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Estado de Minas

PT fecha ciclo de 13 anos no poder com m�cula na bandeira �tica

Consumido pelas crises econ�mica e �tica, maior partido de esquerda da Am�rica Latina v� seu legado se esfarelar


postado em 21/08/2016 06:00 / atualizado em 21/08/2016 07:46

(foto: Roberto Stuckert Filho/ Divulgação)
(foto: Roberto Stuckert Filho/ Divulga��o)

Bras�lia – Com a conclus�o efetiva do processo de impeachment – a previs�o � de que a vota��o aconte�a at� 30 de agosto e os votos necess�rios para o afastamento definitivo de Dilma Rousseff j� est�o mais do que assegurados – chega ao fim um ciclo de 13 anos e meio do PT na administra��o federal. O maior partido de esquerda da Am�rica Latina e o primeiro a chegar ao poder no Brasil, que sempre se orgulhou de ter inclu�do 50 milh�es de pessoas, deixa tamb�m como heran�a 12 milh�es de desempregados, uma recess�o que j� dura tr�s anos e uma m�cula dif�cil de ser superada naquilo que ostentava como maior orgulho antes da experi�ncia no Planalto: a bandeira da �tica.


“Em muitos momentos, o PT soube dar a vara �s pessoas, mas jamais ensinou-as, de fato, a pescar”, resumiu o cientista pol�tico da Funda��o Escola de Sociologia e Pol�tica de S�o Paulo Rui Tavares Maluf. � um racioc�nio semelhante ao elaborado por um dos petistas mais hist�ricos e desiludidos com os rumos da legenda, Frei Betto. “Foram governos que fizeram a inclus�o econ�mica na base do consumismo e n�o pol�tica e socialmente”, tem repetido o te�logo.

Maluf lembra que o Bolsa-Fam�lia, um aprimoramento dos programas sociais desenvolvidos em administra��es anteriores, como o Bolsa-Escola, acabou passando por problemas no cadastro. “Investiga��es mostraram que algumas pessoas que n�o teriam direito ao benef�cio acabavam continuando a receb�-lo”, diz o cientista. Analistas de mercado, contudo, reconhecem que a cria��o desta rede de prote��o social talvez seja o principal legado, especialmente porque n�o se criou algo extremamente oneroso do ponto de vista fiscal: o Bolsa-Fam�lia tem impacto m�nimo no or�amento federal.

Para al�m do ponto de vista �tico, contudo, onde o PT mais errou a m�o, na avalia��o dos especialistas ouvidos pela reportagem, foi na �rea econ�mica. “Destes 13 anos, os �nicos acertos neste campo aconteceram ao longo do primeiro mandato de Lula (2003-2006). No segundo mandato, a situa��o come�ou a se deteriorar”, afirmou o professor de hist�ria pol�tica contempor�nea da Universidade de Bras�lia (UnB) Ant�nio Jos� Barbosa.

Para investidores experientes, o primeiro mandato lulista tinha a Carta ao Povo Brasileiro como �gide e a prud�ncia de Ant�nio Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central. Mas Palocci acabou caindo, abatido por esc�ndalos e, ao longo do segundo mandado, Lula pisou no acelerador dos gastos p�blicos, especialmente para eleger como sucessora Dilma Rousseff. “Com a entrada do BNDES no financiamento, expandiu-se demais o papel do estado na gest�o macroecon�mica, o que foi desastroso”, afirmou Rui Tavares Maluf.

No primeiro mandato de Dilma, os elogios restringem-se a 2011, quando ela tentou segurar os gastos e impor uma faxina �tica. A partir de 2012, contudo, foi criada a nova matriz econ�mica. “O trio Dilma, Guido Mantega (Fazenda) e Arno Augustin (Secretaria do Tesouro Nacional) fez estragos que culminaram nas pedaladas fiscais e na atual recess�o”, declarou um investidor.

