
O repositor de sacol�o Paulo Henrique Alves, de 28 anos, pediu socorro por tr�s horas dentro de uma policl�nica antes de ver a m�e morrer na recep��o sem atendimento. A trabalhadora rural Efig�nia Pereira, de 43, entrou na Justi�a para conseguir o rem�dio que pode cur�-la de um c�ncer de mama. Morador de Manhumirim, na Zona da Mata, Valdemir de Jesus, de 41, viajou mais de 300 quil�metros para se consultar com um otorrinolaringologista. Longe dos gabinetes dos pol�ticos e afastados da corrida eleitoral, todos eles vivem na pele os desafios da sa�de do Brasil e sabem na ponta da l�ngua o que querem para melhor�-la. O Estado de Minas come�a hoje a s�rie semanal de reportagens “A vontade do eleitor”, em que cidad�os prop�em medidas aos futuros governantes em �reas essenciais, como sa�de, educa��o, transporte e seguran�a p�blica. Em vez de palanques, as propostas partem das ruas, elaboradas por gente comum que, ao passar por obst�culos, aprendeu na marra o que � preciso fazer.
As medidas sugeridas por quem enfrenta essas dificuldades v�o desde o refor�o da estrutura hospitalar no interior e garantia de acesso a rem�dios at� a contrata��o de m�dicos especialistas e a cobertura do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) em todo o estado. “Tem que investir mais, contratar m�dicos”, cobra Paulo Henrique.
E, como doen�a n�o espera, eleitores pedem mais agilidade do sistema de sa�de, particular e p�blico. “O fato de pagar um plano n�o � garantia de bom atendimento”, diz a aposentada Zilah de Carvalho, de 77, que teve que esperar autoriza��o para cirurgia j� na mesa de opera��o. J� a servidora p�blica aposentada Ilda C�ndida, de 74, internada em hospital sem len�ol nem travesseiro para pacientes, prop�e que as institui��es sejam supridas de materiais e medicamentos b�sicos. � tamb�m o que quer a t�cnica em patologia Paloma Jacques, de 33. “Faltam medica��o, seringa e at� luvas”, diz.
Levar m�dicos especialistas para o interior e ampliar a capacidade dos munic�pios de atenderem casos de maior complexidade � a proposta daqueles que cruzam quil�metros de dist�ncia atr�s de tratamento. “Se no posto de sa�de tivesse m�dico especialista, n�o precisaria de vir tanto aqui (a BH)”, comenta a dona de casa Ant�nia C�lia Cust�dia, de 64, empenhada h� oito meses em conseguir, para a filha Ester, de 14, cirurgia para corrigir um problema no canal urin�rio. Elas moram em Lagoa da Prata, na Regi�o Centro-Oeste de Minas, e precisam viajar todo m�s a BH.
Na avalia��o de quem trabalha no setor, a implanta��o das medidas propostas pelos eleitores depende de maior planejamento na gest�o do sistema de sa�de. “� preciso dar condi��es para as macrorregi�es (divis�es de sa�de no interior) resolverem os problemas”, afirma o coordenador de plant�o do Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII, o cl�nico emergencista Marcelo Lopes Ribeiro. O m�dico, que tamb�m atua na Santa Casa de BH, no Hospital Risoleta Neves e no Samu, refor�a a necessidade de mais leitos. “O d�fict � de pelo menos 1 mil leitos em BH. Pacientes recebem tratamento no corredor”, diz.
O professor de Pol�tica e Planejamento de Sa�de da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Virg�lio Bai�o afirma que para a sa�de caminhar � preciso integra��o. “Voc� tem uma parte privada e outra p�blica que n�o t�m sequer uma estat�stica comum. H� tamb�m fragmenta��o entre os governos federal, estadual e municipal. Falta integra��o, a cria��o de uma rede que socialize a compra de materiais e medicamentos”.
O presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Itagiba de Castro Filho, aponta ainda a necessidade de valorizar a classe m�dica. “Um plano de carreira e remunera��o adequada s�o condi��es para fixar profissionais longe dos grandes centros”, afirma.
Paulo Henrique viu a m�e morrer aos 48 anos na cadeira de uma policl�nica em Contagem � espera de atendimento. Maria do Carmo pediu socorro por tr�s horas, mas ele s� chegou quando o cora��o, infartado, parou. “Se tivesse algu�m pelo menos para medir a press�o dela… Mas n�o tinha”, lamenta. O enterro da m�e foi no mesmo dia do funeral do vice-presidente Jos� Alencar, morto em 29 de mar�o de 2011. “Devia ter uns 15 m�dicos para atender ele, ningu�m cuidou da minha m�e. Se morre gente pobre, n�o muda nada”, diz. Sem esperan�a no sistema de sa�de, Paulo Henrique agora se apega � f�. A correntinha com uma cruz dependurada no peito foi comprada em mem�ria da m�e. “Ela era muito cat�lica”, conta.
Proposta: contratar mais m�dicos e investir mais na �rea
Paloma Jacques, 33 anos
t�cnica em patologia
“Falta medica��o, seringa e at� luvas de procedimento. Minha chefe j� teve que comprar do bolso dela”, conta a t�cnica em patologia Paloma Jacques. O relato � de quem vivencia o cotidiano da sa�de p�blica h� mais de uma d�cada. N�o � raro ela andar pelo Hospital J�lia Kubitschek, na Regi�o do Barreiro, em Belo Horizonte, e ver os corredores lotados de pacientes que, sem vaga nas enfermarias, ficam internados ali mesmo. A experi�ncia lhe d� autoridade para reivindicar melhorias. “Tem que ter mais recurso para comprar o b�sico”, diz.
Proposta: investir na compra de materiais b�sicos de sa�de e medicamentos
J�nio C�sar, de 35 anos, instrutor de motocicleta
Duas horas estirado no asfalto quente com a clav�cula quebrada. Para completar, portas fechadas por duas casas de sa�de antes de receber atendimento. Essa foi a saga cumprida pelo instrutor de motocicleta J�nio C�sar, v�tima de acidente de tr�nsito. Como Santa Luzia, munic�pio da regi�o metropolitana onde mora, n�o tem Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) nem Corpo de Bombeiros, o motociclista precisou esperar socorro da vizinha Sabar�. Antes de chegar ao Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII, ele passou por outras duas institui��es que n�o contavam com plant�o de ortopedista. “O acidente foi �s 10h e s� consegui ser atendido �s 13h. � uma vergonha”, afirma.
Proposta: criar rede de atendimento m�vel de urg�ncia em todo o Estado