
Depois de mais de oito meses das elei��es presidenciais de 2014, o tucano A�cio Neves esbo�a um sorriso ao ser questionado sobre o que faltou naquela campanha para sair vitorioso: “Faltou voto, n�?”. Em seguida, ele emendou: “Vou responder com franqueza. Foi uma luta absolutamente desigual. N�o perdi para um partido pol�tico. Perdi para uma organiza��o criminosa que se apoderou do Estado”, afirmou, no fim da manh� da quinta-feira passada, no gabinete do 11º andar do Senado. Ao longo de quase uma hora de entrevista, A�cio falou sobre a derrota em Minas, a crise pol�tica e econ�mica do governo Dilma Rousseff, a Opera��o Lava-Jato e os reflexos da investiga��o no Executivo e, agora, cada vez mais fortes, no Legislativo. Mostrou certo desconforto ao ser questionado sobre o fato de petistas o chamarem de golpista e, por �ltimo, mirou no ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva: “(Sugerir que Dilma viaje) � uma grande maldade que Lula est� fazendo. O Brasil tem uma presidente sitiada. E isso, na verdade, parece uma certa vingan�a dele. Ela vai para onde? Vai para ser vaiada?”. A entrevista com o senador A�cio Neves ocorreu horas antes das den�ncias do executivo J�lio Camargo, da Toyo Setal, de que o presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu US$ 5 milh�es em propinas relativas � compra de dois navios-sondas da Petrobras. O epis�dio motivou o an�ncio de Cunha de que rompeu com o governo e, agora, � oposi��o. Ontem, o senador mineiro divulgou nota sobre o caso.
O recesso do Congresso a partir desta semana vai acalmar o clima pol�tico de Bras�lia?
Do ponto de vista de agenda parlamentar, sim. Mas a Lava-Jato n�o para, n�o �? A crise n�o para. Ela apenas se agrava, o Brasil parou. Esse talvez seja o componente n�o vis�vel, a gente fica vendo den�ncia disso, den�ncia daquilo... Amanh� vai prender n�o sei quem. Mas tem uma quest�o que, a meu ver, fragiliza ainda mais a presidente, que � a economia. A expectativa de receita do governo est� muito abaixo do que se previa. Tem uma crise que permeia todas as outras, estou falando do desemprego, da infla��o, dos juros altos. � isso que vai emoldurar tudo a�, que � a crise de confian�a hoje no Brasil. Ningu�m est� investindo. Esse programa de concess�es que tem sido pouco explorado... Tudo parado, todo mundo com o p� atr�s. Essa � a crise potencializadora das outras. Sem confian�a, voc� n�o retoma o crescimento, n�o administra a base no Congresso. Ningu�m respeita mais o governo.
E qual � a solu��o?
Eu tenho de ter cautela, como presidente do PSDB. N�s n�o somos protagonistas do desfecho. O desfecho, qualquer que seja, ser� sempre de responsabilidade do atual governo. Seja para se manter — se reunir as condi��es de governabilidade, que n�o est�o f�ceis —, seja para um outro desfecho que, se tiver de ocorrer, ser� de responsabilidade do governo. Seja na quest�o das regras de responsabilidade fiscal, seja pela quest�o da propina de campanha, seja pela capacidade de se sustentar mesmo, de tocar o pa�s. Eu tenho conversado com muita gente do setor privado. At� dois meses atr�s, as conversas eram sobre quando o Brasil retomaria o crescimento. As pessoas falavam: “Ser� que isso melhora antes da elei��o municipal, ou na elei��o ainda estar� muito grave?”. De dois meses para c�, a conversa n�o � mais essa. � at� quando ela (Dilma) aguenta.
E qual � a expectativa do senhor?
