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Estado de Minas

Sess�o do Congresso que elegeu Tancredo Neves completa 30 anos

Sess�o do Congresso que elegeu Tancredo Neves presidente da Rep�blica, abrindo caminho para a redemocratiza��o ap�s mais de duas d�cadas de ditadura, completa 30 anos esta semana


postado em 12/01/2015 06:00 / atualizado em 12/01/2015 07:44

Tancredo (com a mão erguida) durante a votação no colégio eleitoral em que foi escolhido para presidir o Brasil (foto: CECE/CB/D.A Press - 15/1/1985)
Tancredo (com a m�o erguida) durante a vota��o no col�gio eleitoral em que foi escolhido para presidir o Brasil (foto: CECE/CB/D.A Press - 15/1/1985)

Bras�lia – Os 30 anos da sess�o no Congresso Nacional que romperia definitivamente com a ditadura e daria in�cio � redemocratiza��o no pa�s, comemorados na quinta-feira, resgatam momentos cruciais da hist�ria recente do Brasil. Naquele 15 de janeiro de 1985, por volta das 12h30, era anunciado o resultado: Tancredo Neves, ex-governador de Minas Gerais e candidato pelo PMDB, havia sido escolhido presidente da Rep�blica. Contrariando o interesse popular, a elei��o ocorreu de forma indireta, mas deu a vit�ria � oposi��o. A festa que tomou conta da Na��o foi substitu�da pelo espanto diante da morte de Tancredo, dias antes de tomar posse.

A “Nova Rep�blica” – slogan criado por Tancredo – come�ou com ares de apreens�o j� diante da doen�a repentina do peemedebista, culminando na posse do vice na chapa, Jos� Sarney, da Frente Liberal, formada por dissidentes do PDS. Apesar de resist�ncias, a diploma��o de Sarney abriu caminho para a convoca��o da Assembleia Nacional Constituinte de 1988 e a confirma��o das elei��es diretas em 1989. Estava, de certa forma, cumprida a principal promessa de Tancredo, representante da Alian�a Democr�tica, uni�o do PMDB com a Frente Liberal. Ele venceu o candidato da situa��o, Paulo Maluf, do PDS, por 480 votos a 180 no Col�gio Eleitoral, formado por deputados federais, estaduais, senadores e governadores.

No dia da sess�o, o ent�o deputado estadual por S�o Paulo, o senador Aloysio Nunes (no PMDB � �poca, hoje no PSDB), esteve em Bras�lia como um dos seis representantes da Assembleia Legislativa do Col�gio Eleitoral. “N�o havia d�vida quanto ao resultado. J� se sabia que Tancredo seria eleito por uma grande maioria. O que havia era uma grande tens�o porque n�o se sabia como os setores linha-dura das For�as Armadas se comportariam”, lembra Nunes. A sess�o teve in�cio pouco depois das 9h30 e o primeiro voto foi do presidente do Congresso, Moacyr Dalla.

De acordo com o senador, n�o foi necess�rio nem que o resultado final fosse anunciado para que as comemora��es come�assem. No momento em que o deputado Jo�o Cunha (PMDB) anunciou o 344º voto, que daria maioria absoluta a Tancredo, a sess�o virou uma festa. “Tenho a honra de dizer que o meu voto enterra a ditadura funesta que infelicitou a minha P�tria”, disse Cunha, ao declarar o voto, pouco depois das 11h30 daquele dia.

Quase uma hora depois, Tancredo leria o discurso da vit�ria: “Esta foi a �ltima elei��o indireta do pa�s. Venho para realizar urgentes e corajosas mudan�as pol�ticas, sociais e econ�micas indispens�veis ao bem-estar do povo”. Derrotado e tra�do at� por membros do pr�prio partido, Maluf cumprimentou o presidente eleito. Tornou-se um dos pol�ticos mais longevos e controversos da pol�tica brasileira. No ano passado, foi reeleito para mais um mandato de deputado federal. Teve o registro da candidatura cassado em virtude da Lei da Ficha Limpa, mas conseguiu reverter a situa��o na Justi�a.

