Sem comparecer � sess�o dedicada ao seu interrogat�rio na Comiss�o Especial do Impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff enviou uma carta que foi lida pelo seu advogado Jos� Eduardo Cardozo aos senadores. Em depoimento intenso, a presidente se disse v�tima de uma injusti�a e afirmou que aqueles que n�o agirem sentir�o o "peso da vergonha".
"J� sofri a dor indiz�vel da tortura, j� passei pela dor aflitiva da doen�a, e hoje sofro a dor igualmente inomin�vel da injusti�a. O que mais d�i neste momento � a injusti�a. O que mais d�i � perceber que estou sendo v�tima de uma farsa jur�dica e pol�tica", escreveu a presidente.
A carta cont�m 32 p�ginas, sendo que as oito primeiras foram dedicadas ao desabafo pessoal da presidente diante do processo de impeachment. S� em seguida a petista se concentrou nos pontos t�cnicos da den�ncia, que tratam da edi��o de decretos de cr�dito suplementar e as chamadas "pedaladas fiscais".
A petista admite que tenha cometido erros, mas que dentre eles n�o est� a desonestidade. "Jamais desviei um �nico centavo do patrim�nio p�blico para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros. Jamais fugi de nenhuma luta, por mais dif�cil que fosse, por covardia. E jamais tra� minhas cren�as, minhas convic��es, ou meus companheiros, em horas dif�ceis."
No texto, Dilma conclama todos que lutem pela democracia e pela soberania nacional e afirma que a trai��o a essa causa ser�o imperdo�veis. "Os que forem dignos e honrados, se nessa luta capitularem, n�o deixar�o, cedo ou tarde, de sentir o terr�vel peso da vergonha, ao vislumbrarem seu pr�prio rosto no espelho da hist�ria. A covardia ou a trai��o a esta causa ser�o sempre imperdo�veis. Hist�rica, �tica e humanamente imperdo�veis", afirmou.

Cunha
Em refer�ncia ao presidente afastado da C�mara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Dilma alega que o processo de impeachment apenas existe em raz�o de uma chantagem. Na �poca da abertura do inqu�rito, Cunha, que detinha o poder de decis�o, tentou negociar o travamento do impeachment por votos do PT a favor dele no Conselho de �tica da C�mara.
"Sou alvo dessa farsa porque, como Presidenta, nunca me submeti a chantagens. N�o aceitei fazer concess�es e concilia��es escusas, de bastidores, t�o conhecidas da pol�tica tradicional do nosso pa�s. � por ter repelido a chantagem que estou sendo julgada. Este processo de impeachment somente existe por eu ter recha�ado o ass�dio de chantagistas", alegou sem citar o peemedebista.
Em extensa defesa de seus atos que s�o analisados no processo, Dilma disse ter agido com total conformidade com a lei. "Estou sendo julgada, injustamente, por ter feito o que a lei me autorizava a fazer. Nunca, em nenhum pa�s democr�tico, o mandato leg�timo de um presidente foi interrompido por causa de atos de rotina da gest�o or�ament�ria", afirma.
Quanto aos decretos de cr�dito suplementares, a presidente argumenta que foram baixados com autoriza��o legal e que os entendimentos do Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) s�o posteriores. Da mesma forma, a presidente alega que desde a san��o da Lei de Responsabilidade Fiscal, atrasos de pagamentos nunca foram entendidos como "opera��es de cr�dito", vulgo "pedaladas".
Em apelo aos senadores, a presidente argumenta que a h� provas evidentes de que n�o cometeu irregularidades e pediu que seus argumentos sejam considerados com isen��o. "Manifesto minha sincera confian�a na compreens�o das senadoras e dos senadores que, mesmo sendo de oposi��o ao meu governo, estejam abertos a considerar meus argumentos. Espero que muitos estejam dispostos a agir com isen��o", escreve ao final da carta.