Como presidente do PSDB, tenho de garantir que as institui��es funcionem. Toda hora que eu perceber que h� uma tentativa de press�o, de manipula��o — como tentam fazer volta e meia setores do PT, seja na Pol�cia Federal, seja no Minist�rio P�blico, seja nos tribunais —, temos que denunciar e fazer a contrapress�o. Eu vou dizer: vai ter impeachment?. Hoje, eu n�o acho que tenha condi��es para isso. N�o h� ainda, o que n�o impede que venha a ocorrer. O Brasil tem uma legisla��o para ser cumprida. Eu vejo o advogado-geral da Uni�o confessando os crimes das chamadas pedaladas e j� querendo estabelecer as penas: “O crime houve, mas sempre houve. Ningu�m afastou presidente por causa disso”. Ent�o, para ele (Lu�s In�cio Adams), houve o crime. Tem uma legisla��o que pune esse crime e o processo tem de correr, sen�o os tribunais n�o s�o mais necess�rios. Tem crime, tem de ser punido. Se n�o teve crime, tem de ser absolvido. E � isso que a presidente n�o entendeu. Cabe a ela, em vez de focar na oposi��o, gastar energia, se concentrar em responder e apresentar a vers�o aos tribunais.
O que acha da sugest�o do ex-presidente Lula de pedir para Dilma viajar o pa�s?
Isso � uma grande maldade que o presidente Lula est� fazendo. O Brasil tem uma presidente sitiada. E isso, na verdade, parece uma certa vingan�a dele. Ela vai para onde? Vai para ser vaiada? Hoje, os custos das viagens presidenciais foram para a estratosfera. Antes, tinha o escal�o precursor para definir local, palanque. Agora tem de ir um ex�rcito antes, para limpar a �rea. E mesmo assim n�o consegue. A presidente est� sitiada. Al�m das quest�es econ�micas, h� as morais. Ela mentiu aos brasileiros, os brasileiros sabem disso. A cada dia que passa vai ficando mais claro. A mentira foi deliberada, tinha um objetivo, que era vencer as elei��es. N�o sou eu que estou dizendo, est� na cabe�a das pessoas. Olha, n�s vamos ter, entre agosto e setembro, uma pororoca no Brasil, um encontro das �guas turvas.
O fen�meno da pororoca acabou, senador...
Ent�o teremos a reinven��o da pororoca. N�s vamos ter, entre agosto e setembro, vota��es dessas quest�es grav�ssimas nos dois tribunais (TCU e TSE). N�o somos n�s, da oposi��o, que estamos criando esses fatos. Houve crime de responsabilidade, segundo relat�rio do ministro do TCU e agora j� admitido pelo advogado-geral da Uni�o, que � extremamente grave. A vota��o tem de ser t�cnica, deve ser pela condena��o, mas isso, evidentemente, cabe ao tribunal. Temos uma quest�o no TSE que n�o somos n�s que estamos dizendo. � um dos delatores. Agora, os delatores dizem que houve dinheiro da propina. Por que o Ricardo Pessoa disse que foi extorquido? Ele fala do respons�vel pela campanha da Presid�ncia da Rep�blica, o tesoureiro do PT. “Ah, mas o tesoureiro n�o atuava na campanha.” Engano, o tesoureiro arrecada sim, e o dinheiro que ele arrecadou foi para a campanha. Tem mais de R$ 30 milh�es arrecadados no estilo Vaccari, que foram para a campanha, foram transferidos para o diret�rio e para a campanha. N�o sou eu que estou dizendo, � a pol�cia. N�s vamos ter o in�cio das den�ncias em rela��o aos envolvidos na Lava-Jato. Isso se prev� para o come�o de agosto, quando come�arem as den�ncias.
Inclusive contra os parlamentares...
Principalmente os parlamentares. Estou dizendo: � o quadro da nova pororoca. Isso vai criar uma instabilidade enorme. H� v�rias dela��es de que ainda n�o se tem conhecimento. E vai ter o in�cio das den�ncias do STF, que podem atingir muita gente. Al�m disso, novas opera��es Lava-Jato podem chegar ainda mais pr�ximo do governo. E, com tudo isso, dois componentes que, a meu ver, s�o nitroglicerina pura: economia degringolando e desemprego aumentando de forma muito vigorosa. Eu conversei com o Robson (Andrade) da CNI na semana passada e ele disse que, pela primeira vez na hist�ria, todos os setores da ind�stria, sem exce��o, est�o demitindo.
Quanto tempo o pa�s sobrevive nessa situa��o?