Como��o

A professora e historiadora Dulce Pandolfi, do Centro de Pesquisa e Documenta��o de Hist�ria Contempor�nea do Brasil da Funda��o Getulio Vargas, conta que a elei��o aconteceu em meio a um momento de intensa como��o nacional. Depois da derrota da emenda Dante de Oliveira, que previa o retorno das elei��es diretas em abril de 1984 – fato acompanhado por milhares de pessoas, inclusive em tel�es espalhados no Brasil –, um grande debate se instaurou no pa�s. “O movimento pelas diretas estava muito forte. Discutia-se, ent�o, se dever�amos continuar nas ruas ou se lut�vamos dentro do Congresso para o regime sofrer uma derrota, aproveitando a base governista despeda�ada. Come�ava-se um trabalho para que o col�gio eleitoral elegesse um candidato da oposi��o”, explica.

Havia um debate sobre quem deveria ser lan�ado candidato, se Ulysses Guimar�es, ent�o presidente da C�mara dos Deputados, ou Tancredo. O nome do mineiro, entretanto, soava mais simp�tico aos militares dentro da concep��o de um processo de transi��o democr�tica pac�fica. Ex-apoiador do governo e inclusive ex-presidente do PDS, Jos� Sarney mudou de lado e entrou como vice de Tancredo. Os arranjos por uma chapa que n�o desagradasse ao regime que comandava o Brasil com m�o de ferro nos �ltimos 21 anos mostram a forte influ�ncia do governo ditatorial da �poca na transi��o para a democracia, avalia o cientista pol�tico Adriano Codato, da Universidade Federal do Paran�.

“Eles n�o s� escolheram as regras do jogo, como tamb�m definiram os jogadores, inclusive aquele contra quem iam disputar. Tancredo era um hipermoderado do MDB, um pol�tico conservador. O �nico que os militares aceitariam”, analisa o professor. Para ele, as elei��es indiretas foram uma grande frustra��o para o movimento popular oposicionista que ansiava pelo fim concreto da ditadura com as elei��es diretas. “Ao mesmo tempo em que ele frequentava os com�cios das Diretas J�, negociava as elei��es indiretas. Jogou dos dois lados.” (Colaborou Ana Pompeu)

38 dias de agonia

Ap�s a vit�ria de Tancredo Neves no col�gio que o elegeu presidente da Rep�blica, come�aram os dias de incerteza sobre seu estado de sa�de. A posse estava marcada para 15 de mar�o de 1985. No dia 14, no entanto, Tancredo passou pela primeira cirurgia. No livro Quando a pol�tica vale a pena, o senador A�cio Neves (PSDB-MG) dedicou um cap�tulo ao av� e conta que estava com o presidente eleito no dia anterior � diploma��o, quando ele passou mal. Ele diz que, ap�s participar de uma missa na Catedral de Bras�lia, Tancredo relatou fortes dores no intestino, e os m�dicos decidiram que ele deveria ser operado. O diagn�stico foi diverticulite, uma inflama��o no �rg�o.

“Meu av� vinha esticando o sacrif�cio das dores solit�rias e sigilosas, em obedi�ncia a um contexto pol�tico ainda sujeito a turbul�ncias de �ltima hora, delicada transi��o que somente se consolidaria em definitivo no dia seguinte”, escreveu A�cio. O senador conta que o av� chegou a pedir para ser operado s� ap�s tomar posse, com receio de que setores dos militares criassem uma forma de dificultar ou impedir a transi��o. Ele n�o conseguiu ser empossado, mas, antes de ir para a cirurgia, assinou os atos de nomea��o dos minist�rios, para que a equipe fosse finalmente alterada e desse in�cio aos trabalhos.

