
Em dela��o premiada homologada nesta ter�a-feira, o senador Delc�dio Amaral acusou o ministro da Educa��o Aloizio Mercadante de tentar suborn�-lo com ajuda financeira, pol�tica e jur�dica. Em troca, o ministro pedia que ele ficasse calado. Delc�dio ficou preso por tr�s meses e foi solto no dia 19 de fevereiro passado sob acusa��o de tentar impedir as investiga��es da Opera��o Lava-Jato ao prometer ao filho de Nestor Cerver� dar fuga ao pai.
A acusa��o de Delc�dio a Mercadante foi publicada pela revista Veja, que teve acesso � dela��o premiada. O sigilo foi retirado nesta ter�a-feira uma vez que hoje o ministro Teori Zavascki, relator da Opera��o Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a dela��o premiada do senador petista.
De acordo com a reportagem, Mercadante e Delc�dio teriam se reunido ao menos duas vezes no gabinete de Mercadante, no minist�rio. As conversas, segundo “Veja”, foram gravadas pelo assessor do parlamentar, Jos� Eduardo Marzag�o, e entregues � Procuradoria-Geral da Rep�blica por Delc�dio, que, em depoimento formal, disse que o ministro “agira a mando de Dilma”.
Confira os di�logos transcritos pelo site de “Veja”:
AM - O que � que tem que voc� acha que eu possa ajudar?
JEM - Ministro...
AM - De verdade. T� falando assim. Eu t� aqui. �, eu falei: Eu n�o quero nem saber o que o Delc�dio fez.
JEM - �.
AM - Eu quero... (inaud�vel) eu acho que ele devia esperar, n�o fazer nenhum movimento precipitado, ele j� fez um movimento errado, deixar baixar a poeira, ele vai sair, a confus�o � muito grande. A�... entendeu?
JEM - Ministro, o problema � o seguinte.
AM - Pra ele n�o ser um agente que desestabilize tudo. Porque sen�o vai sobrar uma responsabilidade pra ele monumental, entendeu?
Ajuda financeira
Mercadante prometeu ajuda financeira ao senador para pagar os custos com advogados, al�m de visitar as filhas e a esposa do parlamentar, que o pressionaram para fazer a dela��o premiada.
AM - � o seguinte, eu me disponho, j� te falei isso reservadamente, eu fa�o uma agenda no Mato Grosso do Sul, eu tenho que ir visitar uma universidade, um instituto... eu falo Maika, eu quero passar a� ...da outra vez ela fez um jantar pra mim... quando eu fui l� fazer uma agenda e ela fez um jantar na casa. Ent�o, � eu gostaria de passar a�, lhe dar um abra�o e tal, se tiver espa�o.
JEM - S� pra voc� ter uma ideia, eles est�o vendendo a casa.
AM - Pra n�o ficar expostos.
JEM - N�o, at� pra...
AM - Arrecadar dinheiro.
JEM - Arrecadar dinheiro. Os carros, a casa. A fazenda, porque � da m�e e do irm�o, ent�o l� n�o vai mexer. Ali�s, o irm�o t� vindo a� pra tratar desses assuntos. Assuntos financeiros mesmo.
AM - Patrim�nio da fam�lia.
JEM - Patrim�nio, as d�vidas que ele tem. Pra voc� ter uma ideia da situa��o dele, o sal�rio dele tem consignado. O sal�rio do Delc�dio tem empr�stimo consignado, que ele est� pagando.
AM - Bom, isso a� tamb�m a gente pode ver no que � que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. N�o sei. P�, Marzag�o, voc� tem que dizer no que � que eu possa ajudar. Eu s� to aqui pra ajudar. Veja o que que eu posso ajudar.
Ajuda pol�tica
Mercadante promete tamb�m negociar com o presidente do Senado, Renan Calheiros, uma mo��o, a ser apresentada � Justi�a, destinada a garantir o relaxamento da pris�o
AM - Eu conversei com v�rios senadores
JEM - H�.
AM - Eu falei: voc�s se acocoraram!
JEM - Foi.
AM - Ah, p�! N�s t�nhamos feito um movimento com o Sarney, o Jader e o...
JEM - Renan
AM - ... o Renan e tal... A� veio a nota do PT. Que nota do PT? Onde que o Rui Falc�o agora dirige o plen�rio do Senado? ... � hist�ria... essa institui��o tem quase 200 anos de hist�ria! Como � que voc�s aceitam uma coisa como essa, gente? Porque isso vai ser um precedente.
JEM - Abriu uma porteira.