Eu n�o tenho bola de cristal. Se ela (Dilma) n�o reassumir o comando do pa�s, eu acho que, naturalmente, as dificuldades dela ser�o muito maiores. As pessoas falam sobre o neg�cio do impeachment. Eu n�o estou esperando a queda da presidente, eu estou esperando que ela assuma o segundo mandato. N�o assumiu at� hoje, n�o tem governo. Agora, se ela n�o assumir, no v�cuo o pa�s n�o pode ficar. O pa�s n�o pode navegar tr�s anos no v�cuo. Ou ela assume o governo e encontra for�as, resgata um pouco a confian�a, ou n�o vai a lugar nenhum. E o que falta? Falta humildade. A presidente precisa ter humildade n�o para dizer que as coisas est�o dif�ceis, mas para reconhecer que as coisas est�o muito dif�ceis por causa dela, por causa do governo dela, do despreparo da incompet�ncia, da corrup��o. Ela deveria ter tido essa coragem na campanha eleitoral, para dizer onde o pa�s estava mergulhado. E n�o ter mentido, porque a mentira � a arma daqueles a quem falta coragem. Enquanto ela n�o reconhecer, ela n�o inspira confian�a.

Existe uma ansiedade no Congresso com a Opera��o Lava-Jato.
H� uma aposta de setores do governo de que � poss�vel se transferir essa crise para o Congresso. Mas isso, mais uma vez, � um autoengano. Acho que o Congresso ter� problemas se as coisas avan�arem. Obviamente que o Congresso vai ter de dar respostas para a sociedade, n�o apenas para a oposi��o. Mas � absolutamente imposs�vel que essa crise se descole do seu fator motivador, que � o Poder Executivo. Dividir isso vai ser sempre uma tentativa. Mas eu reconhe�o que, aqui no Congresso, vamos ter problemas, e isso nem come�ou ainda.
A crise, de qualquer forma, envolve dois poderes...
� muito preocupante, porque o Congresso deveria ser o poder do equil�brio, moderador. Eu n�o sei a dimens�o do que est� por vir, mas teremos de conviver com isso. Nosso papel vai ser sempre lutar para preservar o Congresso. Os problemas devem ser individualizados, n�o podem ser institucionalizados. Se tiver problemas mais graves envolvendo parlamentares, temos de deixar claro que eles ter�o de se explicar. Agora, n�o permitiremos que essa tentativa de manobra do governo tenha resultado, de o governo se livrar da responsabilidade, porque as pessoas n�o acreditam. Isso foi uma tentativa envolvendo alguns setores para tentar criar um cen�rio em que as empresas se organizaram para lesar o Estado. Em conluio com alguns diretores da Petrobras, caracterizaram a empresa e o governo como grandes v�timas disso. Isso � um absurdo, caiu no primeiro momento que o dinheiro desse esquema montado irrigava as campanhas do PT e dos aliados. Com essas den�ncias sucessivas, fica claro que se montou uma estrutura criminosa na Petrobras, e sabe-se l� onde mais.
Numa perspectiva hist�rica, se for considerada a queda de Dilma, teremos dois dos quatro presidentes eleitos pelo voto da popula��o fora do poder. O pa�s n�o se iguala a republiquetas?
Pelo contr�rio. Eu acho que � bom para o pa�s que presidentes que cometeram crimes sejam punidos, n�o por um movimento pol�tico, mas porque cometeram crimes. Se a gente for dimensionar o crime do (Fernando) Collor, algumas pessoas dizem que talvez ele fosse julgado no tribunal de Pequenas Causas. O que foi importante naquele processo do Collor? As institui��es se mostraram muito fortes. O Brasil passou por um governo de transi��o, que foi o governo Itamar (Franco). Acabou sendo o governo da estabilidade da moeda, talvez um dos maiores avan�os estruturais. Mas muita gente tinha preocupa��o, n�s t�nhamos uma democracia de seis, sete anos. O que transformar� o pa�s numa republiqueta � se as nossas institui��es se curvarem ao peso do governo, � press�o do governo.
O PSDB estaria preparado para um eventual governo de coaliz�o com o PMDB?
Essa nunca foi uma quest�o discutida internamente. Acho que o pa�s, para iniciar um processo de retomada do crescimento com as medidas necess�rias, precisar� ter um presidente legitimado.
O PSDB n�o teme que um governo Michel Temer, se vier, construa uma alternativa por dentro que possa tirar a posi��o do PSDB hoje?
