Curitiba, 12 - O procurador-geral da Rep�blica Rodrigo Janot seguiu o rastro das liga��es telef�nicas do ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento, Or�amento e Gest�o do governo Lula e Comunica��es de Dilma) para fechar a den�ncia que apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) - e o pr�prio Paulo Bernardo - por corrup��o passiva e lavagem de dinheiro.
Com autoriza��o da Corte m�xima, Janot e sua equipe vasculharam os extratos telef�nicos de Paulo Bernardo, de Gleisi e do PT no Paran� para concluir que em 2010 a campanha da senadora recebeu R$ 1 milh�o - valor, segundo o procurador, que teve origem no esquema de propinas instalado na Petrobras por organiza��o criminosa.
“Os dados de liga��es telef�nicas realizadas e recebidas por terminais vinculados a Paulo Bernardo revelam uma gigantesca quantidade de contatos mantidos entre o denunciado e terminais associados � campanha eleitoral de Gleisi Hoffmann”, aponta Janot.
O mapeamento indica que no per�odo de apenas quatro meses, entre 1.º de julho e 31 de outubro de 2010, terminais vinculados a Paulo Bernardo realizaram 163 liga��es para o telefone de Ronaldo da Silva Baltazar, respons�vel pela administra��o financeira da campanha de Gleisi ao Senado em 2010, e 82 liga��es para o PT no Paran�.
J� de terminais vinculados � empresa GF Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda, usados na campanha de Gleisi, foram realizadas naquele per�odo mais de 300 liga��es - originadas de 6 terminais diversos - para telefones do Minist�rio do Planejamento, Or�amento e Gest�o, � �poca ocupado por Paulo Bernardo.
A Procuradoria sustenta que o ent�o ministro solicitou a quantia em favor da mulher diretamente ao engenheiro Paulo Roberto Costa, na �poca diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos articuladores do esquema de corrup��o na estatal indicado pelo PP. Preso em 2014, Paulo Roberto fez dela��o premiada.
O doleiro Alberto Youssef, que tamb�m fez dela��o, operacionalizou o pagamento. Segundo Janot, ele administrava o ‘caixa de propinas do PP de onde sa�ram os valores em quest�o’.
A GF Consultoria e Assessoria, pertencente a Gleisi, havia encerrado suas atividades antes de 2010, conforme declarado pela pr�pria senadora e pelo ex-ministro de Lula e Dilma. “Todavia, os extratos telef�nicos de terminais vinculados a tal pessoa jur�dica revelam a realiza��o de dezenas de milhares de liga��es no per�odo de apenas quatro meses, julho a outubro de 2010.”
A Procuradoria verificou que ‘grande quantidade de liga��es’ foi realizada para Ronaldo Baltazar, da administra��o financeira da campanha de Gleisi - foram mais de 400 liga��es.
Para o PT no Paran�, mais de 800 liga��es.
E para a empresa de Oliveiro Marques, assessor de comunica��o da campanha, mais de 80 liga��es.
“Desses dados fica claro que os terminais vinculados � GF Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda foram utilizados na campanha de Gleisi ao Senado em 2010", afirma Janot.
A investiga��o levou ao advogado Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccini, ligado ao empres�rio Ernesto Kugler Rodrigues, de Curitiba. Segundo a Procuradoria, Pieruccini foi encarregado pelo doleiro Youssef de levar o R$ 1 milh�o a Curitiba. O destinat�rio foi Kugler. A entrega ocorreu em quatro parcelas de R$ 250 mil cada, afirmou o emiss�rio de Youssef.
Gleisi, Paulo Bernardo e Ernesto Kugler negaram il�citos e o suposto conluio. Kugler ‘afirmou peremptoriamente que n�o participou da campanha e n�o teve nenhuma atua��o relacionada � capta��o de recursos � campanha’. Gleisi, ‘na mesma linha, afastou qualquer liga��o (de Kugler) com sua campanha’. Ela afirmou que ‘pelo que sabe nenhum assessor da declarante manteve contatos com Ernesto Kugler no per�odo da campanha de 2010'. E Paulo Bernardo, igualmente, alegou que Kugler ‘n�o teve nenhuma participa��o na campanha de sua esposa no ano de 2010'.
