
Bras�lia – Depois de o pa�s conviver por meses com um ex-ministro da Fazenda ainda investido oficialmente do cargo, agora a Petrobras tem na engenheira qu�mica Maria das Gra�as Foster uma presidente demitida ainda sentada na principal cadeira da companhia. Diferentemente de Guido Mantega, n�o houve ainda um an�ncio formal de demiss�o – o Planalto nega qualquer decis�o sobre isso. Mas o martelo foi batido.
Em meio a rumores sobre sua sa�da, Gra�a Foster, como � conhecida a comandante da estatal de petr�leo, foi chamada ontem �s pressas a Bras�lia. Reuniu-se entre as 15h e pouco depois das 17h com a presidente Dilma Rousseff, que acabava de chegar de Campo Grande. No encontro, ficou decidido que toda a diretoria sair� do cargo at� mar�o, trabalhando, no per�odo em que ainda permanecer� no cargo, em uma avalia��o dos preju�zos sofridos com o superfaturamento de obras da empresa, no esquema conhecido como Petrol�o. Isso dar� maior tranquilidade aos nomes que v�o chegar e n�o pretendem responder por irregularidades cometidas antes de tomarem posse.
“Desde que o esc�ndalo estourou, Gra�a e os atuais diretores n�o t�m mais condi��es de governar a empresa. J� foram demitidos pela comunidade interna e pelo mercado”, disse um economista com amplo tr�nsito na companhia, que pediu para n�o ser identificado. Os operadores da Bolsa de Valores de S�o Paulo (Bovespa) responderam fortemente ontem �s indica��es de que a desejada substitui��o nos cargos ser� realizada, levando as a��es da empresa a uma valoriza��o que n�o se via h� muito tempo.
A estatal ganhou R$ 16 bilh�es em valor de mercado ao longo do preg�o de ontem, tamb�m com a ajuda da boa aceita��o dos nomes cotados para a substitui��o: o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles; o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli; e o ex-diretor da Petrobras Rodolfo Landim.
Como no caso de Mantega, a demiss�o de Gra�a Foster deve muito � press�o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), � um dos que mais v�m insistindo para que se apresse a substitui��o no comando da estatal. Ele vem trabalhando intensamente na busca do nome para substituir Gra�a. Tamb�m se dedicam a essa tarefa o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, al�m disso, v�m analisando os n�meros do balan�o da estatal.
Resist�ncia
Dilma era a principal pe�a de resist�ncia a essa troca at� a semana passada. At� que saiu o mais do que atrasado balan�o do terceiro trimestre de 2014 da empresa. Embora n�o assinado por auditores independentes, portando com validade questionada, h� ali, nos anexos, um n�mero que � uma bomba: a estimativa de que, por conta das perdas com a corrup��o, devem ser reduzidos R$ 88,6 bilh�es dos ativos da empresa.
A publicidade desse n�mero deixou a presidente enfurecida, por considerar que o valor � exagerado e que serviu, basicamente, para aumentar a credibilidade dos ataques da oposi��o ao governo. Na avalia��o de pessoas pr�ximas a Gra�a Foster, ela tomou a decis�o de divulgar o valor porque se sentiu desprotegida. Passou a concordar com avalia��es de que vem suportando um fardo excessivo. Recai sobre ela, quase integralmente, a repercuss�o negativa pelos desmandos na empresa, o que tem ajudado, inclusive, a poupar Dilma, que presidiu o Conselho de Administra��o da petroleira no governo Lula. Ao trilhar esse caminho, tentando salvar sua biografia, Gra�a perdeu, por�m, a principal prote��o, garantida pela primeira mandat�ria da Rep�blica.
H� quem argumente, por�m, que cabia a Gra�a Foster a escolha de esconder os R$ 88,6 bilh�es. Afinal, esse n�mero foi levantado por uma consultoria contratada pela Petrobras e discutido na reuni�o do Conselho de Administra��o. De acordo com a lei que rege as sociedades an�nimas, qualquer fato relevante deve ser levado ao conhecimento do p�blico. Se o n�mero n�o constasse no balan�o, ainda que com ressalvas quanto � sua exatid�o, outros conselheiros recorreriam � Comiss�o de Valores Mobili�rios (CVM) para que fosse divulgado, buscando se livrar da responsabilidade por omiss�o.
Dilma tem, � verdade, outras raz�es para remover da presid�ncia da Petrobras sua amiga Gra�a Foster, que, quando dorme em Bras�lia, costuma ficar em um quarto no Pal�cio da Alvorada, resid�ncia oficial da Presid�ncia. Uma das principais preocupa��es � com a sa�de de Gra�a, que tem se mostrado bastante abalada com o aumento da temperatura do esc�ndalo. Ela j� viveu sob a amea�a de ter os bens indisponibilizados. Sob forte estresse, pediu demiss�o duas vezes. Ontem, ao encontrar Dilma, reiterou sua inten��o de sair.
F�ria
Gra�a � uma pessoa bem-humorada e af�vel, mas �s vezes se enfurece e perde o controle nas discuss�es. Quando era diretora de G�s e Energia da Petrobras, envolveu-se em um bate-boca com outra funcion�ria da estatal que lhe atribu�a uma declara��o que ela negava. Depois de uma sequ�ncia de “falou” e “n�o falei”, a interlocutora sacou um celular com uma grava��o que demonstrava que ela tinha, de fato, dito aquilo. Gra�a arrancou o aparelho da m�o da pessoa e o jogou na parede. Mais tarde pediu desculpas e pagou o preju�zo.
A executiva entrou na Petrobras como estagi�ria, e l� passou toda a sua vida profissional. � engenheira aposentada da empresa pelo teto da remunera��o do Petros, o fundo de pens�o: R$ 19 mil. Al�m disso, recebe sal�rio mensal de R$ 100 mil.