(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas VERDADE RESGATADA 45 ANOS DEPOIS

Documentos da ditadura descartam trai��o a militante mineiro durante o Regime Militar

Microfilmes analisados pela UFMG revelam que Wellington Moreira Diniz n�o entregou Juarez Guimar�es sob tortura. Morte do soci�logo e um dos fundadores da Colina em emboscada foi obra de infiltrado do regime militar


postado em 01/11/2015 07:00 / atualizado em 01/11/2015 08:08

Juarez Guimarães ao lado da mulher, Maria do Carmo, se matou ao cair em emboscada(foto: Arquivo / O Cruzeiro)
Juarez Guimar�es ao lado da mulher, Maria do Carmo, se matou ao cair em emboscada (foto: Arquivo / O Cruzeiro)

Por muitos anos, houve quem acusasse Wellington Moreira Diniz, um dos principais quadros da Vanguarda Armada Revolucion�ria Palmares (VAR-Palmares) e da Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR), de, sob tortura, ter entregue ao DOI-Codi do Rio de Janeiro informa��es que teriam ajudado a desmantelar organiza��es de resist�ncia armada � ditadura militar. Entre essas informa��es estaria o ponto de encontro que ocorreria em 18 de abril de 1970, no Jardim Bot�nico, entre Wellington e o soci�logo mineiro Juarez Guimar�es de Brito, um dos fundadores da Colina, que, ao lado de Carlos Lamarca e Maria do Carmo Brito, era um dos expoentes da VAR -Palmares e depois da VPR.

Mas cerca de 3 mil documentos dos �rg�os de intelig�ncia militares e centros de informa��o da Marinha, do Ex�rcito e da Aeron�utica, que integram o acervo microfilmado em an�lise e em processo de sistematiza��o dentro do Projeto Rep�blica, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob coordena��o da historiadora Helo�sa Starling, sepultam em definitivo o equ�voco. “Os microfilmes comprovam como agentes infiltrados por um aparelho repressivo – que se revela, de forma in�dita, sob o comando hier�rquico das For�as Armadas, tendo os DOI-Codis papel central de reuni�o, distribui��o e processamento das informa��es –, ajudaram a implodir organiza��es clandestinas”, avalia Helo�sa.

O Estado de Minas apresentou a Wellington, de 68 anos, que mora em Prudente de Morais, na Regi�o Central de Minas, c�pia do relat�rio manuscrito pelo agente do Centro de Informa��es da Marinha (Cenimar) Manoel Ant�nio Mendes Rodrigues. Com o falso nome de “Luciano”, Manoel se empregara em 1969 na Imobili�ria Bol�var, com sede em Copacabana, dirigida por Maria Nazareth Cunha da Rocha, que arranjava “aparelhos” (apartamentos mobiliados) para organiza��es de esquerda fazerem encontros. Em seus relat�rios, “Luciano” detalhava � repress�o os passos de Juarez nos cinco dias que antecederam a sua morte: a reuni�o em S�o Paulo com Lamarca, o hor�rio e o local do “ponto” com Wellington, que havia faltado a dois encontros da organiza��o na �ltima semana. O pr�ximo, agendado no Jardim Bot�nico, confirmaria a sua situa��o.

Quarenta e cinco anos depois, emocionado, Wellington, que foi preso em 9 de abril de 1970 e torturado por tr�s dias seguidos, desabafa: “Eu n�o sabia deste infiltrado. Agora entendo que possivelmente ele entregou o local onde fui preso, no Largo do Machado, onde se daria uma reuni�o entre Lamarca e os quadros de outras organiza��es de esquerda. Eu fazia a vistoria de seguran�a quando fui surpreendido. Houve tiroteio e a minha pris�o”. Naquele momento, era planejada uma opera��o para o sequestro do embaixador alem�o Elfrid von Holleben. Segundo Maria do Carmo, seria tarefa de Wellington preparar o esconderijo numa propriedade rural no Rio para manter o embaixador. Ao longo de 1970, o sequestro de diplomatas fazia parte da estrat�gia das organiza��es de esquerda como forma de resgatar militantes presos. Wellington havia sido levado para a “boate arrepio”, denomina��o para a sala de tortura do DOI-Codi da Bar�o de Mesquita. O pau comeu por 72 horas com requintes de crueldade: teve at� bisturi rasgando a carne para encostar os fios do choque el�trico nos ossos.