N�o posso especular. Se houver um governo Temer, vamos ter que nos reunir e discutir. O PSDB tem uma responsabilidade. N�s, desde o fim da elei��o, nos reconectamos com setores da sociedade dos quais est�vamos divorciados, que h� d�cadas n�o davam bola para o PSDB, nem o PSDB se preocupava com eles. A forma como essa elei��o se polarizou no fim despertou um peda�o do Brasil, que, de alguma forma, se identificou com o PSDB. E o nosso papel � manter isso vivo. Digo permanentemente: nosso foco n�o pode ser apenas a disputa congressual. Aqui, somos minoria. Nosso discurso � para fora. O PSDB �, hoje, o partido sintonizado com grande parte das pessoas que est�o indignadas com tudo o que est� a�. E o que n�s temos que fazer? Temos que nos mostrar preparados para iniciar um novo ciclo no Brasil, seja agora, seja no fim deste mandato.
O que faltou em 2014 para o PSDB vencer a elei��o?
Voto, n�? (risos). Mas vou responder com muita franqueza: foi uma luta absolutamente desigual. N�o tenho receio de repetir: n�o perdi para um partido pol�tico. Perdi para uma organiza��o criminosa que se apoderou do Estado, que se financiou e financiou seus aliados, inclusive para ampliar a sua coliga��o, para garantir tempo de tev�. Utilizou empresas p�blicas, como os Correios, de forma absolutamente conden�vel. Mentiu aos brasileiros. Nunca se manipulou tanto o Estado por um projeto de poder. E o terrorismo eleitoral? Houve cidades no interior do Maranh�o em que tive, no segundo turno, 7%. Isso porque as pessoas n�o tiveram a op��o de votar em outra candidatura. Era votar (no PT) ou perder o Bolsa Fam�lia. Carros de som andavam nas regi�es remotas, era a mesma grava��o, temos isso no processo: “Se votar no 45, seu t�tulo de eleitor est� cadastrado e voc� ser� automaticamente desligado do Bolsa-Fam�lia, do Minha Casa, Minha Vida”. N�o foi uma elei��o com um grupo pol�tico, na qual a gente pudesse ter debatido ideias e projetos para o pa�s. Tivemos uma presidente que mascarou a verdade, iludiu, adiou medidas, que � o mais grave. Al�m da mentira, medidas que poderiam ter sido tomadas um ano antes da elei��o, ou no pr�prio ano da elei��o, para minimizar o custo para os brasileiros, n�o foram tomadas.
O senhor fala em reajuste de energia?
Sim, a desconcentra��o dos reajustes de energia, de combust�veis, a requalifica��o dos programas. O Pronatec saltou de R$ 5 bilh�es para R$ 7 bilh�es no ano da elei��o. Agora, vai cair para menos de R$ 5 bilh�es este ano. O Fies saltou de R$ 7 bilh�es para R$ 13 bilh�es, ou seja, quase dobrou em um ano. Que fiscaliza��o que tinha? Nenhuma. Era dar, distribuir. Aquele seguro-defeso, de 2013, que era de R$ 500 milh�es, passou para R$ 2 bilh�es e agora vai cair para R$ 300 mih�es. O que fizeram? Usaram o que n�o tinham, distribu�ram como se fosse aquela velha e antiga compra de votos. Sabiam que era preciso contingenciar recursos. Transferiram a responsabilidade para a Caixa, o Banco do Brasil, o BNDES, para pagar contas do Tesouro, pegaram dinheiro do Tesouro para ampliar esses programas. Anunciaram isso como a oitava maravilha do mundo, sabendo que, no ano seguinte, n�o teriam condi��es de mant�-los. Perdi para essa estrutura. O que fizemos foi quase que milagroso. Por isso, a dimens�o da indigna��o das pessoas hoje. Isso funciona quase como uma gangorra. Como n�s polarizamos no final, essa derrocada do PT valoriza o PSDB.
Como assim?
N�s temos pesquisa, com algo que antes era inimagin�vel para n�s. Na faixa de 16 a 24 anos, temos — o PSDB, n�o sou eu — muito mais aprova��o do que o PT numa faixa que sempre foi deles e era dific�limo para n�s do PSDB. N�o duvido de que numa pr�xima pesquisa venhamos na frente no geral.
