
Quando o ministro do Esporte, George Hilton (PRB), nasceu, em 1971, em Alagoinhas, no sert�o baiano, seu hom�nimo, o ator uruguaio que fez sucesso no cinema italiano, principalmente no estilo conhecido como spaghetti western, estrelava L�mina Assassina, t�tulo brasileiro para Lo strano vizio della signora Wardh. George Hilton, o ministro, foi radialista, apresentador de televis�o, te�logo, animador, cantor e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, mas s� despertou aten��o semelhante � do seu famoso xar� quando foi escolhido em dezembro pela presidente Dilma Rousseff (PT) para comandar a pasta do Esporte sem ter nenhuma experi�ncia no ramo. Se n�o houver mudan�a at� 2016, ele ser� o ministro durante a realiza��o da primeira Olimp�ada no Brasil, que acontecer� no Rio de Janeiro.
A responsabilidade fez com que o deputado federal eleito com 147 mil votos despertasse a aten��o da m�dia de todo o mundo. Na assessoria de imprensa do Minist�rio do Esporte, est�o acumulados quase 30 pedidos de entrevista – v�rios deles da imprensa internacional –, que ainda n�o foram atendidos, inclusive o da reportagem do Estado de Minas.
Logo depois do an�ncio do nome do pastor, o grupo Atletas do Brasil divulgou um comunicado cr�tico avaliando que Dilma “abriu m�o de uma oportunidade melhorar a gest�o do esporte”. No grupo, est�o nomes de primeira linha, como Kak�, Rog�rio Ceni, Rubens Barrichelo, Bernadinho, Gustavo Borges, Ra� e Hort�ncia. “Exigimos muito mais respeito e cuidado com tudo que envolve o tema esporte no Brasil. O que est� muito longe de acontecer quando constatamos os crit�rios, ou a falta deles, que foram usados para a escolha do novo ministro”, destaca ainda a nota dos atletas.
Na cerim�nia de posse, �nica oportunidade em que falou publicamente, o ministro reconheceu sua falta de conhecimento do assunto do minist�rio que comanda. “Posso n�o entender profundamente de esporte, mas entendo de gente. Eu entendo de gente. Eu sei ouvir, sei dialogar, sei criar converg�ncias entre opostos, usarei a capacidade de gest�o e a pol�tica em favor do esporte brasileiro, com toda a minha energia”, afirmou.
Na �ltima elei��o, Hilton declarou ter uma casa avaliada em R$ 600 mil e um autom�vel de R$ 70 mil. Antes de ser escolhido ministro, ele foi deputado estadual por dois mandatos seguidos, entre 1999 e 2007, eleito por PSL e PL. Em 2006, foi eleito deputado federal pelo PP e reeleito em 2010 e 2014, j� no PRB. Na campanha do ano passado, recebeu quase R$ 500 mil em doa��es. Entre os maiores doadores, est�o o Bradesco (R$ 98,7 mil) e a Cervejaria Petr�polis (R$ 66 mil).
Hilton j� gravou discos com m�sicas religiosas: Cl�ssicos e Hinos inesquec�veis. O primeiro, segundo descri��o da p�gina do ministro no YouTube, mescla ritmos do forr� ao jazz em 14 can��es gospel. Na mesma p�gina, � poss�vel saber que a can��o preferida dele � Eu sou universal, cantada pelo bispo Adilson Silva.
Os perfis de Hilton nas redes sociais indicam que ele n�o tem uma ideologia pol�tica cristalizada. O ministro j� postou foto vestindo camisa com o retrato de Dilma e outra abra�ado com o senador Antonio Anastasia (PSDB). H� imagens dele orando, pregando fervorosamente, tocando viol�o e cantando em um est�dio.
George Hilton foi radialista em Salvador, em 1994, e depois mudou-se para a capital mineira, onde passou por diversas r�dios e programas de televis�o. Em 2002, fez o programa Pastor George, em Juiz de Fora, onde se concentra sua base eleitoral. Em 2012, foi candidato a prefeito de Contagem. Ficou em quarto lugar, com apenas 15 mil votos.
Na Assembleia, o ministro n�o teve nenhuma atividade relacionada aos esportes. Entre as 193 requisi��es e projetos de lei que apresentou, apenas um tinha alguma rela��o com o tema: um requerimento de dados estat�sticos sobre as pra�as de esporte em Minas. Em Bras�lia, sua atua��o relacionada ao esporte tamb�m foi nula.
O ministro � filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), fundado em 2005 e que sofre grande influ�ncia da Igreja Universal do Reino de Deus, cujo fundador, bispo Edir Macedo, publicou um v�deo conclamendo os fi�is a um “jejum de informa��o” por 40 dias durante a Copa do Mundo no Brasil. Dono da TV Record, o bispo n�o tinha direitos de transmiss�o do Mundial.
“Quando Dilma escolhe um ministro da bancada evang�lica, indica que busca seu apoio”, avalia o professor do Instituto Federal do Esp�rito Santo Diemerson Saquetto, autor da tese de disserta��o A inven��o do pastor pol�tico, em que analisa a rela��o das igrejas neopentecostais com a pol�tica. Ele acredita que a presidente ser� mais questionada no segundo mandato, por isso, precisa angariar apoios. Entretanto, ressalta, Dilma contou com o apoio de movimentos de minorias e os evang�licos se op�em a muitas das causas desses grupos. “A presidente ter� que dar alguns passos atr�s no discurso que tem em rela��o aos movimentos sociais”, acredita o professor.