
Em depoimento � Pol�cia Federal, o ex-ministro do Desenvolvimento, Ind�stria e Com�rcio Exterior Miguel Jorge admitiu ter levado ao ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, em 2008, um pedido do lobista Mauro Marcondes Machado, preso sob suspeita de intermediar a "compra" de medidas provis�rias no governo federal. A solicita��o se referia � prorroga��o de uma norma ambiental que n�o interessava o setor automotivo.
Miguel Jorge falou aos investigadores da Opera��o Zelotes no dia 16 do m�s passado. Confrontado com documentos apreendidos pela PF, ele contou que Mauro Marcondes lhe pediu que informasse a Lula sobre a "preocupa��o" de montadoras de ve�culos sobre a implanta��o, no Brasil, do padr�o Euro IV, par�metro de emiss�o de poluentes mais rigoroso para ve�culos a diesel. A regra seria apreciada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
Mauro Marcondes � r�u na Zelotes por, supostamente, atuar pela "compra" de MPs nos governos Lula e Dilma que concederam benef�cios fiscais a montadoras de ve�culos. Ele representava empresas do setor e tamb�m o grupo que vendeu ao governo os ca�as suecos Gripen, al�m de outras empresas. O lobista pagou R$ 2,5 milh�es a um dos filhos de Lula, o empres�rio Lu�s Cl�udio Lula da Silva, como revelou o jornal O Estado de S.Paulo em outubro. Para PF, os recursos, repassados entre 2014 e 2015, podem estar relacionados � edi��o de MPs, o que est� em investiga��o. Lu�s Cl�udio nega.
Conforme o lobista, que na �poca tratava com o ministro como representante da Scania, as empresas do setor estavam preocupadas com a nova regra, pois n�o haveria no Brasil combust�vel para atender ao par�metro ambiental. O ex-ministro declarou � PF que se recorda de ter passado ao presidente essa preocupa��o da ind�stria.
As tratativas constam de mensagens apreendidas pela PF em computadores de Mauro Marcondes. Na oitiva, o ex-ministro afirmou que o lobista tinha "acesso direto" a ele.
Num e-mail de 18 de julho de 2008, uma sexta-feira, Mauro Marcondes argumenta com o ministro que, se a regra entrasse em vigor no prazo previsto, os custos da ind�stria aumentariam 15%, poderia haver danos aos motores e os ve�culos, em vez de poluir menos, jogariam mais gases nocivos na atmosfera. Por isso, sustentou o lobista, era necess�rio manter o padr�o de emiss�o em vigor na �poca, o Euro III, para modelos fabricados a partir de janeiro de 2010.
"Se obtivermos uma negativa, teremos um caos na ind�stria de caminh�es e no setor de transporte", apelou o lobista, acrescentando: "O governo ter� uma reuni�o na pr�xima segunda-feira para tratar do assunto com diversos �rg�os competentes e, como voc� conhece profundamente esse assunto, pediria a gentileza de informar o presidente e nos ajudar a encontrar uma solu��o", disse Mauro Marcondes.
A norma Conama foi editada em 12 de novembro de 2008 e, segundo o �rg�o, s� entrou em vigor em 1º de janeiro de 2012. No depoimento, Miguel Jorge sustentou, contudo, que essa era a data originalmente prevista.
Em resposta ao lobista em 23 de julho, na quarta-feira seguinte, Miguel Jorge escreveu que j� sabia dos resultados da reuni�o e que estava atento ao "desenrolar do processo". Ele afirma que discutiria a quest�o com Lula e a presidente Dilma Rousseff, ent�o ministra da Casa Civil: "Voc� conhece a posi��o do chefe com rela��o a isso, mas, de qualquer forma, devo me encontrar com a ministra Dilma com ele mesmo amanh� para atualizarmos a quest�o".
O ex-ministro disse � PF n�o se recordar do encontro com Dilma, mas confirmou ter levado o recado a Lula. Segundo ele, a norma "Euro VI" foi adotada na data originalmente prevista pelo Conama. Ele explicou que a "preocupa��o do chefe", mencionada no e-mail, era a preocupa��o de Lula de atender � exig�ncia de redu��o de poluentes sem a produ��o do combust�vel adequado pela Petrobras.
Em 31 de julho, Mauro ainda escreve que precisava conversar com o ministro, pois poderiam "construir uma solu��o", e pede a ele uma "forma de comunica��o para poder falar abertamente sobre o assunto".
Brindes
Os documentos apreendidos pela PF mostram que o lobista ofertava brindes a pessoas do governo. Uma mensagem de 11 de julho daquele ano relaciona diversas pessoas que seriam contempladas com "convites", possivelmente para um evento em Interlagos. Entre elas, estava o pr�prio Miguel Jorge, o filho dele, Tiago, e o atual presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Tamb�m estava na lista um dos filhos do ex-chefe de gabinete do ent�o presidente, Gilberto Carvalho.
No e-mail de 23 de julho, Miguel Jorge afirma ao lobista que o filho Tiago "adorou ter ido a Interlagos e participado da festa de voc�s". "N�s nos encontramos � noite e ele estava entusiasmado. Foi pena n�o ter ido, mas n�o aguentaria", acrescentou. No depoimento, o ex-ministro afirmou que o entusiasmo do filho se referia, provavelmente, a uma corrida de autom�veis em Interlagos.
Luciano Coutinho informou, por sua assessoria, que se lembra do convite, que n�o foi ao evento e que n�o se lembra de ter ido a Interlagos na vida. Ele acrescentou que n�o tem relacionamento com Mauro Marcondes.
Gilberto Carvalho n�o foi localizado. O Instituto Lula informou que o ex-presidente n�o comentaria.