(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

"Eles querem companhia no banco dos r�us", ataca Cunha ap�s ser denunciado

Presidente da C�mara dos Deputados afirma que den�ncia da PGR contra ele � uma tentativa de tirar o foco das acusa��es sobre outros envolvidos no esc�ndalo e ataca a incapacidade de Dilma de comandar o pa�s e sair da crise


postado em 21/08/2015 08:19 / atualizado em 21/08/2015 08:48

"Eles fizeram isso para tentar ganhar for�a nas manifesta��es de hoje (ontem). E a�, o que acontece? Ele (Janot) quis gerar duas manchetes. N�s n�o nascemos ontem" (foto: Minervino J�nior/CB/D.A Press)

O sinal sonoro da mensagem do celular � ouvido pouco depois das 16h. Eduardo Cunha interrompe a entrevista, mira o telefone e permanece em sil�ncio por segundos infind�veis. E n�o consegue esconder a ansiedade. O rosto chega a mudar de cor. A partir daquele momento, h� uma tens�o poucas vezes vista naquele gabinete da presid�ncia da C�mara dos Deputados. O peemedebista acaba de receber a informa��o de que o procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a den�ncia contra ele por corrup��o e lavagem de dinheiro. Antes mesmo de acabar a entrevista, entram na sala os deputados L�cio Vieira Lima (PMDB-BA), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Mendon�a Filho (DEM-PE) e Carlos Marun (PMDB-MS). Permanecem ali, parados, dando um tom ainda mais solene � not�cia do dia.

Eduardo Cunha evitou detalhar a den�ncia da Lava-Jato. Antes mesmo de receber a mensagem confirmando que a pe�a da Procuradoria-Geral da Rep�blica havia chegado ao STF, ele disse que suspeitava do teor do documento. “N�o posso falar sobre conte�do da Lava-Jato, n�o posso entrar num n�vel de riscos, de detalhes aos quais eu precisarei responder juridicamente”, disse, considerando iniciado o processo jur�dico. “Pois o processo pol�tico j� existe, mas o processo jur�dico tem de respeitar o ritual. Eu n�o posso atropelar o meu advogado, n�o posso atropelar aquilo que ele vai precisar para atestar (a minha inoc�ncia), n�o posso atropelar os argumentos que eu vou precisar utilizar.”

Em 53 minutos de entrevista, o peemedebista atacou o governo, os petistas, a Advocacia-Geral da Uni�o (AGU) e o procurador-geral da Rep�blica. Na avalia��o dele, a den�ncia da Lava-Jato � apenas uma tentativa de tirar o foco do PT. “Eles querem companhia no banco dos r�us. Eles acham que, se ficar todo mundo igual, � mais f�cil para poder resolver”, disse.

No in�cio do m�s, Cunha se irritou com a AGU por ter sido avisado previamente da entrada do �rg�o no Supremo para anular as provas contra ele colhidas na C�mara em maio. “A AGU me prejudicou. N�o tem a menor chance de ganhar aquele agravo. Eu vou tomar uma cacetada desnecess�ria.” No fim do dia, depois de ler as 85 p�ginas da den�ncia, o peemedebista divulgou nota � imprensa. Na �ltima quarta-feira, com o an�ncio de que a den�ncia estaria pronta, Eduardo Cunha assegurou que n�o renunciaria em nenhuma hip�tese. Ontem, durante a entrevista, disse que a estrat�gia da PGR em anunciar a a��o, ainda na quarta-feira, rendeu “duas manchetes”. “Eles fizeram isso para tentar ganhar for�a nas manifesta��es (a favor do governo).” Cunha foi o principal alvo de quem foi para a rua ontem em defesa da presidente Dilma Rousseff, em 25 unidades da Federa��o.

Por que o senhor n�o quer tratar sobre os termos da den�ncia?
Eu n�o posso correr determinados tipos de riscos entrando em n�veis de detalhes que eu precisarei responder juridicamente. A partir de agora, deixa de ser um processo pol�tico e passa a ser um processo jur�dico. Mas o processo jur�dico tem de respeitar o ritual. Eu n�o posso atropelar o meu advogado, n�o posso atropelar aquilo de que ele vai precisar para atestar (a minha inoc�ncia), n�o posso atropelar os argumentos que vou precisar utilizar. Por isso eu me insurgi com o neg�cio da Advocacia-Geral da Uni�o. A AGU me prejudicou. Al�m de ter sido uma agress�o, me prejudicou.

