O Brasil perdeu um de seus pol�ticos mais promissores, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, candidato a presidente da Rep�blica do PSB, que ocupava o terceiro lugar nas pesquisas e tentava construir, com Marina Silva na vice, uma esp�cie de “terceira via” na pol�tica brasileira. Morreu num desastre de avia��o em Santos, depois de uma tentativa de pouso do jatinho que o transportava no aeroporto de Guaruj�. Ele havia embarcado com alguns assessores no Rio de Janeiro. Foi um horror: todos morreram carbonizados.
“Jantei com ele na v�spera e conversamos ontem de manh� por celular; ele desligou na hora em que o avi�o decolou do Santos Dumont”, conta o amigo e assessor de imprensa Alon Feurweker, que tamb�m embarcou do Santos Dumont, mas com destino a Bras�lia, e somente soube do desastre quando desembarcou. Amigos aflitos e colegas ligavam para o jornalista porque corria o boato de que tamb�m estaria no avi�o.

O neto do ex-governador Miguel Arraes que por duas vez governou Pernambuco era mesmo uma lideran�a pol�tica ascendente. Pretendia ir bem mais longe que o av� e resgatar a lideran�a pol�tica de seu estado, perdida desde a Confedera��o do Equador, em 1824, que reuniu tamb�m Cear�, Rio Grande do Norte e Para�ba. A prov�ncia acabou perdendo grande parte de seu territ�rio (a antiga comarca do Rio S�o Francisco) para a prov�ncia da Bahia.
V�rios l�deres da rebeli�o, como frei Caneca, foram enforcados ou fuzilados, enquanto outros, como Cipriano Barata, acabaram presos. Abolicionistas e republicanos, ambos, por�m, s�o reverenciados at� hoje pelo povo pernambucano.
Deram origem a uma linhagem de pol�ticos “exaltados”, marca registrada da esquerda pernambucana desde os liberais da Revolu��o Praieira. Mesmo n�o tendo car�ter essencialmente socialista, esse grupo pol�tico era claramente influenciado por socialistas ut�picos do s�culo 19, como Pierre–Joseph Proudhon, Robert Owen e Charles Fourier.
� o segundo pol�tico pernambucano dessa estirpe que perde a vida num desastre de avi�o. O primeiro foi Marcos Freire, ministro da Reforma Agr�ria do governo Sarney, que faleceu em 8 de setembro de 1987, num desastre no Par�. Ele viajara para tratar de assuntos do minist�rio e, poucos minutos ap�s a decolagem, o jatinho que o conduzia explodiu no ar.
Campos era considerado um h�bil articulador e foi excelente administrador de seu estado, deixando o governo com elevados �ndices de aprova��o popular. Era simp�tico, bem-humorado, gostava de contar hist�rias e fazer imita��es, que �s vezes beiravam a perfei��o, como nos casos do ex-presidente Lula e do vice-presidente de seu partido, Roberto Amaral.
Economista, Campos modernizou o estado de Pernambuco, cuja produ��o industrial hoje chega a 20% do PIB. Ex-ministro da Ci�ncia e Tecnologia do governo Lula, rompeu com a presidente Dilma Rousseff, sem entretanto atacar o ex-aliado petista. Na sua �ltima entrevista, foi duro com a advers�ria, que concorre � reelei��o: “O governo Dilma vai entregar o pa�s pior do que recebeu”.
Marina
O candidato do PSB conseguiu chegar a uma plataforma comum com a vice, Marina Silva, com cujo discurso, inicialmente, tinha muitas contradi��es. Tamb�m administrou com sucesso suas diferen�as hist�ricas com o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), seu conterr�neo.
A vice se solidarizou com a fam�lia de Campos e dos assessores e disse que, durante 10 meses de conviv�ncia intensa, aprendeu “a respeit�-lo, admir�-lo e a confiar nas suas atitudes e em seus ideais de vida”. Estava em S�o Paulo hoje, mas cumpria agenda pessoal na capital paulista.
Marina n�o falou sobre uma poss�vel substitui��o da candidatura. Pela legisla��o, poder� ser mantida na mesma posi��o na disputa ou se tornar a candidata do partido � Presid�ncia, “por decis�o da maioria absoluta dos �rg�os executivos de dire��o dos partidos coligados”. PSB, PPS, PRB, PHS, PPL e PSL, que formam a coliga��o, sofrer�o um ataque especulativo dos demais candidatos, mas a maioria deve substituir Campos por Marina e, provavelmente, escolher um novo vice entre os quadros hist�ricos do PSB.