A C�mara dos Deputados que toma posse em 2015 ser� a mais pulverizada desde a redemocratiza��o. N�o apenas pelo n�mero recorde de 28 agremia��es partid�rias com cadeiras na Casa. � que os partidos surgidos depois de 1990 nunca tiveram tanto espa�o e poder. As novas siglas somar�o 143 deputados federais - mais do que o dobro do que elegeram em 2010. Pela primeira vez, os partidos p�s-Collor ter�o, juntos, a maior bancada da C�mara.
A pulveriza��o do poder vai se traduzir em maior participa��o dos nanicos nas decis�es do Congresso Nacional. Dever�o ocupar posi��es importantes tanto na Mesa Diretora quanto nas comiss�es. A outra consequ�ncia � que o pre�o da governabilidade vai ficar mais caro. "Os 39 minist�rios n�o ser�o suficientes para acomodar todo mundo", ironiza o professor Marco Antonio Teixeira, da Funda��o Getulio Vargas (FGV-SP).
Para o governo isso � um problema pol�tico e aritm�tico. Embora quase nunca o l�der governista possa contar com todos os votos dos partidos aliados, em tese ele alcan�ava maioria com a soma das bancadas eleitas em 2010 por PT, PMDB, PP, PDT e PR. Agora, essa soma est� 51 cadeiras menor. Seus 225 deputados est�o longe do n�mero m�gico de 257 votos, que equivale � maioria absoluta.
Ao ganho de poder dos emergentes corresponde uma perda de representa��o dos partidos hist�ricos. Dentre aqueles que elegeram deputados na primeira elei��o ap�s o fim da ditadura, em 1986, quase todos ficar�o menores.
Encolhimento. S�o os casos de PMDB, que elegeu 12 deputados federais a menos, do PT (menos 18), do PDT (menos 9), do PR (menos 7), do DEM (menos 21), do PP (menos 5) e PC do B (menos 5).
Outros dois n�o encolhem nem crescem: PSDB e PSB. S� o PTB crescer�: 4 deputados a mais. Mesmo assim, todas as siglas hist�ricas ser�o menores do que j� foram um dia, com exce��o do PSB (34 deputados � seu recorde).
O PT reelegeu Dilma Rousseff presidente, mas teve, em 2014, seu pior desempenho na elei��o para a C�mara dos Deputados desde 1998. A maior bancada petista foi a de 2002, na primeira elei��o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva: 91 deputados - porque o ent�o presidente puxou votos para o partido em todo o Pa�s. Hoje, a ala petista � 23% menor do que aquela. Mas o problema n�o est� s� na base governista. � tamb�m da oposi��o.
Oposi��o
A bancada do PSDB est� 45% menor do que chegou a ser em 1998. O auge dos tucanos foi na reelei��o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde ent�o o partido entrou em decl�nio. S� parou de cair este ano por causa da boa vota��o do candidato da legenda � Presid�ncia, A�cio Neves. O candidato a presidente n�o s� puxa votos como "doa" alguns para a legenda de seu partido, por causa do erro de alguns eleitores ao votar.
A maior decad�ncia, por�m, continua sendo a do DEM. Quando se formou, em 1986, desgarrando-se do PDS, o ent�o PFL elegeu 118 deputados. Nesta elei��o, fez uma bancada 81% menor do que aquela: 22. Quando comungava o poder com o PSDB, o PFL/DEM chegou a eleger a maior bancada da C�mara dos Deputados, em 1998. Hoje � a 9ª.
Em n�meros absolutos, o PMDB � o mais decadente. Elegeu quase duas centenas a menos de deputados do que em 1986, o ponto alto do partido. Por�m, mesmo com uma bancada 75% menor do que aquela, os peemedebistas s�o favoritos para presidir a C�mara. Operando como "dono" de uma S/A, o l�der do partido, Eduardo Cunha, deve alavancar os 66 votos do PMDB e transform�-los em maioria - por meio de alian�as com outras siglas minorit�rias (mais informa��es abaixo). Desafeto do Pal�cio do Planalto, Cunha foi lan�ado na semana passada pela bancada peemedebista para a presid�ncia da Casa.
Para demonstrar sua for�a, impingiu uma derrota ao governo, em vota��o que anulou o decreto da presidente Dilma Rousseff que regulamentava a cria��o de conselhos populares. Editado no fim de maio, o decreto institu�a a Pol�tica Nacional de Participa��o Social e o Sistema Nacional de Participa��o Social. O rev�s no Congresso, dois dias ap�s a reelei��o da petista, gerou preocupa��o do Pal�cio do Planalto com as propostas que impliquem custos ao governo em um momento em que tenta emitir sinais de credibilidade ao mercado.
Janela
Ao proibir o entra e sai de deputados nas legendas, o Supremo Tribunal Federal acertou de um lado e errou de outro, afirma o professor Marco Antonio Teixeira. O Supremo, segundo ele, deixou aberta a janela da cria��o de novos partidos para burlar a fidelidade partid�ria. Eles se multiplicaram desde ent�o. Por isso, "a reforma pol�tica n�o � uma panaceia, mas uma necessidade", afirma o professor da FGV.