“A afinada vers�o dos denunciados, contudo, restou desconstru�da n�o apenas pelas declara��es prestadas por Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccini e pela dilig�ncia in loco que confirmou tais declara��es, o qual ratificou o que j� dissera Alberto Youssef, com esteio tamb�m em Paulo Roberto Costa, mas especialmente pelos registros de liga��es telef�nicas dos envolvidos, obtidos mediante autoriza��o do Supremo Tribunal Federal”, assinala Janot na acusa��o formal contra Gleisi, o marido e o empres�rio de Curitiba.
O procurador-geral registra que, ‘no pequeno per�odo de apenas quatro meses’ foram realizadas 116 liga��es do telefone celular de Kugler para o PT no Paran� e 29 liga��es para telefone de Ronaldo Baltazar, o bra�o financeiro da campanha de Gleisi em 2010, al�m de 2 liga��es para a Construtora Sanches Tripoloni Ltda, cujos s�cios doaram R$ 510 mil para a campanha de Gleisi’.
“Se n�o bastasse, tem-se que os mesmos documentos revelam que de terminais do Polloshop foram feitas 2 liga��es diretamente para Gleisi e 2 liga��es para o j� citado ‘tesoureiro de campanha’ Ronaldo Baltazar.”
“Esses dados confirmam o que Alberto Youssef e Fioravante Pieruccini disseram e demonstram a inveracidade da vers�o dos denunciados, tanto no que se refere � atua��o de Ernesto Kugler na campanha de Gleisi em 2010 quanto no que tange � utiliza��o, por aquele, de escrit�rio no Polloshop, um dos locais de entrega da propina”, sustenta Janot.
O procurador-geral da Rep�blica observa, ainda, que as declara��es dos colaboradores - o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o advogado Fioravante Pieruccini -, foram confirmadas por uma liga��o realizada do telefone celular de Kugler para o celular de Pieruccini no dia 3 de setembro de 2010, �s 16h58.
“Logrou-se identificar, ainda, que, no momento da liga��o, ambos os terminais estavam em Curitiba, bem como que, no dia anterior o telefone celular de Pieruccini encontrava-se em S�o Paulo. Confirma-se, assim, a din�mica apresentada por Youssef e Pieruccini, no sentido de que este comparecia no escrit�rio daquele em S�o Paulo, buscava o dinheiro e o levava de carro para Curitiba, entregando-o, na sequ�ncia, a Ernesto Kugler.”
Janot anexou � den�ncia relat�rio da Secretaria de Pesquisa e An�lise da Procuradoria-Geral da Rep�blica que, segundo ele, corrobora ‘a entrega de valores no dia 3 de setembro de 2010 por Pieruccini a Kugler, destinados � campanha de Gleisi’.
O procurador transcreve trecho do relat�rio da Secretaria de Pesquisa e An�lise da PGR: “O rastreamento telef�nico tamb�m evidenciou que nesse mesmo dia 3 de setembro de 2010, algumas horas antes de ligar para a pessoa pr�xima a Alberto Youssef, Ernesto Kugler recebeu liga��o de terminal em nome do Partido dos Trabalhadores. A liga��o se deu �s 10 hs 20 min 44 seg e teve dura��o de 35 segundos. Prosseguindo com as an�lises, verificou-se tamb�m que no mesmo dia 3 de setembro, minutos antes da liga��o de Ernesto Kugler para Ant�nio Pieruccini, Gleisi Hoffmann ligou duas vezes para terminal em nome do Partido dos Trabalhadores. Por fim, foi poss�vel identificar uma intensa comunica��o ocorrida no dia 3 de setembro entre os terminais em nome da GF Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda e do Partido dos Trabalhadores, sendo identificadas 38 liga��es telef�nicas ao longo desse dia.”