S�o Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebateu nesta ter�a-feira, 15, seu sucessor, Luiz In�cio Lula da Silva (PT), que, segundo o tucano, tenta atingir sua "honra" com acusa��es de que houve corrup��o "escondida" no governo do PSDB. No texto, publicado no portal Observador Pol�tico, FHC explica casos como o da emenda que aprovou a reelei��o e a cria��o do Sistema de Vigil�ncia da Amaz�nia (Sivam) antes de dirigir sua aten��o ao petista.
No texto, Fernando Henrique conta que conversou com Lula sobre o mensal�o durante viagem � �frica do Sul, em dezembro de 2013, quando o tucano teria proposto que se virasse a p�gina, uma vez que o caso j� havia sido julgado. Ele acusa Lula de tentativa de "cilada" ao "continuar distorcendo fatos para dizer que todos fizeram algo parecido".
Em seguida, FHC prop�e ao advers�rio uma uni�o contra "o que de malfeito h� na vida pol�tica brasileira". "Por que n�o nos juntamos para corrigir o que de malfeito h� na vida pol�tica brasileira, em vez de jogar pedras uns nos outros? O Brasil se cansou de ataques infundados. O pa�s percebe que seu futuro depende de decis�es honestas e corajosas, entre as quais a de evitar que o debate eleitoral se restrinja a baixarias e falsas acusa��es". Al�m do texto, cuja �ntegra segue abaixo, FHC publicou trechos de seu livro sobre alguns dos casos citados por Lula.
Segue o texto de Fernando Henrique Cardoso:
"Lula insiste em dizer que houve corrup��o "escondida" no meu governo. Cita comumente dois epis�dios em sua assertiva: o caso SIVAM e a compra de votos na aprova��o da emenda da reelei��o, assuntos ocorridos h� quase duas d�cadas, e que foram esmiu�ados e devidamente esclarecidos na �poca. Eis o resumo deles:
a)O Sistema de Vigil�ncia da Amaz�nia (SIVAM) foi aprovado durante o governo Itamar Franco, em 1993, atrav�s do Conselho de Defesa Nacional. Desse Conselho, ent�o Ministro da Fazenda, eu n�o participava. Em 1994, o governo contratou a empresa norte-americana Raytheon para execut�-lo. Em 1995, j� no meu governo, grava��es de conversas telef�nicas, previamente autorizadas pela Justi�a, mostravam o suposto envolvimento de um assessor presidencial efetuando tr�fico de influ�ncia na implanta��o do SIVAM. Trazido � tona pela Revista Isto �, o caso se tornou not�rio, causando crise pol�tica. Injuriado, o Ministro da Aeron�utica pediu demiss�o. A investiga��o do caso foi exaustiva no Executivo, atrav�s de Comiss�o de Sindic�ncia interna da Presid�ncia, Comiss�o de Inqu�rito do Itamaraty e Procuradoria Geral da Rep�blica. Sindic�ncia da Pol�cia Federal n�o comprovou a suspeita inicial. O TCU instaurou 16 procedimentos, incluindo 6 auditorias, tendo em dezembro de 1996 considerados "regulares os procedimentos adotados pelo Minist�rio da Aeron�utica". No Senado, relat�rio de avalia��o, finalizado em fevereiro de 1996, n�o apontou irregularidades. Na C�mara dos Deputados, uma CPI se completou sem comprovar nada ligado � corrup��o. Os detalhes dessa hist�ria foram por mim relatados em meu livro "A Arte da Pol�tica (A hist�ria que vivi)", nas p�ginas 270 a 276. (ver abaixo)
b)A Emenda Constitucional nº 16, que permite a reelei��o dos chefes de Executivo no Brasil, foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1997. Na C�mara dos Deputados, o primeiro escrut�nio se realizou em 28 de janeiro de 1997, mostrando 336 votos a favor, 17 contra, com 6 absten��es; no segundo turno, o resultado foi de 369 a favor, 111 contra, com 5 absten��es. O quorum m�nimo para aprova��o de PEC, de tr�s quintos, exige 308 votos. Era larga, portanto, a margem de aprova��o. Em 13 de maio, antes da vota��o no Senado, o jornal Folha de S Paulo publicou trechos de grava��es indicando que cinco deputados federais do Acre - Ronivon Santiago, Jo�o Maia, Zila Bezerra, Osmir Lima e Chic�o