
Bras�lia – Em outubro de 2008, com pompa e circunst�ncia, a C�mara dos Deputados anunciou a exonera��o de 102 servidores comissionados por serem parentes dos parlamentares. A demiss�o em massa era uma resposta � S�mula 13 do Supremo Tribunal Federal, publicada em agosto daquele ano, proibindo a contrata��o de familiares. Sete anos depois, a pr�tica do nepotismo e a contrata��o de parentes continua viva em Bras�lia. Entre centenas de correspond�ncias de nomes, o Estado de Minas selecionou, somente na C�mara, 10 casos de parentes de parlamentares que trabalham ou permaneceram at� mar�o na estrutura da Casa. Somados, eles ganham pouco mais de R$ 55 mil mensais em sal�rios e gratifica��es, l�quidos. A pr�tica est� longe de ser abolida tamb�m na Esplanada.
Nem todos os parlamentares veem problemas em nomear parentes. O deputado An�bal Gomes (PMDB-CE), por exemplo, disse estar “de consci�ncia tranquila”, mesmo mantendo dois primos no pr�prio gabinete. Leandro Ferreira Gomes e Mara Ribeiro Ferreira Gomes, segundo o deputado, ajudam com o trabalho pol�tico no estado. “Eles s�o meus primos, mas fazem o trabalho deles corretamente, me ajudam a manter contato com o eleitor nos munic�pios”, declarou An�bal Gomes.
“O dinheirinho que a gente ganha � para isso, para p�r o povo para trabalhar”, justificou o deputado, que � tamb�m investigado na Opera��o Lava-Jato, da PF. Em abril, a C�mara tinha pelo menos 10 pessoas com o tradicional sobrenome cearense “Ferreira Gomes” em cargos comissionados, inclusive em gabinetes de aliados dos irm�os Cid e Ciro Gomes, de quem An�bal � primo.
O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), por sua vez, resolveu lotar o sobrinho justamente no �rg�o que analisaria uma eventual quebra de decoro por nepotismo. Em 16 de abril, o Di�rio Oficial publicou a nomea��o de Lucas Eduardo Pompeo de Mattos para o Conselho de �tica e Decoro Parlamentar, com sal�rio l�quido de R$ 7,7 mil. Lucas, segundo o chefe de gabinete do trabalhista ga�cho, j� trabalhava “h� muito tempo” na C�mara. � verdade: Pompeo de Mattos j� empregou Lucas e tamb�m o pr�prio filho, Tales Knechtel, em seu gabinete, antes da S�mula 13. “N�s fizemos uma consulta � Mesa para saber se haveria problema em ele continuar, depois da elei��o do deputado, e n�o havia”, disse o chefe de gabinete. O documento que provaria a tal consulta, por�m, n�o foi enviado � reportagem.

No total, a reportagem encontrou 106 correspond�ncias de nomes entre parlamentares e detentores de cargos comissionados na C�mara, tomando por base o m�s de mar�o. Em muitos desses casos, a �nica forma de checagem � perguntar aos pr�prios parlamentares. Assim, o l�der ruralista Luiz Carlos Heinze (PP-RS) negou conhecer a assessora Doloria Heinze, do gabinete de S�rgio Moraes (PTB-RS); Rog�rio Simonetti Marinho (PSDB-RN) n�o conhece Luciana Dantas Simonetti (assessora de Walter Alves, PMDB-RN), e Nilton Balbino (PTB-RO), mais conhecido como Nilton Capixaba, disse n�o ter nenhuma rela��o com Thays Balbino Rosa, assessora de Marcos Rog�rio (PDT-RO).
Mas nem toda negativa � dada de boa-f�. No primeiro contato com a reportagem, a deputada Iracema Portella (PP-PI), casada com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira Lima (PI), negou ter parentesco com Ryan Nogueira Lima, empregado do gabinete dela at� 4 de mar�o deste ano. “N�o � meu parente n�o… no Piau� tem muito Nogueira, o que n�o significa que sejam parentes”, disse Iracema ao EM, por telefone. Confrontada com a informa��o de que Ryan �, na realidade, primo de Ciro Nogueira, a equipe de Iracema mudou de tom. “Como � primo, a s�mula (do STF) n�o pro�be. Ele fez um ‘servi�o t�cnico’ no estado, e j� foi at� exonerado”, disse a assessoria de imprensa.
Troca A indica��o cruzada de familiares tamb�m pode ser uma forma “esconder” as nomea��es de parentes. Ronaldo Benedet (PMDB-SC) mant�m em sua equipe, desde 2011, a assessora Marilu Maldaner. J� Celso Maldaner, tamb�m do PMDB de Santa Catarina, conta com a ajuda de Raquely Benedet Cella desde 2008. � reportagem, Raquely disse ser respons�vel pelo gabinete de Celso em Chapec� (SC). A justificativa dada para a contrata��o: o parentesco com os deputados � distante. Segundo a assessoria de Benedet, Marilu seria “prima distante” do senador Casildo Maldaner (PMDB-SC). Raquely tamb�m disse que sua indica��o n�o foi feita por Ronaldo Benedet. “O meu pai era primo dele (Ronaldo), mas n�o sei dizer em qual grau. A gente tem conhecimento, mas n�o foi ele quem indicou”, disse ela. Mas, ent�o, quantos s�o afinal os parentes de parlamentares trabalhando na C�mara? “Em tese, nenhum”, responde um servidor lotado no �rg�o respons�vel pela nomea��o dos comissionados. “Todos eles t�m de assinar um termo declarando n�o ser parente dos parlamentares. Sem isso, n�o tomam posse”, disse o servidor. “Quando a gente v� algum nome parecido, a gente at� liga no gabinete, procura informar o parlamentar. Mas esse documento (a declara��o) � dotado de f� p�blica”, conta o servidor.