo. Quem queria prend�-lo era o governador do Rio e usou at� caminh�o de lixo como carro de combate.

Apolo: A diferen�a naquele momento entre o Jo�o Goulart e o Brizola, � que o Brizola queria a rea��o, como ele fez em 1961, na campanha da legalidade. Nela, o Brizola teve apoio do general Machado Lopes e do comandante do 3º Ex�rcito. Ele era governador do Rio Grande de Sul e, atrav�s da R�dio Gua�ba, conseguiu mobilizar nacionalmente e o Ex�rcito rachou. E n�o teve o golpe. Com a ren�ncia do J�nio, os militares tentavam dar o golpe desde a posse de Juscelino, com o Movimento de Aragar�as. Mas, neste caso, o marachal Lott (Henrique Teixeira Lott) , ministro da Guerra de JK, reagiu e permitiu que JK tomasse posse. Depois, os militares voltaram quando J�nio renunciou e tamb�m n�o conseguiram, por causa da resist�ncia do Brizola. Em 64, o Brizola j� tinha criado o Grupo dos Onze (G-11), mas a situa��o tinha mudado um pouco. Havia um desgaste maior do governo do Jo�o Goulart por causa de toda a campanha da m�dia e movimentos cat�licos contra ele. Mas, por meio de elei��o, Jo�o Goulart ganhava com a maioria do PTB. Ent�o, nesse momento, acho que a maioria do povo estava disposta a lutar para n�o deixar derrubar o presidente ou pelo menos manter a democracia.

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


- O AI-5

General: Vamos come�ar pelos black blocks. O Estado n�o tem que dar uma resposta? A esse vandalismo, ao desrespeito � propriedade privada? Ent�o, o estado tem que dar resposta. Quando estourou a bomba no aeroporto dos Guararapes, Recife (PE), ningu�m foi discriminado. Foi rep�rter morto, almirante morto, ent�o, isso tinha que ter uma resposta. Eu n�o gosto na palavra ditadura, que, de fato, ocorreu entre de 1937 a 1945 (Estado Novo). Em 1964, houve presidentes eleitos, senadores bi�nicos, Justi�a funcionando, Congresso funcionando, portanto, n�o vejo que seja ditadura. Mas o estado d� resposta com o AI-5. N�o sei se o AI-5 foi a resposta ideal, mas foi uma resposta.

Apolo: O golpe militar � que justificou e legitimou a resist�ncia armada. Eu, por exemplo, me considero hoje pacifista. Temos que resolver os problemas de forma democr�tica. E considero que se n�o tivesse havido o golpe de 64 n�o teria havido, em consequ�ncia, toda a guerrilha e o AI-5. Acho que os militares prestariam um grande servi�o ao pa�s se admitissem que o golpe militar foi um golpe pol�tico. Os militares s�o despreparados para fazer pol�tica e ent�o a UDN enrolou e os envolveu. Ela podia a ter feito uma articula��o pol�tica com os demais partidos para respeitar a Constitui��o, o calend�rio eleitoral e evitar o golpe. Mas quando a UDN foi �s portas dos quart�is junto com umas beatas, pedindo aos militares para intervir, n�o estavam representando o povo brasileiro, que decidem por elei��o. Quando voc� cria uma guerra interna, d� um golpe, voc� destr�i as leis da conviv�ncia democr�tica. Foram necess�rios 25 anos, uma nova Constituinte, para colocar o Brasil dentro de uma situa��o de legalidade.

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- Tortura


General: A tortura n�o � uma rea��o institucional. N�o tem nenhuma diretriz, em nenhum documento, a ordem de torturar. Vejo a tortura como um despreparo de alguns dos encarregados, durante os interrogat�rios. N�o tinham habilidade, ou melhor, preparo mesmo para realizar isso. Deviam ter deixado na m�o da pol�cia, porque ‘papagaio come milho, periquito leva a fama’. Tamb�m houve gente dentro das For�as Armadas que praticou tortura. N�o s� dentro das For�as Armadas, mas principalmente fora das For�as Armadas. Ela n�o � institucional, � epis�dica. Agora, era uma tortura f�sica com aquela pessoa. Tortura pior n�o foi aquela do terrorismo indiscriminado? O medo tortura uma quantidade maior.

Apolo: A tortura no Brasil come�ou, realmente, n�o de forma institucionalizada. Castelo Branco eraum homem culto. Ele pretendia convocar elei��es. Houve torturas no governo dele tamb�m. Mas, sobretudo, a partir do AI-5, a tortura no Brasil foi institucionalizada at� por certos presidentes. O general M�dici era uma pessoa com convic��es facistas. No seu governo, durante a Opera��o Oban (Opera��o Bandeirantes) – no Quartel de Mesquita, no Rio de Janeiro, a tortura era institucionalidade, com o conhecimento de generais comandantes e presidentes da Rep�blica. A Igreja Cat�lica denunciou isso no mundo inteiro. O Pacuri (militante da Polop, Eduardo Collen Leite) foi cegado, teve a perna cortada com serrote, castrado, com ele ainda vivo. A tortura estava t�o generalizada que o pr�prio general Geisel, no final, demitiu o general S�lvio Frota (ministro do Ex�rcito), em raz�o da falta de pulso dele em controlar a Oban.

