Luiz Carlos Azedo
Na mitologia grega, Prometeu (o que v� antes, prudente, previdente) � o criador da humanidade. Era um dos tit�s, irm�o de Atlas, Men�cio e Epimeteu (o que v� depois, inconsequente). Um dia, matou um touro em sacrif�cio e fez dois sacos do seu couro. Num deles colocou a carne e os ossos; no outro, a gordura. Zeus, o mais poderoso dos deuses, escolheu o que continha banha, n�o gostou e puniu Prometeu, retirando o fogo dos humanos.
J� Epimeteu foi encarregado de distribuir aos seres qualidades para que pudessem sobreviver: velocidade, for�a, asas, garras... N�o deixou, por�m, nenhuma qualidade para os humanos, que ficaram desprotegidos e sem recursos. Foi ent�o que Prometeu entrou no Olimpo e roubou uma centelha de fogo para entregar aos homens.
O fogo representava a intelig�ncia para construir moradas, defesas e organizar a vida em comum. Assim surgiu a pol�tica na mitologia grega, para que os homens possam viver coletivamente e se defender dos inimigos. Zeus, por�m, n�o gostou e pediu a Hefestos que fizesse de argila uma mulher bel�ssima, Pandora, que foi dada a Epimeteu — um presente de grego, digamos assim. Alertado por Prometeu, ele o recusou.
A vingan�a de Zeus foi acorrentar Prometeu, para que uma ave de rapina comesse o seu f�gado. Para livrar seu irm�o, Epimeteu casou-se com Pandora, que recebeu muitos presentes. Um deles era uma caixa misteriosa, que foi aberta por ela, apesar dos avisos de Prometeu de que n�o o fizesse. Era outro presente de grego. Ao faz�-lo, espalhou todas as desgra�as sobre a humanidade, restando apenas dentro dela a esperan�a. Moral da hist�ria: o homem imprudente � respons�vel por todos os males, como consequ�ncia de sua falta de conhecimento e previs�o. E a sociedade depende de sua pr�pria intelig�ncia para sobreviver.
O mito de Pandora tem muito a ver com a crise que estamos vivendo. Por exemplo, h� muitas causas para a crise tr�plice que est� levando o pa�s ao fundo do po�o, mas uma delas est� cada vez mais evidente: a imprud�ncia do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. A maior delas, sem d�vida, foi a escolha da presidente Dilma Rousseff como sua sucessora. Esse talvez seja o �nico consenso entre os pol�ticos, inclusive os petistas.
�s v�speras da vota��o do pedido de impeachment pela comiss�o especial da C�mara que examina sua admissibilidade, prevista para amanh�, parecer do procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, apontou desvio de finalidade na decis�o da presidente Dilma Rousseff de nomear seu antecessor, Lula, para chefiar a Casa Civil. Janot mudou de posi��o e pediu a anula��o da nomea��o, e n�o apenas a manuten��o do foro de Lula na primeira inst�ncia, o seja, na al�ada do juiz federal S�rgio Moro. Para ele, a atua��o de Dilma foi “fortemente inusual” e serviu para “tumultuar” as investiga��es.
A mudan�a de Janot significa que as grava��es encaminhadas por Moro ao ministro-relator da Opera��o Lava-Jato, Teori Zavascki, comprovam que o governo operou em v�rias frentes para tentar prejudicar as investiga��es contra Lula. “A nomea��o e a posse do ex-presidente foram mais uma dessas iniciativas praticadas com a inten��o, sem preju�zo de outras potencialmente leg�timas, de afetar a compet�ncia do ju�zo de primeiro grau e tumultuar o andamento das investiga��es criminais no caso Lava-Jato.”
Caixa de Pandora
A Opera��o Lava-Jato, por�m, est� se transformando numa caixa de Pandora. A dela��o premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Ot�vio Azevedo confirmou que parte das doa��es eleitorais oficiais feitas � chapa Dilma Rousseff / Michel Temer em 2014 foi uma contrapartida em propina por contratos obtidos com estatais. Documentos entregues por Azevedo e outros executivos da empreiteira comprovam que a Justi�a Eleitoral foi usada para dar apar�ncia de legalidade �s doa��es originadas em il�citos.
Segundo o TSE, o PT recebeu em doa��es da Andrade Gutierrez dentro e fora do per�odo eleitoral, em 2014, cerca de R$ 35,6 milh�es. Para a legenda tucana, foram R$ 41 milh�es, incluindo colabora��es para a campanha. O PMDB recebeu um total de R$ 35,4 milh�es, segundo o TSE. Est� instalada uma grande pol�mica jur�dica em rela��o �s doa��es eleitorais.