AM - Vai abrir a porteira. Ent�o, voc�s precisam repensar o encaminhamento. Talvez o Senado fazer uma mo��o, a mesa do Senado, ao Teori, entendeu? Um pedido: olha, n�s demos autoriza��o considerando o flagrante, considerando as condi��es etc, mas n�o h� necessidade p�, p�, p� - p�, p�, p�. E tentar construir com o Supremo uma sa�da. N�o pode aceitar isso. Eu acho que se a gente n�o for pelo jur�dico, pelo pol�tico, pelo bom senso e deixar tudo pra ele que t� acuado, fodido, a fam�lia desestruturada, vai sair s� bate��o de cabe�a. Porque eu posso tentar ajudar nisso a� no Senado. Vou tentar conversar com o Renan e ponderar a ele de construir uma, entendeu, uma mo��o...
Ajuda jur�dica
Mercadante promete conversar com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a fim de convenc�-lo a acolher o pedido de relaxamento de pris�o durante o recesso do Judici�rio. A a��o, se realizada, n�o surtiu o efeito esperado. Delc�dio s� foi solto em fevereiro, depois de negociar a colabora��o com as autoridades.
AM - Eu vou tentar um parecer jur�dico que tente encontrar uma brecha pra que o Senado se pronuncie junto ao Supremo com o pedido de relaxamento da pris�o, porque ela n�o se justifica mais. Acho que esse � o caminho que eu vejo. Vou estudar e te dou o retorno de hoje pra amanh�.
JEM - Isso, porque o problema � que o dia D � ter�a-feira.
AM - T�.
JEM - Porque se passar ter�a-feira e n�o sair, s� no ano que vem.
AM - N�o, n�o, mas o presidente vai ficar no exerc�cio... tamb�m precisa conversar com o Lewandowsky. Eu posso falar com ele pra ver se a gente encontra uma sa�da. Mas eu vou falar com o ministro no Supremo tamb�m.
JEM - Complicado.
AM - Mas � o seguinte, eu n�o tenho nada a ver...o Delc�dio... zero... n�o t� nem a� se vai delatar, n�o vai delatar, n�o t� nem a�... a minha, a minha quest�o com ele � que eu acho um absurdo o que aconteceu com ele. Primeiro pelo quadro que ele �, segundo pela cagada que n�o era necess�ria aquela exposi��o que ele teve, terceiro pela atitude das institui��es e do partido (inaud�vel)... lava a m�o, vira as costas, um cara totalmente... uma coisa covarde pra caralho, um absurdo. Na minha interpreta��o, de uma vingan�a at� da... ele pode ter se excedido na CPI dos Correios, mas � evidente que ele segurou bronca pra caralho.
JEM - Vai saber.
AM - �, l�gico que ele sabe. N�o sei exatamente os detalhes, mas eu sei que ele fez o que era poss�vel, prudente, coisas que n�o estavam comprovadas, que n�o eram s�rias, mas, � isso a�... (inaud�vel)... a fun��o era muito dif�cil a cobran�a em cima dele...
Estrat�gia de defesa
Mercadante conversa com o assessor de Delc�dio sobre a necessidade de acabar de vez com os rumores sobre a possibilidade de Delc�dio fechar uma dela��o.
AM - A estrat�gia de defesa � nesse sentido, entendeu? Ele foi: meu mandato, eu quero defender meu mandato, eu quero ter liberdade pra poder defend�-lo, n�o posso constranger o meu direito de defesa no Senado e p� p� p�, prerrogativas, est�o aqui as minhas condi��es e pelo direito que � l�quido e certo, a ilegalidade do ato - � um absurdo o que foi feito...
JEM - Mas ele n�o pode falar isso
AM - N�o, mas tem que construir. Tem que ter gente pra fazer e falar.
JEM - �.
AM - O que que � a dificuldade? O que � que eu quero te alertar. O Renan � um cara que tem uma zona cinzenta nessa hist�ria.
JEM - �.
AM - Como � que o Renan vai se mexer... eu sei que ele t� acuado porque o outro vai... entendeu?
JEM - �.
AM - Como � que o governo se mexe, porque parece que tem alguma coisa que ele sabe do rabo de algu�m. Ent�o, eu acho que tem que tirar isso da pauta nesse momento, pra defesa dele, t� falando... pra tentar construir - n�o sei se � poss�vel a defesa...
JEM - Honestamente eu n�o sei...
AM - Eu n�o sei, o que eu vou... o que eu me disponho...como eu te falei. Olha, eu n�o quero me envolver mais do que posso. Fa�o isso por absoluta solidariedade. Acho que o que o PT fez � indigno e acho que o Senado n�o devia ter recuado.
JEM - �. Mas nem s� por causa dele.
AM - N�o... � institucional, gente.
