S�o Paulo, 17 - As panelas silenciaram. A temperatura das ruas baixou. Tudo parece ter voltado � velha normalidade. Mas, alto l�, n�o era contra a corrup��o? N�o haveria resist�ncia contra aquilo que foi chamado de golpe? Onde est�o �coxinhas� e �mortadelas�? Para onde foi todo mundo?
No dia 13 mar�o deste ano, a imprensa trombeteava �a maior manifesta��o da hist�ria do Pa�s�. Segundo estimativa da Pol�cia Militar, mais de 3 milh�es de brasileiros foram �s ruas para pedir a sa�da de Dilma Rousseff da Presid�ncia da Rep�blica. Dias depois, apoiadores de Dilma tamb�m tomaram as ruas e arregimentaram milhares de manifestantes Brasil afora, conforme a PM e organizadores.
Atos de abrang�ncia nacional ocorreram at� que o afastamento provis�rio de Dilma fosse votado, em 12 maio. Depois disso, um protesto contra o governo interino contou com atos em quase todas as capitais e levou muita gente � Avenida Paulista, mas a PM n�o divulgou o p�blico presente. Desde ent�o, s� manifesta��es pontuais, aqui e acol�, nada muito retumbante. A promessa de incendiar o Pa�s acabou por n�o se concretizar. E, ao menos por enquanto, a luta contra a corrup��o tamb�m se acanhou.
A jornalista Carla Louise, que esteve em diversas manifesta��es a favor do impeachment, confessa que o seu af� j� n�o mais � o mesmo. �Eu sou uma que diminu� o ativismo depois que a Dilma foi afastada. Mesmo n�o confiando no Michel Temer, acho que ele tem feito algo pela economia. � �marotagem� dizer que a corrup��o acaba com a sa�da dela (Dilma), mas tamb�m � cedo demais para sair �s ruas e derrubar ele (Temer).�
Novos casos. Se Carla faz uma pondera��o pol�tica do esvaziamento das ruas, outra manifestante aponta um certo des�nimo do cidad�o comum. �Acredito que as manifesta��es diminu�ram porque todos os dias novos casos (de corrup��o) s�o descobertos, apesar de a indigna��o continuar, a sensa��o � de que as manifesta��es foram em v�o e que n�o mudou nada�, diz a administradora de empresa Cristine Andrade. Na mesma linha vai o empres�rio Carlos Eduardo Ado. �As manifesta��es perderam a for�a pela falta de esperan�a.�
A empres�ria e socialite Ros�ngela Lyra, presidente da Associa��o de Lojistas dos Jardins e ex-sogra do jogador de futebol Kak�, se destacou durante o per�odo de maior efervesc�ncia pol�tica porque esteve dos dois lados do embate (contra e pr�-governo). �Eu pulei fora das manifesta��es porque percebi que n�o era algo contra a corrup��o, mas algo contra um partido espec�fico. Agora, acho, a coisa perdeu for�a porque as pessoas est�o tentando retomar suas vidas, est�o preocupadas com os seus neg�cios e empregos.�
Quando o afastamento tempor�rio de Dilma foi confirmado pelo Senado, imaginava-se uma grande rea��o das for�as que at� ent�o apoiavam a petista. As manifesta��es at� foram realizadas, mas n�o conseguiram mobilizar tanta gente.
Erick Vinicius Borges, estudante de Ci�ncia Sociais na Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo (PUC-SP), foi a praticamente todas as manifesta��es. Se diz entristecido com o esfriamento da resist�ncia. �Ver as pessoas est�ticas me incomoda. Penso que os movimentos sociais tenham perdido f�lego e est�o em uma fase de reavaliar posi��es. � muito dif�cil ser coeso, ter uma boa estrat�gia e saber o que � poss�vel combater.�
Cr�tica. Com mestrado em Sociologia, Dimitri Pinheiro foi outro que esteve nas ruas em protestos contra o afastamento de Dilma. Ele considera o esvaziamento das manifesta��es de esquerda consequ�ncia da pr�pria postura do PT. �Quando vou a uma manifesta��o e ou�o Lula discursar, tenho a sensa��o de que existe um bode na sala e ningu�m quer falar sobre ele�, diz. �Acho que o PT est� pagando o pre�o por ter desmobilizado os movimentos sociais em seu governo.�
Grupos veem 'rucuo estrat�gico'. Os movimentos de �Fica Temer� e �Fora Temer� escolheram o mesmo dia para voltar �s ruas: 31 de julho. Os atos simult�neos servir�o de term�metro para medir o humor do brasileiro em rela��o ao governo interino de Michel Temer. Para os grupos, a data � importante para mostrar �quem est� do lado de quem�. Sobre a diminui��o na participa��o popular nos �ltimos meses, l�deres dos dois grupos consideraram um �movimento natural e estrat�gico�.
O coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Fernando Holiday, disse que a queda do �calor� das ruas era esperado. �As pessoas tinham uma pauta que era o impeachment da Dilma, e consideram que isso j� � fato consumado�, afirmou. �As pessoas precisam de mais tempo para assimilar as pautas propositivas, como o combate � corrup��o e a privatiza��o.�
Para a coordenadora da frente Povo Sem Medo, Janislei Albuquerque, a falta de f�lego dos movimentos �Fora Temer� foi um recuo estrat�gico. �Agora � o momento de visitar escola por escola, sindicato por sindicato e explicar para o cidad�o o que est� acontecendo.� Para Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o grupo passou por uma reflex�o e deve voltar com mais for�a. �As pessoas est�o entendendo que o governo interino est� atacando direitos b�sicos. Vamos intensificar os atos a partir de agora.�
Mobiliza��o � cont�nua, diz especialista. A professora de Sociologia da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas (PUC-MG) Isabelle de Melo Anchieta disse n�o acreditar no �esvaziamento dos movimentos de combate � corrup��o�. Para ela, o brasileiro construiu a maior manifesta��o popular de sua hist�ria e est� vivenciando um per�odo de cidadania. �Desde 2013, as pessoas t�m se manifestado contra a corrup��o. � algo cont�nuo e s�lido.�
Para o professor da Funda��o Escola de Sociologia e Pol�tica de S�o Paulo (FESPSP) e cientista pol�tico Jairo Pimentel, o �Fora Dilma� tinha um apelo concreto e, depois do objetivo conquistado, houve �um esfriamento natural�. �J� o grupo pr�-Dilma tem se concentrado em a��es menos conectadas �s ruas�, afirmou. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S.Paulo