No fim do corredor do terceiro andar do Anexo IV da C�mara dos Deputados, h� um gabinete aparentemente igual a todos os outros. Ele tem aproximadamente 25 m², uma antessala, um escrit�rio e um banheiro. Quem olha de fora n�o imagina que, do outro lado, as paredes s�o roxas, como no quarto de uma menina de 15 anos. No escrit�rio, atr�s da mesa de trabalho, h� um p�ster de Nova York ou Chicago - o assessor n�o soube dar certeza -, uma mini escultura de metal da Torre Eiffel e duas cadeiras de plush roxo, como aquelas que se v� em um talk show sobre brigas familiares. "Era a cor do cen�rio do meu programa de TV", justifica a deputada Brunny.
Quem � do interior de Minas Gerais provavelmente conhece Bruniele Ferreira da Silva do programa Brunny e Vc e j� ouviu o grudento refr�o “No Facebook/no Twitter/todo mundo quer saber/Brunny e Vc/Brunny e vc”. Mas em Bras�lia, e no Congresso, mais especificamente, a Vossa Excel�ncia ficou mais famosa por um v�deo que circulou nas redes h� algumas semanas, com Brunny fazendo o quadradinho de oito em uma festa. O suficiente para que ela ficasse famosa como a Deputada do funk.
“Se eu fosse homem, n�o teria dado essa repercuss�o toda. Tenho muito amigos parlamentares, que eu sei que frequentam balada e ningu�m publica nada sobre isso”, retruca. Ela arrisca um agravante: “Funk tamb�m faz parte da cultura. Brasil n�o � s� feito de m�sica cl�ssica, MPB...”
No palco ou no palanque, aos 25 anos, Brunny � a deputada mais nova do Congresso. Ela conquistou a cadeira no plen�rio com pouco mais de 45 mil votos, pelo Partido Trabalhista Crist�o (PTC-MG). Da “bancada do danoninho”, ela � a segunda mais nova, perdendo para o colega de partido Uldurico J�nior, baiano de 22 anos. Os dois s�o os �nicos eleitos pelo partido na Casa, em 2014.
Al�m disso, para Brunny o fator "experi�ncia" tamb�m � menos importante para se inspirar em algu�m. Ela confessa que a pessoa que mais admira na Casa � a tamb�m debutante Renata Abreu (PTN-SP), de 33 anos.
“Gosto de fazer coisas que n�o t�m muito a ver”, explica do alto do salto 15 e vestido preto “comportado”, nas palavras dela. A deputada admite “ter maneirado nos decotes e no comprimento da saia”, desde que vazou o v�deo do funk ("e, como se diz, hoje eu ia encontrar a imprensa"). Brunny, de cabelo tingido de loiro e unhas impec�veis, j� foi estilista e terminou gradua��o em odontologia no ano passado. Al�m de ser, claro, apresentadora do programa de moda e comportamento, com o indefect�vel quadro “Dia de Princesa”, em que alisa o cabelo, maqueia e compra novas roupas para meninas carentes.
A jovem evang�lica jura que nunca sonhou com pol�tica, at� se casar com um pol�tico, no fim de 2013. Brunny entende seu mandato quase como uma continua��o do programa, em que h� menos “limita��es” para ajudar as pessoas. Foi gra�as ao incentivo do marido, o empres�rio mineiro e ex-deputado estadual H�lio Gomes, que ela se aventurou na carreira pol�tica.
Diferente do vizinho de corredor Marco Feliciano, cuja porta do gabinete grita cartazes de "cristofobia" e contr�rios � parada gay em S�o Paulo, a porta de Brunny tem apenas um cartaz, o das mulheres na pol�tica. Ela afirma que essa � uma de suas pautas mais caras: em 2015, assumiu a presid�ncia do PTC Mulher.
Na semana passada, Brunny soltou uma nota nas redes sociais lamentando o resultado da vota��o da proposta que garantia cota para mulheres no parlamento. A emenda fazia parte da reforma pol�tica e n�o passou por apenas 15 votos. Brunny confessa que, apesar de ter votado a favor, � fervorosamente contra qualquer tipo de cota: “Em vez de valorizar a mulher, diminui. A gente tem uma presidente mulher e ela n�o precisou de cota pra chegar l�”. No caso espec�fico da emenda, ela afirma apenas que se posicionou “como uma mulher que estava apoiando outras mulheres”.
Na atual legislatura, as mulheres representam menos de 10% do plen�rio: elas ocupam 51 cadeiras e os homens, 513. Brunny justifica essa disparidade por uma falta de incentivo em mostrar que mulheres t�m capacidade de estar na pol�tica. Ela vai al�m e diz que as mulheres s�o necess�rias na pol�tica, “porque t�m um lado diferenciado do homem, mais sentimental”.
Apesar da idade e de n�o largar m�o da balada no fim de semana, Brunny defende muitos pontos da agenda conservadora. Quando o assunto � aborto, ela diverge de muitas colegas da bancada, preferindo n�o se posicionar. “Aborto � quest�o de opini�o”, se esquiva. Outro ponto espinhoso � a redu��o da maioridade penal, aprovada pela comiss�o mista da C�mara, na quarta-feira passada (17/6). “A viol�ncia est� muito grande e a gente percebe que a maioria � de menores”, arrisca a deputada. Quando questionada sobre dados recentes da Unicef, que indicam que menores de idade s�o respons�vel pela minoria dos crimes, Brunny desconversa e endurece o discurso: “Se � minoria ou maioria, isso n�o importa. O que importa � que eles cometem crime. E se eles cometem crimes, sendo menores ou maiores, t�m que pagar”.