Bras�lia, 08 - Quando a Comiss�o Especial do Senado aprovou relat�rio favor�vel ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira, Jos� Eduardo Martins Cardozo demonstrou abatimento. Embora a decis�o j� fosse esperada, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da Uni�o (AGU), que defende Dilma nas mais diferentes tribunas, n�o escondeu a decep��o.
�Eu fa�o essa defesa com tristeza�, admitiu Cardozo ao Estad�o. �Tenho absoluta convic��o de que estou defendendo a causa certa, mas o desejo pol�tico de alguns est� fazendo a Constitui��o ser rasgada. Nunca pensei em enfrentar uma situa��o assim.�
Ex-ministro da Justi�a por cinco anos e dois meses, Cardozo � hoje o mais pr�ximo conselheiro de Dilma. Est� com ela desde a campanha de 2010, quando integrou o conhecido grupo dos �tr�s porquinhos�, ao lado de Antonio Palocci e Jos� Eduardo Dutra - morto no ano passado -, e ainda dever� acompanh�-la por um bom tempo.
Convencida de que ser� afastada da Presid�ncia por at� 180 dias, em vota��o marcada para quarta-feira, no plen�rio do Senado, Dilma quer que o titular da AGU seja agora seu advogado. Cardozo pedir� licen�a � Comiss�o de �tica P�blica porque, a rigor, estar� de quarentena. Trata-se de um per�odo remunerado em que auxiliares n�o podem exercer atividades profissionais para evitar conflito de interesses.
Aos 57 anos, Cardozo passou da condi��o de ministro mais criticado pela Rep�blica petista - que o acusava de n�o controlar a Pol�cia Federal - a arquiteto da narrativa do �golpe� contra Dilma. A reden��o ocorreu depois que, pressionado pelo PT e sob tiroteio do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, ele entregou o cargo na Justi�a.
Na noite de 17 de abril, quando a C�mara autorizou a abertura do impeachment, Cardozo estava no Pal�cio da Alvorada, ao lado de Dilma. Foi um dos que viram Lula se emocionar ao perceber a queda iminente e a presidente irritada com a �cara de pau� de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado do comando da C�mara, 18 dias depois, por decis�o un�nime do Supremo Tribunal Federal.
De repente, com os olhos ainda vermelhos, o ex-presidente chamou Cardozo para uma conversa reservada. Queria mais explica��es sobre a estrat�gia a seguir. De cr�tico feroz do ministro por causa da Opera��o Lava Jato e de outros �sen�es� do passado, Lula acabou lhe dando um cr�dito de confian�a.
�O Z� Eduardo descobriu sua voca��o e agora est� no lugar certo�, disse o ex-presidente. �Ele � incans�vel. Finalmente, est� sendo reconhecido como advogado brilhante�, afirmou o ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presid�ncia, Jaques Wagner.
Corredor polon�s
Dois dias antes da vota��o do impeachment na C�mara, a caminho do plen�rio para defender Dilma, o ministro da AGU foi surpreendido por um �corredor polon�s�, formado por um grupo de militantes. �Cardozo/guerreiro/do povo brasileiro�, gritavam os petistas. �Fiquei perplexo�, confessou o advogado-geral.
Apelidado no PT de �pelicano� - o mais tucano dos petistas -, Cardozo enfrentou grande tens�o quando, em 22 de fevereiro, recebeu dez deputados de seu partido, que cobravam provid�ncias sobre a ofensiva da Lava Jato.
�Voc� n�o v� que o Lula pode ser preso?�, perguntou um deles. A reivindica��o do grupo era uma s�: substituir todos os superintendentes da Pol�cia Federal por petistas. O PMDB do vice-presidente Michel Temer tamb�m pedia a sua cabe�a. Uma semana depois, Cardozo saiu. �N�o aguento mais a press�o�, desabafou, � �poca.
Dilma, por�m, o convenceu a migrar para a AGU. �Preciso de voc� aqui�, insistiu ela. A presidente costuma dizer que Cardozo �se vira nos 30� e, por isso, jamais abriria m�o dele. No ano passado, o ministro descobriu um c�ncer na tireoide, operou e logo voltou para o trabalho. Emagreceu 22 quilos com a dieta Ravenna, tamb�m feita por Dilma, mas j� engordou tr�s de nervoso.
�A gra�a � maior do que a lei e cair� sobre Vossa Excel�ncia�, profetizou o senador evang�lico Magno Malta (PR-ES), no dia 29, quando Cardozo ficou por quase dez horas na comiss�o do impeachment do Senado. �Mas voc�s est�o querendo colocar uma m�o de pil�o na garganta de um pinto. O problema desse governo � a arrog�ncia, que precede a ru�na.�
Na ter�a-feira, o procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, pediu a abertura de inqu�rito no Supremo contra Dilma, Lula e Cardozo para investigar den�ncia do senador Delc�dio Amaral (ex-PT-MS), que acusou o trio de tentativa de obstru��o da Lava Jato.
A portas fechadas, Cardozo disse que a dela��o premiada do ex-l�der do governo � �esquizofr�nica� e contradit�ria. �Ora eu era omisso, ora o todo-poderoso, que interferia na Lava Jato. Chega at� a ser engra�ado�, afirmou. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.