Br�gido - teriam recebido R$ 200 mil cada um para votar a favor da reelei��o. Nenhum era do PSDB. Um misterioso "Senhor X", que mais tarde se soube ser o ex-deputado acreano Narciso Mendes, teria gravado as fitas. A mat�ria diz que um dos deputados se referiu ao Ministro das Comunica��es, Sergio Motta e aos governadores do Acre e do Amazonas (pois a reelei��o caberia tamb�m para governadores e prefeitos). O Congresso abriu sindic�ncia para apurar os fatos. Em 21 de maio os deputados Ronivon Santiago e Jo�o Maia renunciaram aos seus mandatos. A CCJ abriu processo por quebra de decoro parlamentar contra os demais deputados, n�o encontrando, por�m, provas para encaminhar a cassa��o. Nenhum outro deputado sofreu processo investigat�rio. N�o houve acusa��o formal ao Ministro S�rgio Mota que, mesmo assim, espontaneamente foi depor na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a da C�mara. Ningu�m mais do governo precisou se manifestar. Em meu livro, j� citado, esmi��o essa hist�ria entre as p�ginas 284 a 305. (ver abaixo)
Falando � imprensa no �ltimo dia 02 de julho, Lula avan�ou suas declara��es habituais, arrolando outros dois casos para atingir minha honra. O primeiro deles � insignificante: trata-se da revoga��o, feita por mim, de um Decreto que institu�ra uma inoperante comiss�o de fiscaliza��o p�blica. Em seu lugar, criamos o Conselho de �tica, que at� hoje funciona. Ou seja, meu governo aperfei�oou o controle da conduta dos funcion�rios p�blicos.
O segundo, mais evidenciado, se referia � "pasta rosa", uma lista de supostas doa��es de campanha efetuadas pelo Banco Econ�mico, referente �s elei��es ocorridas em 1990. O documento foi encontrado ap�s a interven��o federal no Banco, em agosto de 1995, e continha o nome de 49 pol�ticos, supostamente financiados de forma irregular. Entre eles se encontravam ACM, Jos� Sarney, Renan Calheiros, Benito Gama. O presidente do Banco, �ngelo Calmon de S�, acabou indiciado, por outros motivos, pela Pol�cia Federal. Em fevereiro de 1996, o procurador-geral da Rep�blica, Geraldo Brindeiro, pediu o arquivamento do inqu�rito sobre as doa��es irregulares por falta de provas.
Tem sido assim h� anos, desde quando estourou o esc�ndalo do mensal�o. Ali�s, em nenhum momento Lula explicou de forma detalhada os acontecimentos que levaram ao maior esc�ndalo de corrup��o da hist�ria republicana, caracterizando-o, na �poca, como um simples problema de caixa 2, ocorrido �s suas costas. Noutro dia, no exterior, chegou at� a dizer que os principais envolvidos nem eram pessoas de sua confian�a. Omitiu-se por completo.
Para se defender, Lula ataca. Jamais se explica, sempre acusa. Acostumado a atirar pedras, Lula � incapaz da autocr�tica. Quando deveria, de forma rigorosa, abominar a pr�tica da corrup��o, ele tenta distrair a opini�o p�blica jogando culpa nos outros. Ora, a grandeza de um l�der est� em assumir a responsabilidade, por si e por sua equipe, dos poss�veis erros cometidos, buscando corrigi-los e super�-los, n�o em levantar suspeitas sobre outrem com o claro objetivo de se esquivar de seus compromissos �ticos e pol�ticos.
Ainda recentemente, quando em viagem para Johanesburgo, ao conversarmos sobre o mensal�o, disse-lhe que deveria virar esta p�gina, j� julgada pela Suprema Corte. Mas n�o, Lula insiste em continuar distorcendo fatos para dizer que todos fizeram algo parecido. Eu n�o caio nessa cilada.
Aproveito para renovar a proposta que lhe fiz naquela ocasi�o: por que n�o nos juntamos para corrigir o que de malfeito h� na vida pol�tica brasileira, em vez de jogar pedras uns nos outros? O Brasil se cansou de ataques infundados. O pa�s percebe que seu futuro depende de decis�es honestas e corajosas, entre as quais a de evitar que o debate eleitoral se restrinja a baixarias e falsas acusa��es."