Tese jur�dica
Mercadante diz que o ministro do TCU, Bruno Dantas, ajudaria a elaborar uma tese para defender Delc�dio no Supremo Tribunal Federal.
AM - O cara, p�, fodido, acuado, arrebentado, sangrando... eu vou fazer o seguinte: eu vou conversar com alguns advogados que eu confio. Acho que vou chamar o Bruno Dantas pra conversar, que foi advogado-geral da Uni�o muito tempo... do Senado, ou algum consultor do Senado que pense juridicamente se o Senado tem alguma provid�ncia pra interferir. Inclusive alegar o seguinte: n�s queremos que ele se defenda, de um processo aqui pi, pi, pi...
JEM - Sim. Normal.
AM - E crie qualquer porra de um argumento contanto que ele n�o fique l� preso, acuado desse jeito.
JEM - Que fique em casa com tornozeleira, que fique num quartel do Ex�rcito, o caralho que seja, mas l� �...
AM - � ruim. Quando ele fala do risco da dela��o, hoje o advogado desmentiu. Fica um neg�cio assim: Parece que ele t� fazendo porque t� com medo, entendeu? Porque n�o tinha essa pauta...
JEM - O problema � o seguinte: � que ele t� desestruturado. Ent�o, algu�m t� colocando pra ele que essa � a �nica maneira de ele sair de l�.
AM - Bom, eles fazem isso com todo mundo. Desestruturam o cara. Botaram... caralho... O que fizeram com o filho do Paulo Roberto foi isso, com as filhas...
JEM - Sim. Agora, v� a situa��o dele: um senador com um mandato vigente
AM - Preso.
JEM - Preso, continua sendo senador e... um z�-ningu�m l�.
AM - Sim... mas tem um lado e tem que pensar o seguinte... eu acho que precisa esfriar o assunto dele. V�o vir outros. Vai vir Andrade Gutierrez, n�o sei quem, n�o sei quem, o Zelada, o caralho, vai vir merda pra caralho toda hora. A� vai diminuindo. Precisa esfriar o caso dele. Segundo: ele tando l�, n�o tem inqu�rito no Senado. N�o tem como cassar um senador preso.
Solidariedade
J� na primeira conversa com Marzag�o, Mercadante oferece "apoio pessoal e pol�tico" em troca do sil�ncio do senador Delc�dio Amaral.
AM - Eu n�o conhe�o a Maika. Mas se voc� achar, porque eu vou dizer o seguinte. Eu sou um cara leal. A Dilma sabe que se n�o tiver uma pessoa para descer aquela rampa, eu vou com ela at� o final. Eu gosto do Delcidio, eu acho ele um cara muito competente, muito habilidoso, foi fundamental para o governo, um monte de virtudes, muito mais jeitoso, ia atr�s, se empenhava, fazia... voc� n�o pode pegar uma biografia como essa, uma hist�ria como essa, porque o cara trope�ou numa pedra, numa situa��o de desespero, tentando encontrar uma sa�da, voc� v� aquele jeito que ele vai tentando mostrar um servi�o, eu n�o consigo entender porque ele foi aonde ele foi. Mas foi, n�o adianta. Ent�o vamos ter que deglutir isso a�. O que eu acho que ele est� precisando agora � algum tipo de apoio e solidariedade pessoal e pol�tico. Ent�o, voc� veja o que eu posso ajudar. 'Se voc� achar, Mercadante, era bom voc� ir no Mato Grosso do Sul falar com as filhas dele.' Eu n�o vou me meter na defesa dele. N�o sou advogado, n�o tenho o que fazer, n�o sei do que se trata, n�o conhe�o o que foi feito.
JEM - Mas o que o Rui fez, queimou qualquer possibilidade.
AM - Foi um absurdo. Eu dentro, vou tentar ajudar no que eu posso. Dentro do governo, dentro do partido menos, porque eu n�o tenho muitas rela��es hoje. Mas vou tentar porque achei um absurdo. Eu quero ajudar no que eu puder. S� vou fazer o que eu puder. N�o adianta me pedir para fazer o que eu n�o posso fazer porque eu n�o vou fazer. Agora, o que eu puder fazer, eu farei. Ent�o eu quero que voc� saiba disso. Conversamos n�s dois. Voc� veja l� o que voc� acha que ajuda e me passa que eu vejo a provid�ncia que a gente pode tomar. Eu imagino que ele est� completamente sozinho, fica ruim para a seguran�a dele.
JEM - O senhor � a terceira pessoa. No dia do acontecido, ligou o Renan e o Sarney para a Maika. Mais nada. E disseram barbaridades, chamaram a presidente de filha da puta.