Como assim?
A AGU utilizou argumentos que s�o argumentos de defesa. N�o era para serem usados agora. S�o argumentos que devem ser utilizados pelo meu advogado no momento correto. Voc� n�o entra com agravo tr�s meses depois; o agravo j� perdeu o argumento h� muito tempo. Eu vou tomar uma cacetada desnecess�ria, n�o tem a menor chance de ganhar aquele agravo. Qualquer estagi�rio de direito sabe que o que ele (Lu�s In�cio Adams) fez foi uma agress�o. Ele usou a Advocacia-Geral da Uni�o, como um �rg�o do governo, para me criar problema. Agora terei de tomar cautela.

Qual � a avalia��o do senhor sobre o an�ncio antecipado da den�ncia?
Eles fizeram isso para tentar ganhar for�a nas manifesta��es de hoje (ontem). E a�, o que acontece? Ele (Janot) quis gerar duas manchetes. A manchete de hoje (ontem) e a manchete de amanh� (hoje). N�s n�o nascemos ontem.

O senhor chegou a preparar um discurso para fazer em plen�rio?
Discurso? Jamais farei discurso. Eu n�o vou levar para o plen�rio essa confus�o. Nem por um minuto. Vou deixar eles falarem � vontade, mas n�o vou levar para o plen�rio. Aqui � a institui��o.

O governo trata a pauta que o senhor leva a plen�rio como pauta-bomba. � disso que se trata?
Por que as pautas que o governo acaba acordando s�o boas e as outras s�o ruins? Veja bem, o que voc� est� falando de pauta-bomba — a PEC 443 (que trata de subs�dios da carreira jur�dica) — estava na pauta direto. Foi colocada aqui pelos l�deres, eu retirei, houve acordo de governo com todos os l�deres aqui na Mesa. Marcaram para agosto, o tempo que o governo precisava para chegar a um acordo. Quando chegou agosto, foi para a pauta. A�, o governo chegou e disse: “Voc� tira”. A� eu disse: “Eu n�o vou tirar. Voc�s entram com requerimento, como eu fa�o com todas as mat�rias”. Eles entraram com requerimento e perderam. A� a culpa � minha? Pelo contr�rio, eu paralisei a sess�o quando houve requerimento, sa� de l� para uma reuni�o de emerg�ncia, tentei fazer acordo, suspendi, passei para outro dia. Tentei acordo de novo e n�o consegui. Fui para a imprensa e dei uma declara��o de que n�o votaria o segundo turno enquanto n�o votasse a PEC 172 (a do pacto federativo), promulgada. Ent�o, eu sou detentor de pauta-bomba? Por que voc�s n�o v�o cobrar que o (presidente do Senado) Renan (Calheiros, do PMDB-AL) devolveu a medida provis�ria da desonera��o? Por que voc�s n�o cobram que atrasou dois meses e meio para votar um projeto que eu j� mandei para l� desde junho? E eu sou detentor de pauta-bomba? Quem aprovou os reajustes do Judici�rio? N�o foi o Senado este ano? Eu que fa�o pauta-bomba? Quem foi reclamar que aprovou o fator previdenci�rio? Emenda votada, o que eu posso fazer? E ele (Renan) tamb�m n�o aprovou no Senado? Para o governo, falta base, o governo n�o tem base. O governo perdeu a pr�pria base.

Como est� a rela��o do senhor com Renan Calheiros?
Nos encontramos na ter�a-feira, participamos de um evento em conjunto, normal, educado...

O senhor pensa em fazer as pazes com o governo?
Todos os ministros que me procuraram, eu atendi. O ministro da Sa�de, na semana passada, esteve aqui querendo aprovar um projeto de decreto legislativo. Eu fui l�, impedi a vota��o do decreto, patrocinei o acordo. N�o tem esse neg�cio, qualquer um que venha aqui institucionalmente tratar de problemas de governo pode tratar normalmente. Eu n�o vou procurar ningu�m, mas estou aqui � disposi��o.

