
Bras�lia - Menos de 24 horas ap�s as manifesta��es que levaram milh�es de pessoas �s ruas no domingo, a presidente Dilma Rousseff e o PT sofreram mais um golpe. A Pol�cia Federal e o Minist�rio P�blico puseram o tesoureiro da legenda, Jo�o Vaccari Neto, e o ex-diretor de Servi�os da Petrobras Renato Duque — uma indica��o do PT — em situa��es constrangedoras mais uma vez. �s 6h de ontem, a PF batia � porta de Duque, no Rio de Janeiro, com ordem de pris�o por corrup��o e lavagem de dinheiro, ap�s descobrir que o ex-funcion�rio da estatal escondia 20,5 milh�es de euros (cerca de R$ 70 milh�es) em M�naco e conseguiu retirar outra parte de dinheiro de contas da Su��a.
� tarde, o MP e a PF anunciaram, em entrevista coletiva, que o tesoureiro era denunciado por arrecadar dinheiro para o PT com recursos de propinas na Petrobras. No entanto, ele permaneceu em liberdade. � a primeira den�ncia criminal contra pessoas ligadas � estrutura do partido.
De acordo com os depoimentos de delatores e os documentos em poder dos investigadores, Vaccari e Du que s�o o elo do partido com a Opera��o Lava-Jato. Na Diretoria de Abastecimento, Paulo Roberto Costa remetia propinas para o PP; na Internacional, Nestor Cerver� favorecia o PMDB. O PT ficava com ao menos duas diretorias: de Servi�os; e de G�s e Energia, segundo policiais e procuradores. Remessas de recursos no exterior eram feitas por Duque e seu subordinado Pedro Barusco.
Um dos delatores, Barusco disse � PF e ao MP que o tesoureiro arrecadou at� US$ 200 milh�es para o PT. “Temos evid�ncias de que Vaccari tinha consci�ncia que esses pagamentos eram feitos a t�tulo de propinas”, afirmou o procurador que coordena a for�a-tarefa, Deltan Dallagnol. As doa��es ao PT recebidas por Vaccari n�o poderiam ser consideradas de origem l�cita, segundo Dallagnol. Ele disse que o tesoureiro sabia que as capta��es vinham de recursos desviados da Petrobras. O vice-presidente da Camargo Corr�a, Eduardo Leite, confirmou a suspeita levantada por Augusto Mendon�a, executivo da Toyo Setal. De acordo com o diretor da segunda maior empreiteira do pa�s — atr�s apenas da Odebrecht —, Vaccari pediu dinheiro do esquema. “O pagamento de propina era disfar�ado de doa��o eleitoral”, revelou Dallagnol. Empresas do grupo de Mendon�a fizeram 24 pagamentos de suborno camuflados de doa��o de campanha, de R$ 4,26 milh�es. “Esses pagamentos foram feitos a pedido de Duque. Vaccari indicava as contas dos diret�rios estaduais”, explicou o procurador. Ao decretar a pris�o preventiva de Duque, o juiz S�rgio Moro classificou de “assustador” o fato de o ex-diretor continuar a receber propina mesmo depois de deflagrada Lava-Jato, em mar�o do ano passado.
O advogado de Vaccari negou qualquer arrecada��o com dinheiro de “superfaturamento, cartel e corrup��o”, como sustenta o MP. Luiz Fl�vio Borges D’Urso afirma que seu cliente “n�o participou de nenhum esquema para recebimento de propina ou de recursos”. “O senhor Vaccari repudia as refer�ncias feitas por delatores a seu respeito, pois n�o correspondem � verdade.”
Preso pela primeira vez em 14 de novembro, Duque foi solto em 3 de dezembro pelo Supremo Tribunal Federal. O advogado dele disse que a nova pris�o � “ilegal” e afronta � decis�o do STF. “Duque nega a pr�tica de il�citos, enquanto diretor da Petrobras”, disse Alexandre Lopes.
A for�a-tarefa constatou que Vaccari se encontrava com regularidade com Duque “para acertar os valores devidos”. O relato do empres�rio Eduardo Leite, vice-presidente da construtora Camargo Corr�a, foi decisivo para o oferecimento da den�ncia contra o tesoureiro. “Ele revelou que se encontrou com Vaccari e que este pediu doa��es oficiais eleitorais a t�tulo de propinas.” Tamb�m tiveram peso na acusa��o os depoimentos de quatro delatores: Augusto Mendon�a, Pedro Barusco (ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Servi�os da Petrobr�s), Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento) e o doleiro Alberto Youssef.
O procurador afirmou ainda que tamb�m foram achados 10 milh�es de euros (R$ 31,1 milh�es) que seriam do ex-diretor de Internacional da estatal Jorge Zelada, que n�o denunciado ontem. Dallagnol disse que o MPF e a PF v�o rastrear esse dinheiro. O empres�rio e lobista Adir Assad tamb�m integra a lista de denunciados. Empresas de fachada dele teriam sido usadas por Youssef para dar fluxo a propinas a pol�ticos em 2003 e 2014. A Justi�a Federal decretou o sequestro de R$ 40 milh�es nas contas de Assad e de seis empresas ligadas a ele, usadas para movimentar propina. Foi decretado ainda o bloqueio em contas de tr�s pessoas que eram usadas como ’laranjas’ por Assad. O lobista tamb�m foi preso ontem.
OBRAS DE ARTE A PF apreendeu 131 obras de arte na casa de Renato Duque. As buscas na resid�ncia e em outros dois endere�os de Duque foram determinadas pelo juiz S�rgio Moro. A compra de obras de arte � um dos expedientes mais usuais no processo de lavagem de dinheiro. A suspeita � que Duque teria lavado dinheiro de propinas por meio de obras de arte.
Duque chegou por volta das 12h30 � sede da PF, na zona portu�ria do Rio de Janeiro, de onde foi levado para Curitiba. De acordo com o advogado dele, Alexandre Lopes, o ex-diretor deixou sua casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, por volta das 12h. A defesa criticou a pris�o preventiva. “A pris�o � indevida mais uma vez, o juiz antecipa uma pena que ele pode aplicar ao fim do processo”, declarou Lopes. Ele disse ainda que as obras apreendidas “n�o tinham rela��o com a Petrobras”.