A pesquisa da CNI mostrou que o senhor est� � frente de Lula e que Geraldo Alckmin tamb�m est� no p�reo. Como est� isso dentro do PSDB? O senhor tem a primazia por ter resgatado a hist�ria do partido na sua campanha. Isso � suficiente?
Eu me orgulho muito de ter ajudado a resgatar o legado do PSDB. O PSDB, at� a nossa candidatura, estava no div�, vivia uma crise de consci�ncia, n�o sabia se defendia ou n�o defendia (as privatiza��es), atemorizado com as cr�ticas. (A campanha do resgate) foi algo que n�o foi improvisado. Desde o in�cio, falei que nosso caminho era resgatar. Se n�s, que falamos em nome do partido, n�o temos firmeza para mostrar que confiamos no que fizemos, imagine os eleitores que s�o mais distantes da gente? Ent�o, esse foi um ponto de inflex�o do PSDB. N�s nos reconciliamos com a nossa hist�ria e come�amos a brigar por ela. Esse � um grande ativo que reconstru�mos. Mas n�o podemos cair na armadilha de antecipar o cen�rio eleitoral. � muito positivo o PSDB ter um nome como o do Geraldo e o do Serra, que estar� se movimentando. O que temos que ter � responsabilidade para, no momento da decis�o, o candidato ser aquele que tem melhores chances de vencer. A� � pelo Brasil, n�o � nem por n�s. Se amanh� tiver um candidato em melhores condi��es do que eu, isso vai ficar claro. Se n�o, ficar� claro para os outros tamb�m. O meu papel agora, reeleito presidente do PSDB pelos pr�ximos dois anos — e a� a campanha me ensinou muito — � ir a lugares onde a gente inexiste. Um partido como o PSDB, op��o real de poder, tem nove estados sem um deputado. Um! Tem sete, oito, em que temos um.
Ent�o, a miss�o � crescer…
A miss�o � reorganizar o partido. Estou lan�ando uma grande campanha de filia��o, com foco nas universidades. Vamos para a periferia, enfrent�-los nesse discurso tamb�m, resgatar o nosso papel — o que ainda n�o consegui fazer como gostaria, de in�cio, dos programas de transfer�ncia de renda. Isso come�ou com o PSDB. E o governo do PT est� tirando isso agora. O PT ampliou, mas est� tirando com a infla��o. Come�o em Alagoas, em 14 de agosto, uma ampla campanha conectado em videoconfer�ncia com o Brasil inteiro. Estamos preparando nossa milit�ncia jovem, que j� est� ganhando DCEs e DAs, o que n�o acontecia.
Na �ltima conven��o se viu um PSDB mais jovem e diverso. � isso?
Estamos apostando nisso. Meu papel � esse. O PSDB est� sem medo. Perdeu o medo de ir para os debates. Nossa garotada, minha filha estuda na PUC, � t�mida, n�o entra, mas outro dia me dizia: h� dois anos, era PT com PCdoB, a� vinha o cara do PSol, do PSTU, e se restringia a essas disputas. Agora, n�o. Tem uma chamada onda azul nas universidades baseada no PSDB, num pensamento mais liberal. Ent�o, houve esse despertar. Isso � a coisa mais bacana que est� ocorrendo.
Minas est� resolvido em rela��o � derrota?
N�o escondo que foi uma frustra��o. Tenho que ter humildade para reconhecer os nossos erros ali, talvez um distanciamento maior meu. Nossa campanha, n�o obstante a qualidade do candidato (Pimenta da Veiga), n�o engrenou. Mas hoje as pesquisas mostram que eu teria mais de 70% das inten��es de voto.
Houve uma certa delega��o para a estrutura que t�nhamos l�. Talvez eu n�o tenha percebido que havia certa fadiga tamb�m, que n�o existia no fim do meu mandato. Tem gente que acha que fui governador de Minas at� a elei��o (presidencial). As pessoas n�o lembram direito que eu n�o era governador e estava aqui h� quatro anos. Talvez eu n�o tenha calibrado bem isso, mas � do jogo pol�tico. A pol�tica tem isso mesmo, fadiga de material.
Essa caravana a partir de Alagoas tem como ideia dar uma dimens�o nacional do PSDB?