A que o senhor atribui a den�ncia da PGR?
Eles t�m uma velha mania de querer companhia no banco dos r�us.

Eles quem?
Alguns que gostam de companhia. Eles acham que, se ficar todo mundo igual, � mais f�cil para poder resolver. Na pr�tica, aconteceu o seguinte: eles come�aram a semana com uma crise deles, por causa da manifesta��o, a� tentaram transferir a crise para c�. � simples, culminando com a manifesta��o hoje (ontem) que eles organizaram.

O procurador-geral, Rodrigo Janot? N�o quero fazer acusa��o. Mas o senhor j� falou anteriormente sobre esse tema...
Sim, a� j� est� falado. A� voc� tira a conclus�o.

Ao contr�rio de outras pessoas envolvidas, o senhor foi mais direto contra a PGR...
Eu falei tecnicamente, ponto a ponto, comparei as situa��es.

"Eles acham que, se ficar todo mundo igual, � mais f�cil para poder resolver. Eles come�aram a semana com uma crise deles, por causa da manifesta��o, a� tentaram transferir a crise para c�" (foto: Minervino J�nior/CB/D.A Press)

Os ataques de petistas contra o senhor se intensificaram ap�s o rompimento com o governo?
Na pr�tica, quando eu anunciei o rompimento, qualquer ato meu parece retalia��o. Isso foi o que voc�s “compararam”, entre aspas. Na realidade, n�o tem nada diferente. Ent�o, qualquer coisa que eu fale, estou retaliando. Isso n�o corresponde � verdade.

Na �poca em que o senhor anunciou o rompimento, algumas pessoas avaliaram como um arroubo, um ato a�odado.
O rompimento foi para deixar claro, para eu ficar confort�vel nas minhas cr�ticas ao governo, em todos os sentidos, e na tentativa de fazer meu partido sair do governo. � para deixar clara a minha milit�ncia. A presid�ncia da C�mara n�o rompeu com o governo, mas sim o deputado.

� o momento mais cr�tico da sua trajet�ria?
J� fui denunciado, julgado e absolvido por unanimidade no Supremo. O ministro Gilmar Mendes aceitou a den�ncia, ela foi para o pleno, que a aceitou, por 5 votos a 3. Na turma, por 5 a 0, fui absolvido. Ent�o, j� vivi esse momento. S� que, ali, foi uma den�ncia feita pelo Roberto Gurgel. Num fato absolutamente absurdo, ele promoveu uma den�ncia pelo entendimento dele. Mas voc� n�o me viu sair contestando, atacando, politizando. Posso n�o ter concordado, lutei, acabei absolvido pelas raz�es que eu tinha, pelo m�rito. Era l�der do PMDB, assim permaneci como r�u, e, como l�der, acabei absolvido, �s v�speras da elei��o. Fui julgado em agosto. Se fosse condenado, estava cassado. Ent�o, j� vivi esse processo. Aqui, na Casa, h� 36 deputados com exposi��o penal, � normal. Temos de aprender que existe a presun��o de inoc�ncia para todos. � o meu pr�prio exemplo. O Renan n�o est� denunciado? Ningu�m est� cobrando do Renan afastamento porque est� denunciado — e ele est� denunciado, n�o por esse caso, mas por outros problemas dele. Ent�o, por que s� se cobra essa postura do presidente da C�mara? Ele � chefe de um Poder, do Congresso, eu sou s� da C�mara. Embora exista o fato de eu estar � frente na sucess�o (presidencial), o peso dele � maior do ponto de vista de import�ncia, por chefiar o Congresso. Ent�o, n�o vejo como um dos momentos mais dif�ceis na minha trajet�ria.

O deputado Arnaldo Faria de S� (PTB-SP) disse ontem que haveria um acord�o para livrar Renan e culpar o senhor.

N�o vou comentar.

