S�o Paulo, 20 - Em seu primeiro depoimento ao juiz S�rgio Moro, realizado nesta ter�a-feira, 19, o ex-presidente da Sete Brasil Jo�o Carlos de Medeiroz Ferraz contou em detalhes como o esquema de corrup��o na Petrobras foi replicado na empresa criada para a produ��o de sondas de explora��o do pr�-sal.
Ferraz fechou um acordo de colabora��o com a Lava Jato e revelou a Moro que teve a ajuda de um banqueiro su��o para abrir uma offshore (empresa em para�so fiscal) no final de 2011 e que foram utilizadas para ele receber cerca de US$ 1,7 milh�o em propinas de um dos estaleiros contratados pela Sete Brasil no per�odo em que ocupou a presid�ncia da companhia, entre 2011 e 2014.
Ele dep�s ao juiz da Lava Jato na a��o penal em que o Minist�rio P�blico Federal aponta o pagamentos de propinas de R$ 185 milh�es referentes ao contrato da Sete com a Keppel Fels (respons�vel pelo estaleiro BrasFels) para a produ��o de quatro sondas de explora��o de pr�-sal. Ferraz responde, junto com outros oito r�us pelos crimes de corrup��o, lavagem de dinheiro e organiza��o criminosa.
As contas da empresa, chamada Firaza, foram abertas pelo banco Kramer, e ficavam na institui��o financeira no pa�s europeu. O processo de abertura, segundo revelou o executivo, ocorreu durante uma viagem de Ferraz e do ex-gerente de Servi�os da Petrobras Pedro Barusco � It�lia para ver o Grande Pr�mio de F�rmula 1 no circuito de Monza, tudo a convite da Petrobras.
"Na oportunidade n�s encontramos um banqueiro do banco Kramer. Esse banqueiro me explicou como era toda estrutura, como que seria feita a abertura da conta. A abertura dessa conta estava associada a cria��o de uma empresa offshore", contou. "Uma seria em Luxemburgo e outra seria no Caribe, e essa estrutura, segundo o banqueiro, daria mais solidez, maior seguran�a", seguiu o executivo. De acordo com ele, foi o pr�prio banco que montou a estrutura para a lavagem de dinheiro de propina.
Um dos idealizadores do projeto da Sete Brasil - a principal aposta dos governos Lula e Dilma para incentivar a produ��o naval nacional e o pr�-sal - junto com Barusco, Jo�o Ferraz veio de uma trajet�ria t�cnica na �rea de Finan�as da Petrobras e disse que s� teve contato com esquemas de corrup��o ao chegar na Sete. Foi o pr�prio Barusco, que tamb�m foi diretor na Sete Brasil e recebia propinas na Petrobras desde 1997, quem lhe revelou o esquema.
"Esse esquema foi implantado pelo pr�prio Barusco, e pelo que ele me informou, em conjunto com o Jo�o Vaccari (ex-tesoureiro do PT). Os dois negociaram com os estaleiros o pagamento de comiss�o de 0,9% sobre o valor total de cada contrato", contou.
Dessa percentagem, dois ter�os ficavam com o PT, por meio de Jo�o Vaccari Neto e o restante era dividido igualmente entre o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e funcion�rios da Sete, incluindo Ferraz.
Ele disse ainda que nunca tratou destes acertos com os estaleiros. "Na verdade, nunca conversei com nenhuma pessoa jur�dica ou f�sica a respeito destes pagamentos (de propina), a �nica pessoa que conversei a respeito deste assunto foi com o Barusco, que se encarregou em fazer a centraliza��o de tudo", disse.
Ao todo, a Sete Brasil chegou a firmar contratos com cinco estaleiros para a produ��o de 29 sondas. Al�m disso, a empresa fez sociedade com seis grandes companhias que iriam atuar como operadoras das sondas. A Lava Jato aponta, com base nas dela��es premiadas e nas investiga��es dos contratos da Sete e das empresas de operadores de propina no exterior, que haveria um esquema de corrup��o nos mesmos moldes do que foi instalado na Petrobras e que parte das comiss�es destinadas ao PT no esquema teriam abastecido contas do casal de marqueteiros Jo�o Santana e M�nica Moura - que atuaram nas campanhas eleitorais de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014).
Defesas
Jo�o Santana e M�nica Moura negam envolvimento nas irregularidades apontadas pelo MPF. O criminalista Luiz Fl�vio Borges D�Urso, que defende Vaccari, afirmou que as acusa��es feitas contra seu cliente n�o procedem. "O que tem acontecido ao longo da opera��o � que existem algumas palavras de delatores, mas essas n�o t�m se confirmado. N�o tem prova nenhuma disso", afirmou.