Paulo de Tarso Lyra e Andre Shalders

Bras�lia – Empatadas tecnicamente no primeiro turno das elei��es presidenciais, Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT) t�m trajet�rias de vidas distintas, embora militantes da esquerda brasileira, que se cruzam em 2002, ainda durante o governo de transi��o, quando a atual presidente � escolhida como ministra de Minas e Energia e a socialista, ainda petista � �poca, � indicada para o Meio Ambiente. De l� para c�, tiveram v�rias embates econ�micos, ambientais, ideol�gicos. Brigaram por espa�o dentro do governo Lula e, pelo segunda elei��o consecutiva, disputam o voto do eleitorado brasileiro.
As duas inimigas �ntimas e conceituais t�m trajet�rias que se assemelham no conte�do, mas jamais na forma. Marina � acriana, filha de seringueiros pobres. Alfabetizada aos 16 anos, formou-se em hist�ria 10 anos depois. Onze anos mais velha que a advers�ria ao Planalto, Dilma � mineira e foi presa durante a ditadura militar por integrar um grupo de combate � repress�o. Era 1970 e Marina, com 12 anos de idade, trabalhava no seringal para ajudar no sustento familiar e lutava contra a mal�ria e leshimaniose. Com essa idade, j� tinha perdido a m�e e duas irm�s, todas por doen�as relativas � falta de tratamento adequado �s pessoas pobres.
Dilma surgiu no PDT. Marina filiou-se ao PT em 1986, um ano depois de montar a Central �nica dos Trabalhadores (CUT), ao lado do seu mentor, Chico Mendes. A atual presidente engrenou uma carreira de secret�ria de Estado, j� militando politicamente no Rio Grande do Sul, enquanto Marina elegeu-se vereadora, deputada estadual e, em 1994, tornou-se a mais jovem ocupante de uma cadeira no Senado, aos 36 anos.
Em 2002, as duas se encontraram no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde havia sido montado o governo de transi��o PSDB-PT. “N�s todos est�vamos, de uma maneira ou outra, irmanados em um projeto, embora, em v�rios momentos, tenhamos apoiado candidaturas distintas. Quando Lula assumiu em 2003, n�s �ramos um governo”, resumiu o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ), que foi companheiro de Esplanada de ambas entre 2003 e 2004, quando comandava a pasta das Comunica��es.
Aliado de Marina na corrida presidencial, Miro reconhece que as duas tinham posi��es divergentes em v�rios momentos, mas acredita que, se forem colocadas em uma mesa de debates, ter�o mais converg�ncias do que diverg�ncias, “desde que estejam isoladas do contexto eleitoral”.
Tens�o O embate entre ambas, intensificou-se no momento em que Dilma assumiu a Casa Civil, no lugar de Jos� Dirceu, abatido no esc�ndalo do mensal�o. E aumentou a decib�is ensurdecedores quando, no in�cio do segundo mandato, o governo optou pelo Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) e intensificou a press�o pelas licen�as ambientais para rodovias e hidrel�tricas.
Jirau e Santo Ant�nio viraram emblem�ticas. “N�o sei nem se era uma posi��o pessoal de Marina ou se ela apenas verbalizava o discurso da base de apoio. Mas montar uma hidrel�trica na Amaz�nia era visto por ela como um sacril�gio”, lembra um ministro que participou dos debates � �poca. “Marina percebeu que tinha perdido espa�o no governo para Dilma.” Outro ex-ministro, que continua pr�ximo ao l�der m�ximo petista, lembra que Marina sonhava em ser escolhida como sucessora dele. “Ela perdeu o debate de conte�do e o pol�tico. Saiu do governo”, resumiu o lulista.
Fogo cruzado Nova troca de farpas aconteceu ontem. A candidata do PSB � Presid�ncia, Marina Silva, disse ontem que o PT criou um “factoide” a respeito da empresa montada por ela para ministrar palestra. A declara��o foi dada no Rio Grande do Sul – onde Marina se reuniu com ruralistas e enfrentou um pequeno protesto em que foi chamada de “homof�bica” e “fundamentalista” –, antes de a coliga��o de Dilma protocolar na Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) pedido de investiga��o sobre os rendimentos de Marina com palestras. O pedido � que se apure eventual omiss�o de patrim�nio na declara��o de bens da candidata e at� uso de recursos na campanha. “O desespero est� fazendo com que eles fa�am esse tipo de coisa”, disse. “A minha ‘empresinha’ teve um faturamento nesses tr�s anos de R$ 1,6 milh�o. N�s pagamos todos os encargos, est� na Receita Federal”, disse Marina.
Ainda ontem, o site Muda Mais, criado pelo PT para a campanha de Dilma Rousseff, acusou o programa de Marina de ter “plagiado” um artigo cient�fico publicado em 2011 por Luiz Davidovich, professor do Instituto de F�sica da UFRJ, em trecho que fala sobre a necessidade de investimento em fontes limpas de energia.