Tem a presun��o de inoc�ncia, mas h� o desgaste jur�dico, com deputados pedindo seu afastamento...
S�o os mesmos deputados, advers�rios de sempre, dois que perderam a elei��o para mim, mais uns 10. N�o s�o nem advers�rios, mas desafetos. � diferente. Estou habituado com eles. Pelas circunst�ncias, � normal. N�o sou unanimidade nem pretendo ser. Eu sou s� a maioria. Agora, aprendi que a maioria � que decide na vida. Eles fazem oposi��o a mim desde o primeiro dia. Eles t�m de explicar � por que fazem oposi��o a mim em tudo. Eles fazem oposi��o at� quando eu vou ao banheiro.

O senhor � habitual nas redes sociais. Incomoda-se com as cr�ticas?
Existem cr�ticas de rob�s dos meus advers�rios, todos. Sou habituado a ver tudo. Por fim de semana, bloqueio de 200 a 300 tuiteiros. Isso � o que eu tenho paci�ncia de ver. Vou at� onde tenho saco. � normal, s�o rob�s.

Fizemos uma entrevista com Jean Wyllys no �ltimo domingo. E ele fala que o senhor parece querer uma revanche em rela��o � Constitui��o Federal de 1988. Isso repercutiu nas redes.
Esse eu nem perco tempo comentando. N�o merece coment�rio. � advers�rio do Rio de Janeiro, de v�rios temas, circunst�ncias, teses. Algu�m que tem projeto defendendo a mudan�a de sexo de crian�as sem a autoriza��o dos pais n�o merece cr�dito. Como � que voc� acha que uma crian�a de 12 anos pode, sem autoriza��o dos pais, mudar de sexo? � �bvio que tenho de combater coisas dessa natureza. � a posi��o, � algu�m protegido por voc�s, da imprensa. Porque se eu fizesse um projeto assim, seria crucificado.

A imprensa � cr�tica em rela��o �s suas posi��es?
Existe um pouco de ran�o pela posi��o de eu ser evang�lico e pelo meu temperamento de contestar as coisas com muita veem�ncia. H� tamb�m o ran�o daqueles contra quem movi processos. Admito que levo as brigas aos extremos. Agora at� estou mais light.

O senhor se arrepende?

Nenhuma briga � boa, se puder evitar, melhor. Pago o boi para n�o entrar e a boiada para n�o sair.

Mas essa briga atual � maior, n�o?
Essa � pol�tica, e tem de ser tratada de acordo com sua dimens�o. O tamanho que voc� tem � o tamanho da briga em que voc� est�. Quanto maior voc� est�, maior a briga.

Mas h� a avalia��o de que sua fragilidade aumentou..
Estou t�o fragilizado que ontem (quarta-feira) aprovei, com 320 votos, em segundo turno, a redu��o da maioridade penal. Isolado com 320 votos? Na semana passada, aprovei, em segundo turno, o financiamento privado (de campanhas). Nesta semana, tamb�m passou o FGTS, que � bandeira minha. Acho errado o poder que me d�o �s vezes. O poder � da maioria. A gente fala e expressa a posi��o da maioria. Acho gra�a, as duas coisas est�o erradas. Quando perco alguma coisa, estou isolado. Quando passo, sou superpoderoso. Come�o a semana parecendo que tenho lepra; aprovo, viro superpoderoso. Acho que essas interpreta��es de isolamento ou de poder v�m muito pela necessidade de se comentar not�cias que n�o s�o amparadas pelos fatos. Isso � normal, faz parte do tratamento que a m�dia tem de ter na cobertura de pol�tica. N�o acho que seja uma coisa nem outra. N�o tenho raz�o para ficar isolado nem de ser superpoderoso, ainda mais quando estiver representando institucionalmente a C�mara. O que eu tenho que fazer � colocar as pautas. N�o posso obrigar ningu�m a votar comigo. Entregaram os an�is para n�o perder os dedos. Logo, n�o acho nem que fico isolado nem que sou superpoderoso.

