S�o Paulo e Porto Alegre, 31 - As mudan�as que tornaram a legisla��o eleitoral brasileira mais r�gida abriram espa�o para o crescimento das plataformas digitais de doa��o de campanha. Na elei��o deste ano, um n�mero maior de candidatos dever� usar as ferramentas desenvolvidas para receber dinheiro de pessoas f�sicas pela internet e n�o depender somente do Fundo Partid�rio. Os sites deste tipo, inclusive, j� come�aram o corpo a corpo com os pr�-candidatos para garantir contratos. Pol�ticos e especialistas, no entanto, s�o c�ticos quanto ao real potencial desse tipo de arrecada��o.
As doa��es eleitorais online no Brasil s�o permitidas desde o pleito de 2010, mas sempre tiveram um impacto t�mido. A reforma pol�tica aprovada em 2015 criou um novo cen�rio ao acabar com o financiamento empresarial e endurecer as regras da contabilidade de campanha. O objetivo dos portais para doa��o � justamente oferecer um ambiente pr�prio para que candidatos captem recursos de pessoas f�sicas seguindo as diretrizes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Recentemente, o TSE decidiu que as doa��es de campanha n�o podem ser feitas por plataformas de financiamento coletivo (crowdfunding), as chamadas "vaquinhas virtuais". Este foi o mecanismo que permitiu � presidente afastada, Dilma Rousseff, captar recursos para viajar pelo Brasil durante a tramita��o do processo de impeachment, depois que o governo federal restringiu o uso dos avi�es da For�a A�rea Brasileira (FAB). Uma campanha no site Catarse criada por duas amigas de Dilma levantou R$ 795 mil em 16 dias em doa��es de simpatizantes da causa, acima dos R$ 500 mil esperados inicialmente.
Apesar de a legisla��o eleitoral autorizar que as pessoas f�sicas fa�am aportes em dinheiro mediante transfer�ncia que pode ter origem em s�tios na internet, o TSE n�o reconhece as "vaquinhas virtuais" como sendo uma ferramenta v�lida de doa��o na campanha. A proibi��o do crowdfunding fortalece a atua��o das plataformas digitais constru�das em conformidade com as normas estabelecidas pelo TSE. Ao contr�rio dos sites de financiamento coletivo, aqueles que s�o voltados exclusivamente a doa��es eleitorais n�o oferecem recompensa aos doadores e n�o estabelecem metas de valores, por exemplo. Al�m disso, fazem o controle necess�rio para que s� doadores habilitados possam contribuir.
Os sites desenvolvidos para explorar este novo nicho de mercado no marketing pol�tico tamb�m oferecem integra��o com redes sociais, inser��o de v�deos e at� troca de mensagens com eleitores. Tudo para ser mais um canal de engajamento do cidad�o com o candidato. Mas o tema est� cercado de incertezas. A campanha deste ano ser� um teste.
O presidente do PT de S�o Paulo, Emidio de Souza, acredita que as doa��es eleitorais pela internet devem crescer, seguindo uma tend�ncia mundial. Para ele, o Brasil est� muito atrasado nessa forma de arrecada��o, "mais transparente, moderna e sem influ�ncia do poder econ�mico". Souza disse que o PT vai utilizar as plataformas digitais nas campanhas municipais, mas que a capta��o ficar� mais centralizada no Diret�rio Nacional. "No momento em que o doador for identificado, se definir� para qual cidade direcionar os recursos", afirmou, acrescentando que n�o est� descartado que munic�pios grandes tenham plataformas de doa��o direta aos candidatos.
Julio Semeghini, coordenador da campanha do pr�-candidato Jo�o Doria (PSDB) � Prefeitura de S�o Paulo, diz que o partido dever� utilizar a internet para arrecadar, mas admite ter d�vidas sobre a efic�cia dessa estrat�gia. "Todo mundo vai buscar todas as alternativas porque est� muito dif�cil a arrecada��o", disse. "Esse tipo de a��o � mais para que as pessoas se sintam participantes, porque historicamente n�o � por a� que vai se resolver o problema da doa��o."
J� Jos� Yunes, presidente do diret�rio municipal do PMDB paulistano e coordenador da campanha da senadora Marta Suplicy (PMDB) � Prefeitura de S�o Paulo, � totalmente descrente sobre o alcance da arrecada��o por meio de plataformas digitais. Ele lembra que o Brasil n�o tem uma "cultura" de doa��o eleitoral, como ocorre nos Estados Unidos. Al�m disso, Yunes acredita que o afastamento entre os eleitores e a classe pol�tica vai dificultar o engajamento. "N�s j� tentamos essa forma de arrecada��o na campanha do (Gabriel) Chalita (candidato a prefeito pelo PMDB em 2012) e foi um resultado t�o p�fio que nem lembro qual foi valor arrecadado. Esse ano n�o deve ser diferente", falou.
Em Porto Alegre, os pr�-candidatos � Prefeitura se dizem favor�veis ao uso das plataformas digitais para conseguir doa��es, mas tamb�m reconhecem que o potencial dessas ferramentas ainda � limitado. "Os americanos est�o acostumados a doar, aqui n�o h� esse h�bito. Os valores s�o pequenos e o n�mero de pessoas que doam � pequeno tamb�m. N�o tenho grandes expectativas com isso. Acho que ainda � uma coisa incipiente", disse Luciana Genro, do PSOL, que lidera as pesquisas na capital ga�cha.
Para o consultor em marketing pol�tico e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de S�o Paulo, Gabriel Rossi, o financiamento de pessoas f�sicas deveria, teoricamente, ganhar for�a com o fim dos aportes de empresas. No entanto, na vis�o do especialista, a insatisfa��o da popula��o com os pol�ticos torna dif�cil qualquer tipo de iniciativa de capta��o de recursos, inclusive por meio da internet. "Mas tudo depende do perfil de cada candidato e da avalia��o que o eleitor ter� sobre o impacto na sua vida caso ele seja eleito", explicou.