Temos uma programa��o intensa. A cada 15 dias estaremos visitando dois estados. Estamos batizando de “Caravana da Gratid�o”. Vamos fazer algo sem preocupa��o eleitoral, reunindo esses setores do partido: juventude, mulheres, negros, �rea sindical. � um grande momento para o PSDB. Vamos para Alagoas, para o Rio Grande do Sul; estive em Manaus e foi extraordin�rio.
Nesses locais onde voc�s n�o s�o conhecidos, o trabalho ser� mais forte?
Temos que ter algumas prioridades. Encontrar o discurso para o Nordeste � um grande desafio, sempre foi para n�s. Mas isso nunca esteve t�o f�rtil quanto agora. Como agora n�o � processo eleitoral, as coisas podem ser feitas mais devagar. A nossa ideia � mostrar que quem tirou as conquistas que o Nordeste teve foi este governo.
Como o senhor v� os movimentos do Lula em rela��o a Dilma? O Lula sempre teve uma boa rela��o com o senhor, n�o teve?
Eu sempre tive com o Lula uma rela��o republicana. Eu o conheci aqui em Bras�lia (na �poca da Constituinte). Eu n�o sei se ele tem rancor comigo, porque ele me deixava no banco no time do Congresso. Mas, no fim da campanha, ele come�ou a — n�o sei se pelo receio do que podia vir — se apequenar no discurso, com ataques absolutamente sem sentido para um ex-presidente da Rep�blica. Acho que o Lula hoje � um l�der cercado por todos os lados e quase � beira de um ataque de p�nico. Ele v� que o grande legado dele est� indo embora. Mas a responsabilidade que ele quer transferir para a presidente, ele n�o pode fazer, porque � dele. Ele � respons�vel por este governo.
Dentro desse discurso, tem a afirma��o do golpismo. Como o senhor lida com isso?
Isso � uma t�tica do PT absolutamente conhecida e absolutamente clara. Se voc� fala que o Tribunal de Contas vai investigar, o PT diz que � golpe. Se disser que o TSE tem que averiguar irregularidades nas contas, � golpe. Se o povo vai para a rua, � o golpe da direita. Se voc�s publicam que o Vaccari (Jo�o Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT) foi preso e que o delator disse que foi dinheiro para a campanha, � imprensa golpista. Nessa estamos todos juntos, somos todos golpistas, menos o PT.

O PSDB perdeu o medo do Lula?
Perdeu. Hoje, � o Lula quem tem medo do PSDB.
At� as 19h de 26 de outubro, a elei��o estava na sua m�o. Mas tudo mudou. Como estaria a vida de A�cio Neves em caso de vit�ria?
A minha vida pessoal talvez n�o estivesse t�o tranquila como est� hoje. Agora consigo estar com meus filhos de manh� cedo, na hora do almo�o, consigo chegar para estar com eles antes de dormir. Para o Brasil, se n�s tiv�ssemos ganho as elei��es, a perspectiva seria outra. N�o pelo meu m�rito pessoal. Talvez meu m�rito seria montar uma equipe extremamente qualificada, e n�o passaria pelo drama da presidente da queda da confian�a. Porque eu faria coisas nas quais acredito. A presidente est� fazendo coisas nas quais ela n�o acredita. Ela terceirizou a economia para algu�m que defende as teses que ela combateu a vida inteira; e a pol�tica para quem ela desprezou durante os quatro primeiros anos de seu mandato.
O senhor teria convidado o Levy?
Para ser ministro? N�o, n�o teria convidado o Levy.
Qual seria o ajuste econ�mico do PSDB?
O ajuste que o PT faz � absolutamente rudimentar. Ele tem dois pilares e n�o conseguiu sair deles: aumento de carga tribut�ria e supress�o de direitos. O ajuste que n�s far�amos geraria expectativas de longo prazo, o que o PT n�o consegue. Teria o fortalecimento das ag�ncias reguladoras e mais previsibilidade. Sabia que passar�amos por tempos dif�ceis e n�o escondi isso durante a campanha. Quem escondeu foi a presidente. Ela ficava nos acusando de que far�amos ajuste e n�o me permitiu sequer esse debate, que seria saud�vel para o Brasil. Que tipo de ajuste, onde poderiam ser feitos cortes? Ela n�o admitia. Como fazer o processo de enfrentamento da infla��o galopante? “N�o tinha infla��o.” Como trazer de volta os investimentos? “Investimentos est�o vindo para o Brasil, o Brasil vai voltar a crescer”. Em um dos debates, eu disse que o Brasil cresceria 0,3%. “O Brasil vai crescer mais de 3%, que n�meros s�o esses, voc�s s�o uns pessimistas.” Cresceu 0,1%. N�o � poss�vel que ela n�o soubesse disso.