Aliados dizem que o senhor cometeu erros na quest�o do relat�rio do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) sobre a reforma pol�tica...
O exerc�cio do poder � limitado e ele acaba, pelas decis�es que voc� � obrigado a tomar, a gerar algum tipo de sequela. Isso � inevit�vel. Da mesma forma que eu posso gerar sequela em alguma pessoa que era mais amiga, provavelmente consegui atrair quem era contra. Um dos grandes aliados que eu tenho hoje aqui � o Rog�rio Rosso (PSD-DF), que coordenou contra mim, votou contra mim. No caso do Marcelo Castro, me incomoda pessoalmente, porque gosto e tenho apre�o por ele. N�o gostaria que tivesse sido desse jeito. Foi um erro meu escolh�-lo como relator. Achei que ele combinaria o que fazer com l�deres, mas ele n�o fez isso. Entendeu que tinha de votar como queria. Eu tinha um acordo com o Senado de que n�o mexeria no texto dos senadores, e ele sabia. Ele estava conduzindo um texto maluco na comiss�o, e os l�deres n�o queriam. Foram eles que abortaram a vota��o. Completaram as 40 sess�es e tive de trazer para o plen�rio. � l�gico que Castro ficou incomodado, mas tive de seguir os l�deres, n�o tive alternativa. Faz parte do exerc�cio do poder. Deve ter mais quatro, cinco sequelas. � poss�vel.

E em rela��o �s manobras por emendas aglutinativas?

N�o fiz nada que j� n�o tenha sido feito antes na Casa. Tanto que ningu�m conseguiu ganhar no Supremo essa quest�o.

Mas a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) ganhou na quest�o das contas...
Isso � outra coisa. Ela pediu para suspender a aprecia��o das contas (da Presid�ncia da Rep�blica) pela C�mara. Na minha modesta opini�o, a decis�o do ministro (do STF) Lu�s Roberto Barroso foi equivocada por tr�s fatores. Primeiro, a a��o perdeu o objeto porque as contas j� haviam sido votadas. Segundo, a Rose � ileg�tima como presidente para propor. Ela n�o votou na comiss�o, tinha de propor como senadora, tanto que foi contestada violentamente na comiss�o. Terceiro, a autoridade coautora n�o sou eu, mas o presidente do Congresso. Votei um decreto que me foi distribu�do pelo presidente do Congresso para a C�mara votar. Tr�s contas foram assim, e uma foi mandada para o Senado, que a votou, e eu votei na C�mara. Esse conceito de sair de comiss�o mista e s� votar em sess�o do Congresso resulta que n�o votaremos mais acordos internacionais nesta Casa. Tem de ser tudo em sess�o de Congresso. E ainda tem outra quest�o: ningu�m pode dar modula��o em liminar. Apenas o plen�rio do Supremo, com oito votos. Pode at� ser que o pleno do Supremo, na a��o pr�pria, entenda que as contas t�m de ser votadas no Congresso e at� module a decis�o, mas n�o nessa a��o. Mas s�o quest�es completamente diferentes. Ela n�o entrou contra a emenda aglutinativa. Essas s�o previstas no regimento e sempre foram utilizadas na Casa. Se voc� pegar a MP dos Portos, por exemplo, todas eram aglutinativas, e a maioria foi feita por mim, aceita e votada. N�o inventei novidade. Acolhi o que era o regimento e s�o dois temas diferentes. E estou tranquilo, tanto que o Supremo n�o reformou qualquer decis�o.

Vem a� uma s�rie de pedidos de impeachment. Como eles ser�o processados na Casa?
Da forma como eu sempre falei publicamente. Eu pedi para que dessem os pareceres t�cnicos sobre aqueles que eu n�o recusei pelo requisito formal. Com base nesses pareceres t�cnicos, vou decidir. J� declarei publicamente e jamais modifiquei minha posi��o em rela��o a impeachment. Se pegar minhas declara��es, voc� n�o ver� qualquer declara��o conflitante. Acho que o impeachment n�o � recurso eleitoral. O Brasil n�o pode ser tratado como republiqueta. O mandato anterior j� se encerrou, ent�o o pedido tem de se basear em fatos decorrentes deste mandato. Agora, isso n�o impede que algu�m apresente alguma coisa em outro sentido. Isso n�o vai mudar com alinhamento pol�tico. Temos de ter respeito pelas institui��es e respeitar a legitimidade de cada uma.

