Rio, 13 - Por tr�s do fim do Minist�rio da Cultura pelo presidente em exerc�cio Michel Temer pode estar n�o apenas a inten��o de enxugar gastos, justificativa oficial dada pela nova gest�o, mas tamb�m uma retalia��o � postura da classe art�stica contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, disse o escritor Eric Nepomuceno, um dos artistas e analistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre a extin��o da pasta. Na semana que vem, representantes do setor dever�o se reunir com o ministro da Educa��o e Cultura, Mendon�a Filho, em Bras�lia.
"Fechar o Minist�rio da Cultura � parte do plano demolidor de Michel Temer. � a vingan�a pela rejei��o imensamente majorit�ria do mundo das artes e da cultura ao golpe consumado. � o desprezo pelo Pa�s, claramente demonstrado por quem se apossa do poder atrav�s de uma farsa, de um golpe abjeto. Ali�s, basta ver o quilate �tico e moral dos que o cercam. Mendon�a Filho n�o tem a mais remota qualifica��o para ser ministro de nada, quanto mais da educa��o e da cultura", disse o escritor.
"Temer, o ileg�timo, n�o decepciona: arma uma equipe de homens, brancos e ricos. E, dando ind�cios da sua vis�o do mundo e da vida, faz desaparecer as secretarias da Igualdade Racial, da Mulher e dos Direitos Humanos", critica Nepomuceno, signat�rio, com Chico Buarque, Milton Hatoum, Bernardo Carvalho, Raduan Nassar, Fernando Morais e Marcelo Rubens Paiva, entre outros escritores, de manifesto divulgado em mar�o contra o impeachment. Procurado, Chico n�o quis falar sobre o fim do minist�rio, que foi ocupado por uma de suas irm�s, a cantora Ana de Hollanda, entre 2011 e 2012.
Para a atriz Clarice Niskier, a decis�o do governo foi "r�pida e arbitr�ria" e de motiva��o duvidosa. "O MinC foi uma conquista importante, num pa�s de diversidade cultural incomensur�vel. N�o se colocou nada em discuss�o com a sociedade. A gente s� vai conseguir respirar em 2018, entender o quanto de retrocesso houve, o que foi ru�na e o que foi constru��o. Est�vamos lutando por um or�amento maior para o MinC, para pelo menos 1%, o que j� era um descalabro. � realmente dif�cil dizer qual foi a motiva��o real, se foi vingan�a ou n�o, qual foi o crit�rio para voltarem a unir cultura e educa��o."
O soci�logo Emir Sader enxerga na medida de Temer uma avalia��o estreita da dimens�o da cultura. "O governo tem uma vis�o empresarial. Tanto que est� subalternizando tamb�m as quest�es da identidade racial, dos direitos humanos. A educa��o n�o � vista como algo de cunho social, e sim de ordem econ�mica."
A hostiliza��o do ministro da Educa��o e Cultura por parte dos servidores da Cultura, em sua posse, refor�a a suspeita que a extin��o da pasta tem tamb�m a fun��o de diluir as cr�ticas ao novo governo dentro do minist�rio.
"Eles sabem que o clima � muito hostil. O governo s� se interessa pela economia; o resto � o resto. A inten��o � desmontarem tudo que puderem. E Mendon�a Filho � um troglodita", disse Sader. Na posse do ministro, os funcion�rios gritaram "Cultura somos n�s, nossa for�a e nossa voz" e levaram cartazes com os dizeres "Cultura sim, golpe n�o".
O presidente da Associa��o dos Produtores de Teatro do Rio, Eduardo Barata, conversou na quinta, 12, com o novo ministro e disse ter ouvido dele a garantia de que a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual n�o ser�o alteradas. Ainda assim, Barata se diz "sobressaltado" com a supress�o da representa��o da classe art�stica no governo. "O ministro disse que a especialidade dele � o di�logo, e me assegurou que pode contribuir para o fortalecimento das duas �reas. Mas n�o d� para desistir do minist�rio. Que economia ser� feita? Era uma das pastas com menor or�amento da Rep�blica."
A diretora de teatro infantil Karen Acioly, que vinha colaborando com o MinC na inclus�o da crian�a na pauta do Plano Nacional de Cultura, afirmou ter esperan�as de que programas constru�dos nos �ltimos anos n�o sejam desmontados. "Nenhum de n�s, ligados � identidade e � cultura, foi ouvido nessa decis�o. N�o � bom para o novo governo cortar di�logos que j� existem.
A situa��o � assustadora, mas n�o quero perder minhas esperan�as nem me conformar."
O poeta Ferreira Gullar, cr�tico do governo Dilma Rousseff, n�o viu o fim do MinC como uma desqualifica��o da cultura, mas como uma medida necess�ria para o governo superar as dificuldades financeiras. "S� posso admitir que a raz�o seja reduzir os gastos. Depois pode voltar. Eu acharia melhor manter o minist�rio, mas n�o vivo no mundo da fantasia nem no mundo dos meus desejos. O Pa�s est� falido."