
Se fosse lan�ado o desafio para escolher o termo mais usado nas elei��es deste ano, “velha pol�tica” e “nova pol�tica” estariam entre os campe�es. Enquanto no discurso pouco se sabe sobre o significado dessas express�es, na pr�tica, candidatos v�m mostrando um novo jeito de fazer campanha pol�tica. A f�rmula para conquistar eleitores na atualidade passa longe de palanques e com�cios que fizeram hist�ria na �poca de Juscelino Kubitschek (1902-1976) e de Tancredo Neves (1910-1985) e s�o at� hoje marca do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. A estrat�gia agora envolve uma equa��o que soma a distribui��o massiva de cartazes, banners e santinhos a reuni�es com lideran�as pol�ticas, uso das redes sociais e contrata��o de cabos eleitorais de luxo – pol�ticos e pessoas influentes pagas para cooptar votos.
Ficou para tr�s uma �poca em que a popula��o se reunia em pra�a p�blica para ouvir os candidatos. “Diminu�ram muito os com�cios. Nesta elei��o, praticamente n�o tem tido. Hoje eles est�o fora de moda”, conta o candidato ao governo de Minas Tarc�sio Delgado (PSB). Aos 78 anos, quase 50 deles dedicados � pol�tica, o ex-prefeito de Juiz de Fora se lembra com saudade desse tempo. “Tive com�cios memor�veis, com 30 mil pessoas. N�o levava show, mas sempre reunia muita gente. Somente uma vez o S�rgio Reis, que � meu amigo, ofereceu-me um show dele, em 1996, para a Prefeitura de Juiz de Fora”, conta o candidato, ainda na expectativa de organizar um com�cio nesta campanha. “Mas � uma despesa grande”, pontua.
Agora, quando ocorrem, os com�cios acontecem no improviso. “Quando fomos com Marina (Silva) a Betim, o p�blico era de com�cio, juntou muita gente e acabamos fazendo tudo improvisado, n�o tinha nem servi�o de som bem instalado”, diz. Em substitui��o ao palanque, refor�o no material de campanha. “Hoje � muito contato pessoal e uso exacerbado de bandeira, cartaz, cavalete, � uma massifica��o, uma coisa que n�o diz nada”, critica Tarc�sio, que acredita que a internet tem substitu�do as ruas. “Pela rede social, temos uma campanha paralela enorme, com milhares de acessos”, diz.
Com cinco mandatos de deputado federal, Mauro Lopes (PMDB), de 78 anos, que tenta reelei��o na C�mara, promoveu incont�veis showm�cios – com�cios com a presen�a de artistas –, mas teve que se atualizar e agora d� a receita da nova forma de fazer campanha: “Primeiro, colocam-se placas em todos os redutos eleitorais. O candidato vai �quela cidade somente depois que o rosto dele j� est� conhecido. Faz as reuni�es com as lideran�as, vereadores e prefeitos. Nessa altura, ele j� tem as panfleteiras, que v�o para as ruas e �rea rural levando o nome do candidato nos santinhos”, explica o deputado, sem se esquecer do hor�rio eleitoral gratuito na televis�o, que completa a estrat�gia.
At� a proibi��o dos showm�cios pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2006, Mauro Lopes se valeu muito desse recurso para atrair a aten��o de eleitores. Um dos contratados da campanha de 1998, inclusive, � hoje seu colega na C�mara, o palha�o Tiririca (PR-SP). “J� levei o Claudinho e Bochecha, o Agnaldo Tim�teo. O povo gostava, ia ver os artistas e aproveitava para ouvir os candidatos. Era um gasto astron�mico. Agora, realmente ficou uma coisa mais igualit�ria. Com esse neg�cio de ficha limpa, isso � que ficou importante”, afirma.
CABOS DE LUXO O deputado federal Humberto Souto (PPS), de 80 anos, acumula tamb�m experi�ncia de campanhas a vereador em Montes Claros, no Norte de Minas, e a deputado estadual. Em 50 anos de vida p�blica e 10 mandatos, ele tenta reelei��o na C�mara, reconhece as mudan�as nas campanhas, mas n�o concorda com elas. “Mudou muito a influ�ncia do dinheiro na campanha. Hoje aparecem esses deputados compradores de voto e constituem esses cabos eleitorais. Essa � a grande novidade. O vereador recebe dinheiro e arregimenta eleitores”, afirma.
Conforme o Estado de Minas mostrou em reportagem no m�s passado, candidatos contratam servi�o de cabos eleitorais de luxo, como prefeitos, vereadores e lideran�as, que cobram caro para abra�ar as candidaturas a deputado estadual e federal. O voto em Minas Gerais custa hoje de R$ 35 a R$ 40. “Antes, o pr�prio candidato � que andava nas ruas, tinha as lideran�as pol�ticas”, diz, irritado, o deputado, que tamb�m n�o se conforma com a chegada de candidatos forasteiros. “Hoje n�o se respeita mais a regi�o. O sujeito que � do Sul de Minas vai fazer campanha no Norte na maior cara de pau”, revolta-se.
Essa mudan�a tamb�m � percebida pelo ex-deputado federal Jos� Santana (PR), de 75 anos, 40 deles dedicados � vida p�blica. “As lideran�as eram mais consolidadas no interior. Fui votado 40 anos nas mesmas cidades. Voc� chegava � cidade e o grupo era muito consolidado, at� por n�o haver um n�mero grande partidos”, diz o pol�tico, que tem sua base eleitoral na Zona da Mata e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri e hoje tenta eleger deputado federal o filho Gustavo Santana (PR).
Jos� Santana, que come�ou a fazer campanha na �poca em que n�o havia televis�o nem computador e os cartazes eram em preto e branco, aderiu � moda dos showm�cios na d�cada de 1990. Contratou S�rgio Reis, Chit�ozinho e Xoror�, Leandro e Leonardo, C�sar Menotti e Fabiano. “Todo mundo fazia, era um h�bito”, diz. Mesmo sem os shows, Jos� Santana ainda acredita que, quando o pol�tico � conhecido e respeitado, a estrat�gia do com�cio ainda vale.
Um obst�culo, na avalia��o dele, � o curto tempo de campanha. “A campanha era de cinco meses. Hoje engrena mesmo faltando 30 dias. O candidato acaba n�o tendo condi��o de ir a todas as cidades”, diz. Os meios de comunica��o, por sua vez, s�o aliados. “Toda cidade tem uma r�dio comunit�ria e um jornalzinho. E a internet � um neg�cio fant�stico”, comenta.
Corrida eleitoral em dois tempos
Como era
» Havia lideran�as comunit�rias e grupos pol�ticos mais consolidados no interior
» Com�cios reuniam milhares de pessoas em pra�a p�blica
» Showm�cios com a apresenta��o de artistas passaram a ser, sobretudo na d�cada de 1990, principal forma de atrair a aten��o de eleitores
» As campanhas duravam cerca de cinco meses
» Os candidatos tinham uma atua��o local e pediam votos em regi�es espec�ficas
Como ficou
» O hor�rio eleitoral gratuito na televis�o e no r�dio se tornou umas das principais formas de os candidatos se apresentarem aos eleitores
» H� contrata��o expressiva de cabos eleitorais de luxo – prefeitos, vereadores e lideran�as recebem para conseguir votos para os candidatos a deputado estadual e federal
» Campanhas mais curtas, em que o foco � de 30 dias
» Maior investimento em material de campanha, como cartazes, bandeiras e santinhos
» As redes sociais se firmaram como canal de comunica��o entre candidatos e eleitores
» Candidatos extrapolam territ�rios dominados por determinados grupos e fazem campanha no estado inteiro