E esse pacote para evitar uma crise mais grave e atenuar a situa��o cr�tica do governo?
N�o estou participando de pacto nenhum nem vou participar. Essas coisas que s�o muito subliminares, estereotipadas, acho muito pouco prov�vel que aconte�am desse jeito. Ou o governo se sustenta, ou n�o. Ou a economia melhora, ou n�o melhora. Se voc� coloca as condi��es para que a economia melhore, colocamos. A �nica agenda do governo neste ano foram tr�s medidas provis�rias e um projeto para onerar empresas. N�o houve nenhuma pauta para melhorar a economia. Se o governo quer terceirizar a pauta para melhorar a economia, � melhor entregar o minist�rio para todos os congressistas, porque n�o tem sentido. O governo tem de ter uma pauta, uma agenda, e n�o tem nada disso. Em vez de discutir o impeachment, eles deveriam recome�ar o segundo mandato. Ela devia impeachar esse governo dela, iniciar tudo de novo. Com agenda e pessoas afinadas com essa agenda, ir ao encontro do que ela discutiu na campanha, recompor a base em fun��o dessa agenda. Se o governo n�o tem iniciativa de ser governo, vai ser o qu�? Depender de terceiriza��es, pactos, acord�es? Na minha avalia��o, em vez de discutir o impeachment dela, ela devia discutir o impeachment do governo dela e come�ar de novo o segundo mandato.

Essa proximidade do Planalto com o presidente do Senado � uma tentativa de isolar o senhor?
Veja, � um sistema bicameral. � uma ingenuidade pensar que voc� vai isolar o presidente da C�mara. N�o consegue. Todas as medidas provis�rias come�am e terminam aqui. Os projetos de urg�ncia constitucional come�am aqui e terminam aqui. N�o adianta ele (Renan) aprovar e aqui n�o andar, como tamb�m n�o adianta nada a gente aprovar aqui e n�o andar l�. Tem que aprender a respeitar. Sistema bicameral n�o pressup�e que uma Casa vai se sobrepor � outra. E mais: a pr�pria rea��o corporativa da Casa aqui a esse tipo de movimento � mete�rica contra o governo.

"O PT ainda n�o acabou, nem acho que v� acabar, mas vai, obviamente, ficar muito menor do que j� foi. E n�o ser� mais op��o de poder no pa�s depois do exerc�cio deste mandato" (foto: Minervino J�nior/CB/D.A Press)

Mas essa aproxima��o do Renan fez com que o governo respirasse um pouco…

Sim, talvez seja o seguinte: como h� uma percep��o que est� sem qualquer tipo de apoio no Congresso, quando sinaliza que tem uma Casa que pode estar atuando em conjunto, eles acham que sinaliza uma melhora. � aquela velha hist�ria, o doente est� internado e tira um tubo, mas continua no CTI.

H� quanto tempo o senhor e Dilma n�o se falam?

Acho que uma semana antes de eu ter feito o movimento (de rompimento, em 17 de julho). Foi a �ltima vez que eu falei com ela.

E com Temer?
Quase todo dia.

Os tucanos falam num movimento do PMDB em prol do afastamento da presidenteDilma. O senhor acha que isso � poss�vel, este ano?

Eu n�o vou discutir esse tipo de rela��o. O movimento ao qual eu defendo � que o PMDB saia do governo.

Mas a oposi��o j� n�o est� ocupada pelo PSDB? Tem A�cio, Alckmin… N�o fica uma oposi��o meio lusco-fusco com o PMDB?
A oposi��o perdeu as elei��es para ela (Dilma) e est�, de certa forma, fazendo confronto na continuidade do processo. O PMDB pode, de repente, fazer uma oposi��o diferente. Primeiro, tem que decidir se sai do governo. Pode sair do governo e ficar independente.

Como o vice sai do governo?

Ele n�o sai. Ele est� eleito.

Ele n�o sai e o partido sai?
E se o PT resolvesse sair do governo?