General: Um comandante militar, praticamente, exerce um comando pol�tico. Um general de quatro estrelas n�o conhece tudo. N�o � preciso torturar para exercer o comando. Soldado d� um passo errado, basta dar um chutezinho na sola do p� e ele trope�a e acerta o passo. Nem isso eu n�o permitia. N�o pode botar a m�o no soldado. Se os comandantes soubessem das torturas e maus tratos, com certeza, iriam reprimir.

Apolo: A repress�o no Araguaia cortou a cabe�a de v�rios prisioneiros. Inclusive do Osvald�o (Orlando da Costa, militante do PcdoB), que � mineiro. O Ex�rcito tinha obriga��o de reprimir a guerrilha, mas de prender e a� levar para a Justi�a Militar ou para a Justi�a civil. Mas o Ex�rcito brasileiro n�o tem autoridade para decaptar prisioneiro.

General: N�o foram os militares n�o. N�o foi o Ex�rcito brasileiro que decapitou no Araguaia. Aqui foi comando dos guias, apesar de os guias trabalharem para as For�as Armadas para guiar na selva.

- A radicaliza��o

Apolo: A radicaliza��o dos militares primeiro aconteceu em 64 para dar o golpe. Os militares podiam n�o ter optado por isso. Depois, com o Ato Institucional 5 e, sobretudo, na �poca do governo M�dici, no qual predominou a linha dura. Havia no Brasil, entre os militares, os duros e os da ‘sorbone’, vamos dizer assim. Havia um grupo tipo Castelo, Geisel, e tinha o grupo dos duros. Um grupo n�o dominava o outro, por isso tivemos Figueiredo, Costa e Silva, porque tinha que chegar a um equil�brio. Depois do sequestro do embaixador americano, que foi uma resposta justa da guerrilha brasileira para libertar as pessoas que estavam sendo torturas e estupradas na pris�o do Ex�rcito. A partir da� houve uma maior radicaliza��o. Corremos s�rios riscos de ter uma trag�dia ainda maior.

General: O problema do ex�lio na minha �tica � que todo ex�lio foi por op��o e nem todo ex�lio foi prejudicial �s pessoas. Alguns estudaram e aperfei�oaram l� fora, se beneficiaram disso. Ex�lio foi por troca de sequestrados ou foi porque quis sair. Mandado ningu�m foi.

Apolo: Eu, por exemplo, general, era procurado com cartazes de terrorista e todos que sa�am da pris�o diziam: ‘Olha, eles est�o atr�s de voc� e se te pegarem, te matam.’ Ent�o, eu sa� do Brasil, em 1973, para sobreviver.

- Comiss�o da Verdade?

Apolo: Em rela��o � Comiss�o da Verdade, sou a favor de uma comiss�o hist�ria da verdade. Temos que pegar a hist�ria do Brasil, desde que os portugueses chegaram aqui trazendo a Igreja debaixo do bra�o, come�ando a desrespeitar a cultura dos �ndios, matando e n�o respeitando os direitos dos povos ind�genas. Mais tarde, os portugueses trazendo os escravos pra c� com as ben��os da Igreja, que batizava os caras na �frica com ferro quente. Mas, em rela��o ao golpe de 64, devemos fazer essa revis�o hist�rica, mas temos que ter uma refer�ncia. A refer�ncia � quanto a gente ajudou ou deixou de ajudar a constru��o democr�tica no Brasil. Se � de direita ou de esquerda, e se agiu de um modo a desrespeitar a democracia, a vontade do povo, e partiu para o uso de viol�ncia. A comiss�o hist�ria da verdade tem que ir al�m de um mandato presidencial, que vai al�m de um partido, que passe a limpo a hist�ria do Brasil.,

General: A hist�ria n�o deve ser revista, mas contados os fatos como ocorridos para o futuro das novas gera��es. A hist�ria n�o pode ser inventada para sustentar ou justificar atos de governo ou como estrat�gia de forma��o de pensamentos de novas gera��es. N�o h� necessidade de rever nada. Basta recorrer aos arquivos do Superior Tribunal Militar, pois todos os inqu�ritos instaurados nos governos c�vico-militares l� est�o, com as vers�es permitidas pelo contradit�rio, sem meias palavras.  O que n�o deve ocorrer � a busca da hist�ria onde n�o seja obrigat�ria a manuten��o de prova dos fatos hist�ricos ocorridos. N�o h� necessidade de revis�o da hist�ria, pois a maioria das realiza��es c�vica militares, est� a� sustentando essa na��o como mobilidade, energia el�trica, e proporcionando trabalho.

- Legado de 64

Apolo: De tudo, por pior que seja, voc� pode sempre aprender alguma coisa. O golpe militar de 64 ensina a valorizar o sistema democr�tico, a valorizar a liberdade, a construir um pa�s sem pris�es arbitr�rias, uma pa�s onde se combate a corrup��o, que est� corroendo a democracia. Combater a mentira na pol�tica, a combater a esculhamba��o total dos sistemas judici�rio e penal, os altos impostos.  

General: Tivemos a felicidade de ter como o primeiro condutor da na��o, Castelo Branco, um homem respeitado, s�rio, nobre. Ele era preocupado com infraestrutura e se voltou para o desenvolvimento desse setor. O que seria de n�s hoje se n�o houvesse energia el�trica, ainda remanescente daquela �poca? As estradas, Juscelino fez. O sistema de telecomunica��es da Amaz�nia confi�vel foi feito no per�odo do governo c�vico-militar. Basicamente, a infraestrutura foi a heran�a que o movimento deixou. O que me conforta � que temos 50% de credibilidade junto � sociedade brasileira.

 


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