Marta Suplicy deixa o Minist�rio da Cultura, depois de dois anos, com uma carta em que exalta suas realiza��es e sobreleva as dificuldades experimentadas no comando da pasta. Al�m disso, entrega o documento na aus�ncia da presidente Dilma Rousseff e ainda se julga merecedora de m�ritos para dar indica��es sobre o perfil da nova equipe econ�mica. Volta para o Senado de olho na sucess�o em S�o Paulo. Em poucas palavras: um misto de vaidade, autoelogio, indelicadeza e ambi��o.
A ministra demission�ria deixa como principal contribui��o o Vale Cultura e a aprova��o do Sistema Nacional de Cultura. Foram realiza��es que contaram com sua experi�ncia pol�tica e tr�nsito no Parlamento. Quando Marta assumiu o minist�rio, a aposta era exatamente essa: capacidade de articula��o que faltava a Ana de Hollanda, que naufragou, petrificada, em meio a press�es de todos os lados.
A disputa pela Cultura, de certa maneira, repercute uma divis�o patente em outros setores do governo entre dois modelos de gest�o: a centraliza��o t�cnica e a participa��o social. Como em todas as �reas da administra��o p�blica, h� um lado representado por defensores de pol�ticas mais participativas e descentralizadoras - mais uma vez, a refer�ncia � Gil, com os Pontos de Cultura. Na outra vertente, a preocupa��o maior � com os mecanismos de incentivo e controle, sobretudo ligados � estrutura��o do financiamento por meio de incentivos fiscais e das normas dos editais p�blicos. S�o, nesse caso, solu��es mais liberais e pr�ximas do que se convencionou chamar de ind�stria cultural.
Espera-se que, com a sa�da de Marta Suplicy, a Cultura assuma novamente a import�ncia devida ao seu potencial pol�tico, econ�mico e social. Se vier pelas m�os de algu�m, al�m de tudo, elegante como o compositor baiano, melhor ainda. O que n�o vai ser mais poss�vel � deixar de lado os conflitos do setor, que est�o maduros e disp�em de seu contingente de defesa. Mas � para isso que existe a democracia. A Cultura est� apenas abrindo a cortina do segundo ato.