
Bras�lia – A Opera��o Lava-Jato, desencadeada em mar�o de 2014, vai influenciar diretamente, sobretudo nos grandes col�gios eleitorais, as elei��es municipais. H� dois anos, durante a corrida presidencial que reelegeu Dilma Rousseff (PT), os efeitos foram bem menores porque os investigadores ainda n�o tinham chegado diretamente ao chamado n�cleo pol�tico do esquema. A conclus�o � de cientistas pol�ticos. Eles acreditam que, agora, a opera��o pode levar a um maior �ndice de votos brancos e nulos e at� de absten��es por servir de combust�vel para potencializar um descr�dito hist�rico na classe pol�tica brasileira. Apesar de envolver uma gama variada de partidos pol�ticos, todos s�o enf�ticos em apontar o PT como o maior prejudicado pelos efeitos das investiga��es.
O professor do Instituto de Ci�ncia Pol�tica da Universidade de Bras�lia (UnB) Paulo Calmon diz, por�m, que � preciso levar em considera��o as especificidades de cada disputa eleitoral. “H� uma d�vida, no entanto, em rela��o a essa influ�ncia no voto de cada elei��o espec�fica. Os efeitos, por exemplo, podem ser ignorados na disputa no Recife ou em Curitiba porque ambos os candidatos est�o igualmente envolvidos, falando de maneira hipot�tica.”
Calmon acredita que a Lava-Jato ser� respons�vel por abrir uma grande oportunidade para grupos que contestam a estrutura pol�tica atual no pa�s. “Obviamente, vai existir influ�ncia na medida em que boa parte da elite pol�tica brasileira est� diretamente envolvida em epis�dios relacionados de alguma maneira � Lava-Jato. Seja envolvimento individual ou dos partidos, a popula��o est� influenciada por essa marca de desconfian�a do sistema pol�tico e partid�rio. Afeta porque o prest�gio dos partidos, e o pol�tico em geral, est� abalado”, diz. Ele faz uma leitura de que haver� uma potencializa��o da descren�a na classe pol�tica. “Acho que esse � um elemento que contribui para desinteresse e descren�a em rela��o aos pol�ticos. E isso, inegavelmente, fortalece a tend�ncia das pessoas ignorarem a elei��o. � muito ruim. Sobra para todos os partidos, mas o PT ser� o mais afetado.”
IMAGEM O doutor em ci�ncia pol�tica pela UnB Leonardo Barreto avalia que o PT come�ou a pagar a conta da Lava-Jato antes mesmos das elei��es. “A opera��o j� influenciou, a come�ar pela mudan�a da Presid�ncia da Rep�blica. Agora, a expectativa � de que o candidato do PMDB ou apoiados pelo partido possam ter vantagem por ter acesso a recursos que n�o tinham antes”, diz. Ele analisa que o d�ficit de imagem do partido � grande e isso respinga em seus candidatos. “A consequ�ncia direta � a redu��o do PT, que ter� um d�ficit de imagem importante, em algumas regi�es mais e em outras menos. Uma quantidade grande de petistas deixou o partido. A sigla come�ou a pagar a conta mesmo antes de disputar o processo eleitoral”, avalia.
Barreto acrescenta que a Lava-Jato j� produziu um fato importante para as elei��es. “Uma infer�ncia indireta � que os desdobramentos da opera��o s�o respons�veis por fazer o Supremo Tribunal Federal (STF) adotar postura contr�ria ao financiamento privado de campanha. � sem d�vida um filhote da Lava-Jato. A proibi��o do financiamento privado tem impacto grande nas elei��es. Vai valorizar aqueles que tentam a reelei��o por ter a m�quina p�blica. Tamb�m valoriza os pastores e sindicalistas porque precisam de menos recursos”, declarou. O cientista pol�tico avalia a apatia do eleitorado diante de tantas den�ncias contra pol�ticos. “N�o me surpreenderia se o n�mero de brancos e nulos aumentasse. J� temos uma base de desconfian�a muito forte. Voc� j� tem consolidado um grau de absten��o e de votos brancos e nulos. � poss�vel que se tenha um incremento, mas � dif�cil de estimar.”
Em 2006, os efeitos do mensal�o n�o foram suficientes para impedir a reelei��o do presidente Lula. A avalia��o � de que a impressionante for�a pol�tica do petista, na �poca, e um governo muito bem avaliado reduziram a quase nada os desdobramentos do esc�ndalo de compra de apoio parlamentar. J� os candidatos proporcionais em 2006 citados na Opera��o Sanguessuga amargaram derrotas pol�ticas. Dos 64 deputados e tr�s senadores que responderam a inqu�rito no Supremo Tribunal Federal (STF) e foram candidatos, a grande maioria passou longe do n�mero necess�rio de votos para garantir o retorno. Apenas seis citados no caso conseguiram se eleger.
A investiga��o do n�cleo pol�tico da Lava-Jato come�ou em mar�o de 2015, quando o Procurador-Geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, apresentou 28 peti��es ao STF para a abertura de inqu�ritos criminais destinados a apurar fatos atribu�dos a 55 pessoas, das quais 49 eram titulares de foro por prerrogativa de fun��o. A expectativa � de que a Lava-Jato tenha maior influ�ncia em grandes cidades. “Normalmente, as elei��es municipais se concentram em temas locais. Os assuntos nacionais quase n�o aparecem. � mais prov�vel que apare�a com mais for�a nos grandes col�gios”, atesta Barreto.