Aquele foi o primeiro de uma s�rie de 38 dias de agonia, mais de 10 cirurgias e problemas no pulm�o que, al�m da diverticulite, culminaram na morte de Tancredo, em 21 de abril. O presidente eleito havia sido transferido de Bras�lia para o Instituto do Cora��o, em S�o Paulo. O vice-presidente Jos� Sarney, que havia deixado de apoiar o governo militar para compor a chapa com Tancredo, assumiu no lugar dele.

Houve, na �poca, e segue at� hoje uma discuss�o se Sarney era mesmo quem deveria ter assumido. Isso porque assume o vice quando ele j� est� empossado, o que n�o chegou a acontecer. Alguns juristas defendiam que Ulysses, ent�o presidente da C�mara deveria ficar no lugar de Tancredo. Mesmo assim, ele seguiu o compromisso assumido de convocar a assembleia constituinte e chamar as elei��es diretas em 1989.

 

(foto: Wilson Avelar/EM/D.A Press - 24/4/1985)
(foto: Wilson Avelar/EM/D.A Press - 24/4/1985)
O fim da ditadura

Confira os fatos anteriores �s elei��es indiretas – das quais Tancredo Neves saiu vitorioso, mas morreu antes de assumir – que consolidaram a volta da democracia no pa�s

» 1983

Deputado Dante de Oliveira apresenta a emenda constitucional com a proposta de elei��es diretas para presidente da Rep�blica

» 1984

25 de abril
Emenda Dante de Oliveira � derrotada no Congresso. No mesmo ano, � marcada para 15 de janeiro de 1985 a sess�o que elegeria indiretamente o pr�ximo presidente da Rep�blica.

7 de dezembro
J� como candidato pelo PMDB, da Alian�a Democr�tica, Tancredo Neves roda o Brasil, participando de com�cios. Na Pra�a da S�, � prestigiado por 80 mil pessoas e promete, caso eleito, delegar � Assembleia Constituinte que marque elei��es diretas em 1986.

11 de dezembro
Paulo Maluf, do PDS, rival na disputa, diz que propor� a elei��o direta como diretriz partid�ria. Tancredo admite que aceitar� capital externo para o desenvolvimento do pa�s.

16 de dezembro
Tancredo faz o �ltimo com�cio no Recife. Cerca de 300 mil pessoas foram ao local. Promete mais uma vez as elei��es diretas.

» 1985

15 de janeiro

Tancredo vence Maluf por 300 votos contra 180, segundo resultado anunciado �s 12h30 pelo presidente do Congresso Nacional, Moacyr Dalla.

22 de janeiro
Tancredo re�ne 50 mil pessoas na Pra�a de Barra do Gar�as (MT) e promete fazer a reforma agr�ria.

25 de janeiro

Tancredo encontra o papa Jo�o Paulo II e pede ajuda da Europa para fortalecer democracia
no Brasil.

1º de fevereiro

Em Washington (EUA), Tancredo admite que n�o consegue pagar d�vida p�blica e diz que quer negociar.

15 de mar�o
Depois de passar mal, Tancredo � operado por causa de uma diverticulite no Hospital de Base, no DF. Jos� Sarney assume a presid�ncia interinamente.

16 de mar�o
M�dicos dizem que Tancredo est� �timo e preveem alta em 15 dias.

20 de mar�o
Sa�de de Tancredo se complica devido a uma pneumonia. Ele passa pela segunda cirurgia.

26 de mar�o
Tancredo passa pela terceira cirurgia em 12 dias e � internado na Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Cora��o, em S�o Paulo.

2 de abril
Tancredo passa pela quarta cirurgia em 19 dias para tratar de uma infec��o resultante das cirurgias anteriores para curar a diverticulite.

20 de abril
M�dico diz que Tancredo n�o deve se recuperar.

21 de abril

Tancredo morre aos 75 anos depois de fazer sete cirurgias e passar 39 dias internado. Popula��o vai �s ruas chorar a morte do presidente que n�o assumiu.


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