
Desde que chegou ao Congresso Nacional, em 1982, quando eleito deputado federal por Alagoas, Renan, mentor das propostas, vem depurando como poucos a habilidade de se manter no poder. Apesar de processos na Justi�a e amea�a de cassa��o do mandato – que o obrigou a renunciar � presid�ncia do Senado em 2007 –, o filho ilustre de Murici, a 51 quil�metros de Macei�, sempre esteve no primeiro escal�o da pol�tica. Seja ao lado de Fernando Collor de Mello (ent�o PRN), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz In�cio Lula da Silva (PT) ou Dilma Rousseff (PT).
A partir de segunda-feira, a Agenda Brasil ser� tratada como prioridade no Senado. O pacote de medidas apresentado por Renan e abra�ado pelo governo como t�bua de salva��o re�ne 27 propostas sobre equil�brio fiscal, neg�cios e melhoria da prote��o social, com o objetivo de retomar o crescimento da economia. “Essa pauta sugerida pelo senador Renan Calheiros � a pauta do Brasil, indispens�vel para enfrentarmos a nova realidade econ�mica e superarmos a atual crise”, elogiou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Renan, que tem como principal rival no Congresso o presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – com quem tem trocado farpas nas �ltimas semanas –, estava longe do Planalto desde mar�o, quando o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, delator da Opera��o Lava-Jato, disse que o senador participava do esquema de propina na estatal. Novamente pr�ximo a Dilma, que tem Cunha como inimigo declarado, Renan agora aparece como um “fiel da balan�a”, que pode ajud�-la a evitar um agravamento da crise. “N�o � uma colabora��o do Senado, � uma colabora��o do Legislativo. Queremos ser vistos como facilitadores, e n�o como sabotadores”, afirmou o peemedebista, que est� no terceiro mandato como senador e no quarto na Presid�ncia da Casa.
N�o � a primeira vez que ele assume a articula��o pol�tica de planos econ�micos que prometem salvar a economia do pa�s. Assessor da campanha presidencial do tamb�m alagoano Fernando Collor de Mello (PRN), em 1989, com a elei��o do conterr�neo, Renan se tornou l�der do governo na C�mara dos Deputados e um dos defensores mais aguerridos do Plano Collor. Uma das medidas do pacote, lan�ado em 1990 para controlar a infla��o, foi o confisco das poupan�as. “O plano econ�mico � inegoci�vel”, afirmou na �poca, pressionando a aprova��o das medidas pelo Congresso Nacional.
Hoje aliados na c�pula pol�tica de Alagoas – estado governado por Renan Filho (PMDB), herdeiro biol�gico e pol�tico do presidente do Senado –, nem sempre a rela��o entre Renan e Collor, colegas no Congresso, foi amistosa. Ainda em 1990, eles romperam por causa de desaven�as na elei��o estadual alagoana e Renan se converteu num dos maiores cr�ticos do ex-presidente durante o processo de impeachment.
No governo Itamar Franco (1992-1994), o pol�tico assumiu cargo de confian�a na Petrobras e atuou mais nos bastidores, at� retomar o protagonismo no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Eleito senador em 1994, o alagoano tomou posse em 1998 como ministro da Justi�a de FHC, onde permaneceu at� 1999. “H� a express�o ‘si hay gobierno, soy a favor’, e Renan a exerce perfeitamente”, afirma o professor em�rito da Universidade de Bras�lia (UnB), o cientista pol�tico David Verge Fleisher.
Tanto � que, nas elei��es de 2002, o senador j� tratou de se aliar ao ex-presidente Lula, que, pela primeira vez, sairia vitorioso na corrida pelo Planalto. “Renan � um grande articulador pol�tico. Sabe negociar. Na pol�tica, isso � muito valorizado. A Dilma est� no fundo do po�o, ele vai e joga a linha salvadora, o colete salva-vidas”, refor�a Fleisher, que trata a proposi��o da Agenda Brasil como uma estrat�gia de defesa. “Ele est� na lista da Lava-Jato e est� fazendo de tudo para escapar”, opina.
ILESO E Renan tem passado imune pelos processos dos quais foi alvo. Em 2007, chegou a renunciar � presid�ncia do Senado para evitar a cassa��o do mandato. Primeiro, foi acusado de ter despesas pagas por lobista da construtora Mendes J�nior, que bancava as contas de relacionamento extraconjugal do senador. Depois, de comprar r�dios e um jornal de Alagoas em nome de laranjas.
Al�m das duas acusa��es, o senador esteve em meio a pol�micas que envolvem empresas-fantasma, uso de avi�o da For�a A�rea Brasileira (FAB) para ir a festas e outras tantas j� arquivadas. Mas Renan, que completa 60 anos em setembro, sempre encontra um jeito de se reinventar. Mesmo depois das den�ncias, conseguiu se reeleger mais duas vezes presidente do Senado e agora ser tratado, novamente, como convidado de honra nos sal�es do Pal�cio do Planalto.
2015
Um delator da Opera��o Lava-Jato afirma, em mar�o, que Renan recebeu propina em contratos da Petrobras. Rela��o com a presidente Dilma fica estremecida, mas, em agosto, o senador prop�e a Agenda Brasil.
2013
Retorna � presid�ncia do Senado pela terceira vez – ele j� est� no quarto mandato como presidente.
2007
Renan renuncia � presid�ncia do Senado para evitar a cassa��o. Ele foi acusado de ser s�cio, por meio de laranjas, de duas r�dios e um jornal de Alagoas e tamb�m de ter despesas de “relacionamento extraconjugal” pagas por um lobista da Mendes J�nior.
1998
Ent�o senador pelo PMDB, Renan toma posse como ministro da Justi�a do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). Nas elei��es de 2002, passa a ser aliado do presidente Luiz In�cio Lula da Silva.
1992
Depois de perder a elei��o ao governo de Alagoas e romper com Collor, Renan se torna um dos articuladores do impeachment, acusando o tesoureiro Paulo C�sar Farias de criar “governo paralelo”.
1990
Renan era l�der de governo na C�mara e foi um dos que anunciaram o Plano Collor, reforma econ�mica para controlar o aumento da infla��o que confiscou as poupan�as.
1989
Deputado federal e filiado ao PRN, Renan assume a assessoria da campanha do ent�o candidato � Presid�ncia Fernando Collor de Melo (PRN), eleito com 42,7% dos votos.
1978
Aos 23 anos, � eleito deputado estadual em Alagoas pelo MDB, partido de oposi��o ao regime militar. Era opositor do prefeito de Macei�, Fernando Collor, a quem se referia como “prefeito sem cheiro de voto e de povo” e “pr�ncipe herdeiro da corrup��o”.