Se o PT sai do governo, fica mal..
Mas n�o tira a legitimidade de Dilma, ela foi eleita. Como n�o tira a legitimidade dele (Temer). Eu n�o estou defendendo disputar espa�o com o PSDB, estou defendendo sair do governo. Sair do governo n�o significa ser oposi��o, pode ser independente. Pol�tica n�o � uma ci�ncia exata. � uma ci�ncia absolutamente inexata. Esses movimentos n�o se d�o por a�. O PMDB pode sair do governo e n�o precisa derrubar o governo. O PMDB s� vai colar sua imagem a essa imagem de um governo ruim que s� 7% da popula��o aprovam. O PMDB tem de sair da agenda dos 7%.

Mas n�o soa uma coisa assim: se aproveitou enquanto estava bom…
N�o. O neg�cio j� est� ruim h� muito tempo. N�o somos n�s. O PMDB n�o manda no governo, nunca mandou, nunca foi respons�vel pela pol�tica econ�mica ou por qualquer pol�tica p�blica desse governo. O governo � o PT, quem manda � o PT, n�s estamos l� apenas para dar apoio parlamentar e fingir que ocupamos espa�o no governo, essa � a verdade. O PMDB tem de se recompor, n�o pode ficar a reboque, dependendo de mais um minist�rio. Porque eu assisti ao Renan dizer que o Temer virou um coordenador de recursos humanos quando ele assumiu a coordena��o pol�tica. N�o foi isso que ele disse? Que o Temer n�o podia virar coordenador de recursos humanos? Talvez ele esteja certo. O pior � que ele (Michel Temer) manda nomear e n�o nomeiam.

Quem vai ser o candidato do PMDB ao Planalto em 2018?

Est� muito longe isso...

Mas o partido vai ter candidato?

Com certeza absoluta.

Eduardo Paes � um nome?
Acho um bom nome. Dependendo do sucesso das Olimp�adas do ano que vem, talvez seja o melhor quadro pol�tico.

O senhor se colocaria como candidato?

Jamais colocaria uma posi��o futura no exerc�cio de uma posi��o presente. Nunca usei os cargos pelos quais passei para fazer disputa pelo seguinte. Quando era l�der, n�o constru� candidatura a presidente da C�mara.

A defesa de projetos considerados pol�micos o atrapalham?

Acho que n�o. Ter posi��o n�o pode ser fator de desabonar ningu�m. Somos obrigados a defender posi��es pelas quais fomos eleitos, todos n�s. N�o sou s� eu. Quando voc� v� o militar subindo � tribuna e defendendo o interesse dos militares, ele foi eleito pelos militares. Se ele n�o os defender, n�o merece estar ali. � diferente do Senado, onde h� representantes dos estados.

Em rela��o �s den�ncias da Lava-Jato, falta, aqui no Congresso, uma defesa mais veemente de alguns pares do senhor?
Eu n�o vou entrar nessa hist�ria.

Estamos falando isso porque, de certa forma, no caso do PT, h� defensores, mesmo depois de den�ncias...
Existe uma guerra interna no PT muito grande. Uma corrente minorit�ria quer aniquilar uma corrente majorit�ria. Isso � claro e n�tido, e qualquer um que conhece pol�tica sabe que isso est� ocorrendo. Essa guerra interna do PT se reflete para fora (do partido). O que uma corrente majorit�ria do PT n�o faria, a minorit�ria faz para constranger a majorit�ria e faz tamb�m para os constranger internamente. S� que � a corrente minorit�ria que est� mandando no governo, n�o a majorit�ria. Por isso o PT est� afastado do governo.

Qual � a corrente que est� afastada hoje?
A do Lula, que � a maioria do partido.

O PT acabou?

N�o. O PT ainda tem um percentual, embora pequeno, pelo tamanho da popula��o, mas ainda tem um percentual de apoiamento pela milit�ncia que ele fez. O PT ainda n�o acabou, nem acho que v� acabar, mas o PT vai, obviamente, ficar muito menor do que j� foi. E n�o ser� mais op��o de poder no pa�s depois do exerc�cio deste mandato.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)