O professor da UnB tamb�m criticou o PT pelo enfraquecimento das institui��es. “Se formos lembrar, ao longo do primero mandato, tivemos o esc�ndalo do mensal�o. N�o se tratava apenas de uma quest�o de corrup��o, mas uma tentativa de submiss�o do Parlamento ao Executivo. Al�m disso, houve um processo de aparelhamento muito grande nos diversos n�veis de poder”, completou Ant�nio Barbosa.

Petistas desiludidos tamb�m lamentam que o partido n�o tenha conseguido aproveitar o apoio popular, sobretudo quando Lula foi eleito em 2002, para fazer as reformas estruturantes que o pa�s precisa. Preferiu navegar no boom das commodities e da liquidez internacional. “Em vez de enfrentar o sistema com a for�a que trazia das ruas, Lula resolveu aproveitar-se do que j� havia. Nasceu o mensal�o. Em 2006, ele resolveu dobrar a aposta e surgiu o Petrol�o. Dilma foi eleita, tentou quebrar com tudo – mudou diretores da Petrobras, demitiu ministros – mas n�o teve for�a pol�tica e acabou sendo engolida”, completou um militante.

Inc�gnita para 2018
O futuro do PT � uma inc�gnita que nem os pr�prios petistas conseguem decifrar. Antes mesmo de qualquer desconfian�a de riscos de um processo de impeachment, caciques importantes da legenda, como o ex-chefe da Casa Civil Jaques Wagner, sabiam que seria praticamente imposs�vel o partido manter-se no poder ap�s 16 anos no Planalto. Por isso, muitos pensavam em uma transi��o, que mantivesse a legenda viva, no corpo de aliados.

A primeira op��o, que parecia evidente, era o ent�o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mas ele n�o confiou no PT e decidiu lan�ar-se ao Planalto pelo PSB. Acabou sendo v�tima de um tr�gico desastre a�reo em plena campanha presidencial. Uma outra op��o seria uma parceria com o pr�prio PMDB. “Eles estavam conosco na chapa presidencial desde 2010. Sempre tiveram projetos de poder, mas jamais tiveram mecanismos para chegar l�. Poder�amos ter proposto uma parceria para 2018”, disse um interlocutor petista.

Al�m disso n�o ter sido feito, a rela��o entre os dois partidos foi se envenenando aos poucos at� que o vice-presidente Michel Temer come�ou a trabalhar abertamente pelo impeachment de Dilma. Com as recentes investiga��es da Lava-Jato, Lula tornou-se alvo preferencial, mas, ao mesmo tempo, tem demostrado vontade de disputar as elei��es de 2018 como uma maneira de dar a volta por cima e resgatar a pr�pria imagem e a do partido. Mas nem mesmo ele tem a certeza de como estar�o as coisas daqui a pouco mais de dois anos, quando come�ar� a corrida presidencial.

O fim de uma era

Principais fatos dos 13 anos de O PT no poder


2003
» Lula toma posse como presidente da Rep�blica, eleito com 52,7 milh�es de votos
» O PT lan�a o Fome Zero, embri�o do Bolsa-Fam�lia

2005
» Estoura o esc�ndalo do mensal�o envolvendo o ministro da Casa Civil, Jos� Dirceu, um dos principais nomes do partido

2007
» Lula � reeleito com 58,2 milh�es de votos
» O presidente lan�a o Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) para tentar destravar os investimentos em infraestrutura

2008
» O mundo mergulha na maior crise econ�mica desde o crash de 1929. O governo petista inicia uma s�rie de desonera��es, como medidas antic�clicas que, a longo prazo, fragilizaram a economia

2010
» Dilma � eleita com 55,5 milh�es de votos
» Presidente demite sete ministros na faxina �tica. Depois, � obrigada a recuar em alguns casos

2012
» Dilma troca a diretoria da Petrobras
Governo d� in�cio � nova matriz econ�mica

2014
» Sem admitir durante a campanha que o pa�s j� estava em recess�o, Dilma � reeleita com 54,5 milh�es de votos

2016
» Dilma � afastada da Presid�ncia da Rep�blica com a abertura do processo de impeachment

 

 


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