
Ap�s o Senado votar pela admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa questionou a maneira como o processo foi conduzido e, embora tenha admitido que Dilma falhou como presidente, disse que Michel Temer n�o tem legitimidade para governar o Pa�s. Para ele, o ideal seria que novas elei��es fossem convocadas, mas admitiu que dificilmente o STF aprovaria algo desse tipo.
Barbosa participou nesta quinta-feira, 12, de evento em S�o Paulo, para o qual foi convidado para discorrer sobre as institui��es brasileiras. Afirmou ter sido uma coincid�ncia o evento ter ca�do no mesmo dia em que o Senado votou o processo de impeachment. Aproveitou, portanto, para fazer algumas provoca��es aos parlamentares.
"Tenho s�rias duvidas quanto � integridade e � adequa��o desse processo pelo motivo que foi escolhido. Se a presidente tivesse sendo processada pelo Congresso por sua cumplicidade e ambiguidade em rela��o � corrup��o avassaladora mostrada no Pa�s nos �ltimos anos, eu n�o veria nenhum problema. Mas n�o � isso que est� em causa", afirmou.
Para Barbosa, o descumprimento de regras or�ament�rias, principal motivo apontado no pedido de impeachment, n�o � forte o suficiente para afastar um presidente. "Temos um problema s�rio de proporcionalidade, pois a irresponsabilidade fiscal � o comportamento mais comum entre nossos governantes em todas as esferas. Vejam a pen�ria financeira dos nossos Estados, o que � isso sen�o fruto da irresponsabilidade or�ament�ria dos governadores", provocou.
O ex-ministro reconheceu que, "do ponto de vista puramente jur�dico", o impeachment pode ser justificado, mas disse que tem "d�vidas muito sinceras" quanto � sua "justeza e ao acerto pol�tico que foi tomado para essa decis�o". "O impeachment � a puni��o m�xima a um presidente que cometeu um deslize funcional grav�ssimo. Trata-se de um mecanismo extremo, traum�tico, que pode abalar o sistema pol�tico como um todo, pode provocar �dio e rancores e tornar a popula��o ainda mais refrat�ria ao pr�prio sistema pol�tico", alertou Barbosa.
Ele tamb�m n�o poupou cr�ticas a Dilma Rousseff. Para ele, a petista n�o soube conduzir o Pa�s, n�o soube se comunicar com a popula��o, fez p�ssimas escolhas e limitou-se a governar para seu grupo pol�tico e aliados de ocasi�o. "N�o digo que ela compactuou abertamente com segmentos corruptos em seu governo, em seu partido e em sua base de apoio, mas se omitiu, silenciou-se, foi amb�gua e n�o soube se distanciar do ambiente delet�rio que a cercava, n�o soube exercer comando e acabou engolida por essa gente", disse.
Apesar das cr�ticas a Dilma, Barbosa afirmou que Temer n�o tem legitimidade para governar o Brasil. "� muito grave tirar a presidente do cargo e colocar em seu lugar algu�m que � seu advers�rio oculto ou ostensivo, algu�m que perdeu uma elei��o presidencial ou algu�m que sequer um dia teria o sonho de disputar uma elei��o para presidente. Anotem: o Brasil ter� de conviver por mais 2 anos com essa anomalia", afirmou o ex-ministro, que tamb�m criticou o PSDB. "� um grupo que, em 2018, completar� 20 anos sem ganhar uma elei��o".
A solu��o, disse Barbosa, seria a convoca��o de novas elei��es. "Eliminaria toda essa anomalia e o mal estar com o qual seremos obrigados a conviver nos pr�ximos dois anos". Admitiu, no entanto, que provavelmente o STF rejeitaria a aprova��o no Congresso de uma emenda constitucional para a convoca��o de novas elei��es. Diante disso, afirmou que Dilma deveria ter renunciado h� alguns meses, sob a condi��o de que Temer fizesse o mesmo e, assim, o Congresso fosse obrigado a convocar novas elei��es, sem necessidade de emendas.
Ao fim de sua palestra, Barbosa ressaltou que est� preocupado com o futuro das institui��es brasileiras. "Eu me pergunto se esse impeachment n�o resultar� em golpe certeiro em nossas institui��es, eu me pergunto se elas n�o sair�o fragilizadas, imprest�veis", questionou. "E vai aqui mais uma provoca��o: quem, na perspectiva de voc�s, vai querer investir em um Pa�s em que se derruba presidente com tanta ligeireza, com tanta facilidade e com tanta afoiteza? Eu deixo essa reflex�o a todos", concluiu.