S�o Paulo, 09 - A jornalista Claudia Cruz, mulher do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se tornou r� na Opera��o Lava-Jato. A den�ncia contra Cl�udia Cruz foi aceita pelo juiz federal S�rgio Moro.
Cl�udia Cruz se torna r� por lavagem de dinheiro de mais de US$ 1 milh�o provenientes de crimes praticados por Eduardo Cunha.
A den�ncia foi proposta nesta semana pela For�a Tarefa da opera��o e se tornou p�blica nesta quinta-feira, 9, com seu recebimento. Al�m da esposa do deputado afastado, outras tr�s pessoas s�o acusadas.
Investiga��es apontaram que Cl�udia tinha plena consci�ncia dos crimes que praticava e � a �nica controladora da conta em nome da offshore K�pek, na Su��a, por meio da qual pagou despesas de cart�o de cr�dito no exterior em montante superior a US$ 1 milh�o num prazo de sete anos (2008 a 2014), valor totalmente incompat�vel com os sal�rios e o patrim�nio l�cito de seu marido. Quase a totalidade do dinheiro depositado na K�pek (99,7%) teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.
Os recursos que aportaram na conta de Cl�udia Cruz foram utilizados, por exemplo, para pagar compras de luxo feitas com cart�es de cr�dito no exterior. Parte dos gastos dos cart�es de cr�dito, que totalizaram US$ 854.387,31, foram utilizados, dentre outras coisas, para aquisi��o de artigos de grife, como bolsas, sapatos e roupas femininas. Outra parte dos recursos foi destinada para despesas pessoais diversas da fam�lia de Cunha, entre elas o pagamento de empresas educacionais respons�veis pelos estudos dos filhos do deputado afastado, como a Malvern College (Inglaterra) e a IMG Academies LLP (Estados Unidos).
Cl�udia ainda manteve dep�sitos n�o declarados �s reparti��es federais na offshore K�pek em montante superior a US$ 100 mil entre os anos de 2009 e 2014, o que constitui crime contra o sistema financeiro nacional.
Mais denunciados
Tamb�m s�o acusados nesta den�ncia Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da �rea Internacional da estatal petrol�fera, pelo crime de corrup��o passiva; Jo�o Augusto Rezende Henriques, operador que representava os interesses do PMDB no esquema, por corrup��o passiva, lavagem de dinheiro e evas�o de divisas; e Idalecio Oliveira, empres�rio portugu�s propriet�rio da CBH (Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl), pelos crimes de corrup��o ativa e lavagem de dinheiro.
Procuradores comprovaram a partir de documentos enviados pelo Minist�rio P�blico da Su��a ao Brasil, informa��es obtidas por meio das quebras de sigilo banc�rio e fiscal e depoimentos de colabora��es premiadas, o pagamento de propina num total de US$ 10 milh�es (cerca de R$ 36 milh�es) para que a aquisi��o do campo de petr�leo na �frica fosse concretizada. O neg�cio foi fechado em US$ 34,5 milh�es, o que significa que quase um ter�o do valor total foi destinado a pagamento de vantagem indevida.
Entre os benefici�rios da propina est� o deputado afastado Eduardo Cunha, que tinha participa��o direta na indica��o e manuten��o de cargos na Diretoria Internacional da estatal, e que atuou de modo consistente para que o neg�cio fosse fechado. Para que o pagamento fosse efetuado sem deixar lastros, foi estruturado um esquema para que a propina passasse por diversas contas em nome de "laranjas" (empresas offshores sediadas em para�sos fiscais) antes de chegar nos destinat�rios finais e de ser convertido em bens.
Caminho
O caminho do dinheiro come�a no pagamento da Petrobras � petroleira CBH, que controlava o campo de petr�leo na �frica. Em 3 de maio de 2011 a estatal brasileira transferiu US$ 34,5 milh�es (R$ 138.345.000,00) para a empresa e, na mesma data, houve a transfer�ncia de US$ 31 milh�es da CBH para Lusitania Petroleum, uma holding de propriedade de Idalecio de Oliveira que, abrange, entre outras empresas, a pr�pria CBH.