Tamb�m conhecido pelos codinomes de Virgulino, Lira e Justino, Wellington, que foi seguran�a pessoal de Lamarca, exibia em seu curr�culo 58 a��es de “expropria��es” a bancos e cofres, como o roubo do cofre de Ana Capriglione, amante do ex-governador de S�o Paulo Adhemar de Barros. Ele sabia muito, inclusive tinha conhecimento de que parte dos cerca US$ 2,8 milh�es carregados do cofre havia sido depositado na embaixada da Arg�lia. O interrogat�rio ia e vinha em torno de tr�s nomes do alto-comando da organiza��o clandestina: onde estavam Juarez, Maria do Carmo Brito e Lamarca? E o dinheiro do cofre? Virgulino resistiu. N�o falou.

Apesar do sil�ncio do militante, em 18 de abril de 1970, a pol�cia repressiva sabia o local do encontro onde um membro da organiza��o faria contato com Wellington. Juarez foi com a esposa, Maria do Carmo, num fusca bege. De longe viram o jipe de Wellington, que fez discreto sinal. Perceberam que o companheiro havia ca�do. Ele era a “isca”. Juarez e Maria do Carmo deram meia-volta. “Eu estava algemado dentro do jipe, com as pernas presas, mas comemorei, pois acreditei que eles haviam compreendido que eu estava preso”, conta Wellington. Mas n�o foi assim. Leal e solid�rio, Juarez n�o deixaria o amigo, a quem considerava filho. Voltou para resgat�-lo, mas o casal foi cercado por mais de 30 policiais.

PACTO
Juarez e Maria do Carmo tinham um trato: na imin�ncia de pris�o, quem tivesse a arma mataria o outro e se suicidaria. Ela n�o cumpriu o combinado. Juarez ent�o arrancou o rev�lver da m�o da mulher e se matou com um tiro no ouvido direito, ao mesmo tempo em que era baleado no bra�o e no abd�men. “Quando fui presa, o organograma da nossa organiza��o estava completo: eu j� estava inserida no cargo de dire��o que ocupava. Era uma das �ltimas a cair”, explica Maria do Carmo. Assim como Wellington, ela diz desconhecer a infiltra��o de Manoel. “Mas faz todo o sentido”, considera. A morte de Juarez, entre tantas, ocorreu em consequ�ncia de agentes infiltrados pelo regime nas organiza��es de esquerda. “Apesar disso, a n�o ser o caso do Cabo Anselmo, at� hoje pouco se soube das estrat�gias adotadas pela repress�o em rela��o a eles”, explica Helo�sa Starling. A documenta��o analisada pela UFMG aponta tr�s perfis de infiltrados: militares, ex-militantes que passaram a colaborar depois de tortura e pessoas que atuaram por dinheiro, explica a historiadora.

 

Ponto


As organiza��es clandestinas chamavam de “ponto” locais de encontro marcado com militantes. Quando o militante n�o comparecia ao primeiro “ponto”, horas depois havia o que se chamava de “ponto alternativo” para encontro em um outro local. Caso n�o comparecesse, estava previamente agendado o chamado “ponto de emerg�ncia” ou “ponto de resgate” , que ocorreria dias depois em outro local que confirmaria a situa��o do militante. Se n�o comparecesse, seria sinal de que tinha sido preso.

 

Colina


Comando de Liberta��o Nacional (Colina) foi uma organiza��o esquerda criada em Minas Gerais, � qual pertenceu a presidente Dilma Rousseff. Juarez Guimar�es de Brito foi um de seus fundadores. Tanto Colina quanto Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR) s�o dissid�ncias da Organiza��o Revolucion�ria Marxista – Pol�tica Oper�ria (Polop), organiza��o que se formou no in�cio da d�cada de 1960, antes do golpe militar. Em julho de 1969, Colina e VPR se fundiram formando a Vanguarda Armada Revolucion�ria Palmares, chamada de VAR-Palmares. Tr�s meses depois, diverg�ncias pol�ticas no novo grupo levaram a nova divis�o, ressurgindo a VPR. 



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)