
A presidente Dilma Rousseff convenceu ontem o ministro da Justi�a, Jos� Eduardo Cardozo (PT-SP), seu homem de confian�a, a permanecer no cargo, apesar do incessante fogo amigo de petistas insatisfeitos com os rumos da Opera��o Lava-Jato. Essa vit�ria pessoal da presidente est�, no entanto, muito longe de significar uma calmaria no seu conturbado segundo mandato. Vencida a luta para manter Cardozo, Dilma, agora, ter� de se empenhar para n�o perder outra pe�a-chave: o articulador pol�tico do governo no Parlamento, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), desgastado pelos embates de seu partido com o PT.
Elevado no in�cio de abril ao posto de negociador com o Congresso – depois de tentativas frustradas com nomes petistas, o �ltimo deles, Pepe Vargas (PT-RS) –, Temer tamb�m se transformou na �nica ponte para di�logo do Planalto com o PMDB. Como bom articulador, ele negocia at� mesmo com petistas que ainda n�o voltaram �s boas com a presidente, insatisfeitos desde que Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram al�ados aos cargos de ministros da Fazenda e do Planejamento, respectivamente. A dupla tem sido constantemente bombardeada pelos mais radicais do partido pelas medidas do ajuste fiscal, que afetam diretamente o trabalhador.
Caso a sa�da de Temer se confirme, novas turbul�ncias v�o atingir o barco da timoneira Dilma, cada vez mais isolada. Al�m de ter de escolher um novo articulador pol�tico que d� conta de um cen�rio ainda mais cr�tico, a petista ter� de enfrentar a sa�da formal do PMDB do governo – que faz esta amea�a desde os primeiros dias do segundo mandato.
A sa�da de Temer da articula��o pol�tica tem um arquiteto de peso: o presidente da C�mara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que defendeu a tese abertamente. Para Cunha, uma parte do PT est� sabotando o trabalho de Temer, que n�o est� conseguindo cumprir promessas feitas aos parlamentares, para viabilizar vota��es, como a libera��o de emendas e a nomea��o para cargos de segundo escal�o. Nos bastidores, fala-se que o prazo de validade do vice como negociador n�o passaria de agosto. E como ele mesmo se definiu, Cunha � bom de voto, ou seja, tem cacife pol�tico para influenciar o vice.
Sabotagem No caso de Eduardo Cardozo, que n�o esconde mais sua insatisfa��o com o exerc�cio do cargo, os petistas n�o s�o acusados de sabotagem, mas de fazer uma press�o desmedida. Acreditam que Cardozo poderia influenciar nos rumos da Lava-Jato, mas n�o o faz. A opera��o j� acertou quase toda a c�pula pol�tica do partido e n�o poupa nem mesmo o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Na semana passada, Lula foi alvo de especula��es sobre doa��es da empreiteira Odebrecht – acusada de fazer parte do clube de empresas que se beneficiaram dos desvios da Petrobras – a seu instituto.
Apesar da suspeita do pagamento de propina a v�rios outros partidos da base aliada do governo, a pris�o do tesoureiro do PT, Jo�o Vaccari Neto, em abril, na Lava-Jato, foi o desencadeador da insatisfa��o dos petistas. A pris�o pegou de surpresa o partido, que resistia em afastar Vaccari do cargo e pretendia usar a acusa��o contra o petista para desqualificar as dela��es premiadas que foram feitas durante a instru��o do processo. Um dos delatores, Pedro Barusco, disse que repassava ao PT, por meio de Vaccari, algo em torno de US$ 100 milh�es, o dobro do que embolsava. A pris�o obrigou o partido tamb�m a rever o financiamento de campanha.
Golpe As acusa��es contra o ex-ministro Jos� Dirceu (PT-SP) – que cumpre pena em regime aberto por envolvimento no esc�ndalo do mensal�o, quando ocupava o cargo de ministro-chefe da Casa Civil – tamb�m ajudaram o fomentar a insatisfa��o com Cardozo. Agora, a acusa��o � de que o petista teria lavado dinheiro de propina da Petrobras por meio de sua empresa JD Consultoria. Apesar da condena��o na A��o 470, Jos� Dirceu mant�m forte influ�ncia sobre o PT, que o considera quase que v�tima de um julgamento pol�tico por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
No fim de semana passado, Cardozo n�o p�de acompanhar a presidente Dilma Rousseff em sua viagem aos Estados Unidos, para mais uma vez apagar fogo no governo. Ele foi destacado pela presidente para acompanhar o ministro da Secretaria de Comunica��o Social, Edinho Silva – ex-coordenador financeiro da campanha da petista –, para explica��es � imprensa em raz�o de acusa��es de cobran�a indevida de doa��es de campanha. A den�ncia foi feita pelo empres�rio Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, tamb�m em dela��o premiada.
Na avalia��o de petistas ligados a Cardozo, � dif�cil prever at� quando ele vai permanecer no cargo. No entanto, avaliam, seria importante que o prazo se estendesse at� o pr�ximo ano, ap�s a realiza��o das Olimp�adas, no Rio. Uma aposta, entretanto, que depende de quantas e t�o graves forem as novas turbul�ncias do segundo mandato de Dilma. (Colaborou Renato Scapolatempore)
Lula manda Dilma p�r "p� na rua"
S�o Paulo – Num longo discurso a integrantes da Federa��o �nica dos Petroleiros (FUP), em Guararema (SP), o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva reconheceu que o pa�s atravessa um momento dif�cil e apontou um roteiro para a recupera��o do governo de sua sucessora e afilhada pol�tica, Dilma Rousseff. Para o petista, “o governo est�, outra vez, precisando conversar com o povo” e precisa recobrar o “oxig�nio” nas ruas. “Acho que ela tem a no��o exata do que eu estou falando. Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas mais dif�ceis, n�o tem outra alternativa a n�o ser encostar a cabe�a no ombro do povo e conversar com ele. Explicar quais s�o as dificuldades e quais s�o as perspectivas”, afirmou.
Para Lula, Dilma precisa colocar “o p� na rua” e falar com a parcela da popula��o que torce para ela governar o pa�s. “Tem que fazer o que tiver para fazer em Bras�lia e �, p� na estrada. Ela e os ministros”, aconselhou. “O povo vai cobrar? Vai. Mas tem que cobrar mesmo. (...) � essa linha direta entre a Dilma e o povo que vai permitir que a gente conquiste grande parte dessa juventude”, afirmou.
Evitando cr�ticas ao governo, como fez nas �ltimas semanas, Lula atribuiu o mau momento da economia � crise internacional que estourou em 2008, e disse que as pessoas s� veem um Brasil pior hoje porque o comparam com o pa�s que os petistas constru�ram quando chegaram ao Planalto.
Sobre a Opera��o Lava-Jato, Lula criticou o que tem chamado de “vazamentos seletivos” de detalhes da opera��o, com o intuito de “pegar algu�m ou acusar algum partido”. “A pessoa s� pode ser chamada de ladr�o na hora em que se provar que � ladr�o. N�o pode criminalizar antes de provar e antes de ela ser julgada”, disse.