'Ainda n�o h� presidente interino, presidente � a Dilma', diz FHC

S�o Paulo, 18 - O ex-presidente da Rep�blica Fernando Henrique Cardoso preferiu um tom de cautela nesta segunda-feira, em evento em S�o Paulo, ao comentar os desdobramentos da vota��o na C�mara que aprovou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O tucano disse que � necess�rio esperar o que acontecer� na avalia��o do Senado Federal. "Vamos ver com calma, passo a passo. Ainda n�o h� presidente interino, a presidente � a Dilma", afirmou.

Para ele, o que mais o impressionou neste domingo, durante a vota��o na C�mara, foi a participa��o popular pac�fica. "Estamos passando por um momento dif�cil e n�o houve conflito, e isso � muito importante. O sentimento democr�tico est� se realizando no povo", ressaltou. Cardoso defendeu que nesse momento � preciso evitar o 'isolacionismo'. "Mas, pelas circunst�ncias, sou obrigado a reconhecer que o governo n�o tem mais condi��es de governar, al�m de ter arranhado a Constitui��o", afirmou.

Sobre a possibilidade de haver novas elei��es gerais, FHC enfatizou que a medida n�o est� prevista na Constitui��o. "N�s temos que seguir a Constitui��o, agir fora dela � perigoso. J� � ruim passar pelo processo de impeachment, as circunst�ncias levaram a isso, n�o � um desejo. Imagina criar mais uma regra que n�o est� na Constitui��o?", falou. Ele lembrou que, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir que a chapa Dilma-Temer � nula ainda neste ano, h� elei��o geral. Se a decis�o acontecer no ano que vem, o Congresso eleger� outro governante. "Nenhuma dessas solu��es � maravilhosa. N�s vamos ter que juntar nossas for�as para manter a liberdade, a democracia e o respeito e n�o insistir numa coisa que n�o � verdadeira".

Questionado sobre uma eventual perda de protagonismo do PSDB para o PMDB na coordena��o do impeachment de Dilma, FHC rebateu que o processo n�o foi definido pelo PMDB, mas pelo povo. "O PSDB tem uma for�a relativa no Congresso: n�o � majorit�rio, por�m tem que entender seu papel que � ajudar a construir o Brasil. Os partidos n�o t�m mais o protagonismo solit�rio do passado. S�o importantes, levam as reivindica��es para serem institucionalizadas, mas uma andorinha s� n�o faz ver�o", ressaltou. Discurso parecido foi usado quando respondeu se o PMDB tem condi��es de fazer as mudan�as necess�rias ao Pa�s. "Nenhum partido sozinho pode fazer o que quiser. O PMDB tem cerca de 12% do Congresso. Se n�o houver uma opini�o nacional ningu�m faz nada. O Pa�s n�o quer parar, quer avan�ar", disse, defendendo que as institui��es s�o fortes, que h� necessidade de se manter a ideia de que h� um Estado democr�tico de Direito e da continuidade das investiga��es de corrup��o, como a Lava Jato.

Programas sociais

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tamb�m defendeu que o Estado brasileiro se preocupe n�o apenas com a elabora��o e o cumprimento de programas sociais, mas tamb�m com a an�lise de seus resultados. Ao citar pontualmente o ProUni e a reforma agr�ria, FHC afirmou que h� um tabu no Brasil em rela��o a compara��es e an�lises de resultados.

"Ningu�m desapropriou mais terra do que eu. Agora, nunca se avaliou a reforma agr�ria. O custo da reforma agr�ria � elevado, e qual foi o resultado? Alguns devem ter sido bons, outros n�o. Mas n�o se avalia, h� um tabu", afirmou o ex-presidente. Segundo ele, n�o se averigua o que foi feito com a terra concedida, se o benefici�rio a tornou produtiva ou se a vendeu. "Entrou no or�amento, torna-se perene. Na Educa��o � um pouco isso tamb�m", disse.

Ao comentar o ProUni, um programa da gest�o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, FHC continuou com as cr�ticas. "O ProUni criou universidades privadas. Muitas vezes, depois a pessoa n�o paga. Ele tem que ser repensado", disse FHC, ap�s fazer uma esp�cie de mea culpa. "N�o fazemos an�lise de programas. N�o estou dizendo que eu tenha feito, n�o. Temos horror a compara��o e n�o gostamos de avaliar".

O ex-presidente participou da confer�ncia "Desafios ao Estado de Direito na Am�rica Latina - Independ�ncia Judicial e Corrup��o", promovida pela FGV Direito SP, pelo Bingham Centre for the Rule of Law (Londres) e pelo escrit�rio global de advocacia Jones Day, em S�o Paulo.