A contra��o econ�mica seria inevit�vel, independentemente de quem ganhasse as elei��es?
Haveria contra��o, mas ela se agrava porque o governo n�o inspira confian�a. Como voc� supera retra��o? Com investimentos p�blicos e privados. Os privados n�o vieram, e os p�blicos foram reduzidos 35% neste primeiro semestre. Essa equa��o para a qual estamos indo � altamente recessiva. Com juros na estratosfera para enfrentar uma infla��o que n�o � de demanda, � de pre�os controlados. N�o temos um projeto de retomada de ind�stria, de moderniza��o, de competitividade, de investimento em produtividade. Os investimentos em infraestrutura ficaram no meio do caminho. Qual � a realidade perversa do Brasil hoje? N�s voltamos a ser o que �ramos h� 60 anos, exportadores de commodities.
Como o senhor encara a quest�o do governador Fernando Pimentel?
� preciso que se investigue. N�o tenho informa��es que me permitam antecipar qualquer cen�rio. Mas todos n�s, homens p�blicos, temos que responder a quaisquer quest�es que surgem. Tenho, e sempre tive, uma rela��o muito positiva com o Pimentel. Agora, as den�ncias que est�o vindo pela Pol�cia Federal t�m de ter uma explica��o. Eu n�o tor�o para que Minas se desorganize, para que o governador de Minas seja expulso. O que falta em Minas hoje � respeito �s conquistas que s�o dos mineiros. � preciso que ele pare de governar olhando pelo retrovisor, talvez para mascarar a baixa qualidade do seu governo e a impossibilidade de ele cumprir as promessas que fez para a popula��o. Est� na hora de ele tamb�m assumir o governo.
Quando o senhor fala em olhar para tr�s, fala de Eduardo Azeredo, que, para voc�s, tamb�m � uma quest�o cara?
Azeredo est� respondendo a processo. Tem que ter o direito de se defender e, assim como qualquer outro, se for responsabilizado, n�o ser�, como outros, tratado como her�i nacional. Eu me refiro a uma tentativa de desconstru��o de avan�os que fizeram de Minas refer�ncia nacional e internacional.
Voc�s ter�o candidatura pr�pria � Prefeitura de Belo Horizonte?
� essa a nossa inten��o.
Ser� mantida a alian�a com o PSB?
Podemos at� manter a alian�a. Essas elei��es municipais v�o pegar o PSDB em um �timo momento e o PT nas cordas. Se hoje a m�scara j� caiu para alguns, no ano que vem vai cair para todos. No ano que vem vamos ver, infelizmente, o agravamento da situa��o econ�mica, fruto da obra do governo do PT. Estamos fazendo um levantamento no partido das 300 maiores cidades do Brasil. Sempre aberto para alian�as. J� h� um deslocamento de aliados tradicionais do PT que n�o querem disputar elei��es pr�ximos ao PT. Temos que fazer esse mapeamento. Onde o PT tiver candidatos competitivos, eles dever�o ser fortalecidos. Mas devemos estar abertos para apoiar candidatos que estejam em nosso campo e que sejam advers�rios do PT porque � um pren�ncio para frente, que j� desenha uma alian�a, naquela regi�o, para 2018.
A qualidade de vida em Bras�lia � tudo

Estou adorando ficar mais tempo aqui em Bras�lia. Minha vida ficou mais racional. Passo um fim de semana aqui, outro em Minas. Agora consigo estar com meus filhos de manh� cedo, na hora do almo�o, consigo chegar para estar com eles antes de dormir. Estou com filho pequeno, n�? (o casal de g�meos). Bras�lia permite uma qualidade de vida que n�o h� em outra cidade grande. O lugar que mais me atrai aqui � o Jardim Bot�nico. Estou correndo l� direto, porque fica perto de casa. � lindo. Tem uma pistinha que d� quase cinco quil�metros. J� levei as crian�as l�. � o lugar onde tenho ido. Para mim, foi a novidade, porque o resto eu j� conhecia.