No dia 5 do mesmo m�s a Lusitania depositou, em favor da offshore Acona, de propriedade de Jo�o Augusto Rezende Henriques, operador do PMDB no esquema da Petrobras, US$ 10 milh�es, que j� haviam sido combinados como pagamento de vantagem indevida. Da offshore Acona, 1.311.700,00 de francos su��os foi depositado na conta Orion SP, de propriedade de Cunha, por meio de cinco transfer�ncias banc�rias entre os dias 30 de maio e 23 de junho de 2011.
Para dar continuidade ao estratagema criminoso e dificultar a identifica��o dos recursos il�citos por parte das autoridades, em 11 de abril de 2014 a offshore Orion SP repassa para a conta Netherton, cujo benefici�rio final tamb�m era Eduardo Cunha, 970.261,34 mil francos su��os e 22.608,37 (euros). Na sequ�ncia, em agosto de 2014, houve a transfer�ncia de US$ 165 mil da conta Netherton para a offshore K�pek, em nome de Cl�udia Cruz.
A conta K�pek, que desde 2008 j� era abastecida por recursos de vantagens indevidas provenientes de outras contas secretas titularizadas por Eduardo Cunha, realizou pagamentos das faturas de cart�o de cr�dito da American Express entre 2008 e 2012 e da Corner Card, entre 2012 e 2015. Todos os pagamentos s�o objeto da den�ncia.
Segundo as investiga��es, o restante do valor da propina paga pela CBH para fechar o neg�cio com a Petrobras (algo em torno de US$ 8,5 milh�es) e que foi depositado na conta Acona, de Jo�o Augusto Rezende Henriques, foi distribu�do para diversas outras offshores cujos benefici�rios ainda n�o foram identificados, havendo suspeitas de que outros agentes p�blicos receberam propinas nessa opera��o.
Corrup��o sist�mica
Os procuradores da For�a Tarefa ressaltam que "as provas que embasaram as acusa��es indicam a exist�ncia de um quadro de corrup��o sist�mica encravado em praticamente todos os contratos da Diretoria Internacional da estatal, sendo que o pagamento de propina era a verdadeira "regra do jogo". A corrup��o foi a um n�vel em que as provas indicam que um ter�o do valor do neg�cio foi reservado para pagar propinas. Isso mostra a necessidade de uma resposta institucional com reformas, dentre as quais a reforma pol�tica e as 10 medidas contra a corrup��o".
Para a For�a Tarefa, "as provas mostram que os denunciados desviaram dinheiro dos cofres da Petrobras, os quais t�m sido objeto de aportes feitos a partir dos cofres da Uni�o. Em �ltima an�lise, h� evid�ncias de que Eduardo Cunha e Cl�udia Cruz se beneficiaram de recursos p�blicos que foram convertidos em bolsas de luxo, sapatos de grife e outros bens de uso privado."
Os procuradores ainda acreditam que as institui��es devem dar resposta, cada uma em sua esfera de a��o, para os graves fatos noticiados, pois o poder e a confian�a depositados pelo povo e pelo Congresso sobre Eduardo Cunha foram por ele desviados de sua finalidade p�blica para enriquecimento privado. Em virtude da cis�o do caso e da necessidade de analisar as provas dos crimes antecedentes praticados por Eduardo Cunha, a fim de que fosse poss�vel formular ju�zo de acusa��o sobre Cl�udia Cruz, foi poss�vel afirmar na den�ncia que h� fortes provas de corrup��o e lavagem por meio de contas no exterior cujos verdadeiros propriet�rios eram, segundo evid�ncias muito consistentes, Eduardo Cunha e Cl�udia Cruz.
Na den�ncia, a for�a-tarefa da Lava Jato ainda pede nova pris�o preventiva de Jo�o Augusto Rezende Henriques e a fixa��o do montante m�nimo para repara��o dos danos causados em US$ 10 milh�es (R$ 36 milh�es). As investiga��es prosseguir�o em rela��o a Daniele Ditz, filha de Eduardo Cunha, e a outros investigados, Jorge Reggiardo e Luis Pittaluga, que atuaram como operadores para abertura da conta Netherton.