Bras�lia - Desde que chegou ao poder em 2003, o PT nunca conseguiu ter uma rela��o de confian�a com os demais partidos no Congresso. Antes mesmo de Luiz In�cio Lula da Silva subir a rampa do Pal�cio do Planalto, a sigla deu in�cio a uma s�rie de desentendimentos, disputas e rivalidades que se avolumaram e desaguaram no processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Dono das maiores bancadas na C�mara e do Senado, o PMDB tornou-se o catalisador de conflitos que se espalharam entre os demais partidos da base aliada. As pr�prias caracter�sticas da sigla - dividida em alas que se movem a depender das conveni�ncias - tamb�m contribu�ram para esse processo. Ora, ele favoreceu o Planalto; ora, atendeu aos interesses pessoais dos congressistas.
A rela��o com o PMDB nasceu como um casamento desfeito no altar e que depois tentou ser retomado na marra. Grande parte da culpa � creditada a Lula. Ap�s vencer Jos� Serra (PSDB) na elei��o de 2002, ele autorizou o ent�o presidente do PT, Jos� Dirceu, a negociar o ingresso no governo dos peemedebistas que haviam apoiado o tucano no pleito.
Em 20 de dezembro daquele ano, Dirceu e o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, selaram um acordo para que a sigla ocupasse duas cadeiras na Esplanada dos Minist�rios. At� os nomes do partido foram escolhidos: Eun�cio Oliveira (CE) e H�lio Costa (MG). Ficariam com Minas e Energia ou Integra��o Nacional.
Os dois dormiram ministros, mas acordaram sem cargo. Pressionado pelo PT durante a madrugada e com receio de nunca ter o apoio integral do PMDB, Lula mandou Dirceu desfazer a negocia��o. Foi um baque. De uma vez s�, ele desautorizou seu futuro chefe da Casa Civil e envergonhou Temer perante seus correligion�rios.
Naquela oportunidade, o PMDB havia acabado de eleger uma bancada de 74 deputados. O
apoio do partido permitiria a Lula ter uma coaliz�o mais est�vel na C�mara, onde o PT conquistara 91 cadeiras. Somados, petistas e peemedebistas formariam sozinhos uma base com 165 deputados, contra 156 da oposi��o, de PSDB mais PFL (atual DEM).
Lula, contudo, optou por uma estrat�gia arriscada. Resolveu abrir espa�os no governo para a ala advers�ria a Temer, estimulando o enfraquecimento do seu grupo pol�tico. Sem o PMDB, o ent�o presidente viu-se obrigado a ir atr�s das siglas de porte m�dio - PL (atual PR), PP e PTB. A seu mando, Dirceu estimulou parlamentares eleitos pela oposi��o a ingressar nesses partidos. Dois anos depois, essas siglas estariam envolvidas no caso no mensal�o.
Comandado por Valdemar Costa Neto, o PL se aliara a Lula antes para disputar a elei��o, ao abrigar Jos� Alencar no partido a fim de que ele fosse o candidato a vice-presidente. O PTB, de Roberto Jefferson, e o PP, de Pedro Corr�a, fecharam com Dirceu ap�s a vit�ria de Lula. Com a revela��o do esquema de pagamento de mesada a deputados, os quatro foram cassados.
Lula s� se safou porque abriu feudos para o PMDB no governo em todos os escal�es, em 2005. Um ano antes, o partido aderira ainda de forma t�mida ao Planalto ap�s o esc�ndalo Waldomiro Diniz - funcion�rio da Casa Civil que fora flagrado recebendo propina do bicheiro Carlos Cachoeira. Sobretudo com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Lula sobreviveu ao mensal�o e conseguiu e se reeleger em 2006.
Dilma
At� ent�o conhecida apenas como uma ex-militante do PDT com participa��o em governos no Rio Grande do Sul, Dilma Rousseff foi a maior benefici�ria do veto de Lula ao PMDB em 2003. Ficou com a pasta de Minas e Energia, inicialmente reservada ao partido. Em 2005, com a demiss�o de Dirceu da Casa Civil, Dilma foi transferida para o lugar dele. Naquela oportunidade, ela j� somava conflitos com o PMDB. O principal deles, contudo, aconteceu dois anos depois, com Lula j� reeleito. Ela se posicionou contra uma indica��o do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para presid�ncia de Furnas.
Inicialmente, Dilma foi derrotada. Lula cedeu a Cunha, que amea�ava relatar contra a prorroga��o da CPMF em 2007. O projeto acabou rejeitado. O troco veio ap�s Dilma assumir a Presid�ncia, em janeiro de 2011. Na primeira semana de governo, ela mandou demitir o apadrinhado de Cunha em Furnas.
O deputado se consolidara como uma das principais lideran�as peemedebistas na C�mara e virou o principal contraponto a ela no Parlamento. Elegeu-se presidente da C�mara com facilidade em fevereiro de 2015. Dez meses depois, logo ap�s o PT apoiar um processo de perda de mandato contra ele, Cunha aceitou pedido de impeachment contra ela.