S�o Paulo, 31 - Cerca de mil pessoas se reuniram na manh� desta segunda-feira diante do pr�dio que abrigou, nos anos da ditadura, a sede do Destacamento de Opera��es de Informa��es - Centro de Opera��es de Defesa Interna (DOI-CODI), do 2� Ex�rcito, em S�o Paulo. Durante quase tr�s horas, lembraram os 50 anos do golpe que dep�s o presidente Jo�o Goulart, homenagearam as pessoas torturadas e mortas naquele local e pediram a revis�o da Lei da Anistia, que hoje impede a puni��o de agentes policiais e militares que cometeram viola��es de direitos humanos.
Em um dos momentos da homenagem, cantaram o hino da Internacional Socialista para lembrar os comunistas assassinados pelos militares e marcar, de forma simb�lica, a reocupa��o do espa�o no qual funcionou um dos principais centros de repress�o pol�tica do Pa�s.
O DOI-CODI funcionava no n�mero 921 da Rua Tut�ia, nos fundos do atual 36.� Distrito Policial de S�o Paulo, no Para�so. Segundo informa��es da Comiss�o Estadual da Verdade Rubens Paiva, cerca de oito mil pessoas teriam passado por ali entre 1969 e 1978, sofrendo algum tipo de tortura. Desse total, cerca de cinquenta foram assassinadas.
Entre os mortos figuram o estudante Alexandre Vannuchi Leme (1973), que hoje d� nome ao Diret�rio Central dos Estudantes da Universidade de S�o Paulo (DCE-USP), e o jornalista Vladimir Herzog (1975). Nos dois casos os agentes policiais e militares tentaram acobertar os crimes, como acontecia comumente naquele local. Divulgaram a vers�o de que Herzog, que militava no Partido Comunista, havia se enforcado; e que Leme, da A��o Libertadora Nacional, fora atropelado numa tentativa de fuga.
Na cerim�nia desta segunda, sob um toldo negro instalado no p�tio que fica nos fundos do distrito policial, foram lidos os nomes dos mortos e desaparecidos. A cada um os presentes respondiam 'presente', ao mesmo tempo que erguiam cartazes com as fotos deles. Grupos de teatro e de dan�a apresentaram obras que retrataram sobretudo o sofrimento do torturados. Tamb�m foi apresentada uma lista com os nomes dos militares que, segundo ex-presos pol�ticos, teriam praticado torturas. A cada um deles os participantes respondiam com o grito de 'assassino'.
O deputado Adriano Diogo (PT), presidente da Comiss�o Estadual e um dos principais organizadores do evento, esteve preso e foi torturado naquele local durante noventa dias, no ano de 1973. Ele disse que h� tr�s noites n�o conseguia dormir direito, porque a volta ao pr�dio da Rua Tut�ia lhe causa problemas emocionais at� hoje, embora j� tenham decorrido 41 anos. "Quando cheguei aqui e tiraram meu capuz, vi que estavam lavando o ch�o de uma cela, sujo de sangue. O militar que me recebeu disse que era o sangue do meu colega de escola Alexandre Vannuchi. 'Acabei de matar o Minhoca', ele disse, referindo-se ao apelido dele. 'E vou matar voc� tamb�m'".
Relatos semelhantes eram ouvidos por toda parte entre os ex-presos que compareceram ao evento. Anivaldo Padilha, pai do ex-ministro da Sa�de Alexandre Padilha, chorou demoradamente ao relatar a sua passagem por aquele local em 1970. "At� agora eu tinha evitado voltar aqui", contou. "� a primeira vez. Estou muito emocionado."
O ato desta segunda tamb�m teve como objetivo aumentar o movimento de press�o para que o governador Geraldo Alckmin retire a delegacia do local. O edif�cio j� foi tombado, no in�cio deste ano, pelo Departamento do Patrim�nio Hist�rico. Agora, por�m, organiza��es de ex-presos e defensores de direitos humanos querem agora transform�-lo num memorial dos anos da ditadura. "Hoje n�o � dia de criar atritos com o governo do Estado. Mas acho que o governador j� deveria ter atentado para a import�ncia deste local. V�rias pessoas do seu governo tamb�m passaram por aqui como presos", disse o deputado Adriano Diogo.