Bras�lia – A atual crise pol�tica que afasta os eleitores dos chamados partidos tradicionais — a maioria deles chamuscados ou derretidos por den�ncias de corrup��o nas tr�s esferas administrativas —, aliada �s caracter�sticas regionais das elei��es municipais, gerou uma pulveriza��o das legendas que lideram as pesquisas de inten��o de voto das elei��es de outubro.
J� o PMDB, de Michel Temer, que recentemente foi efetivado como presidente ap�s a conclus�o do processo de impeachment de Dilma Rousseff, n�o tem aproveitado, ao menos por enquanto, o poder da caneta federal. A legenda lidera em apenas tr�s capitais: Boa Vista (RR), Goi�nia (GO) e Porto Alegre (RS).
Por outro lado, partidos criados recentemente, como a Rede e o Solidariedade, surgem bem colocados nas pesquisas, por exemplo, em Macap� (AP) e Vit�ria (ES). E at� o nanico PMN lidera em Curitiba (PR).
“� sempre bom lembrar que as elei��es municipais t�m caracter�sticas distintas, pois refletem as brigas regionais. Um nome de peso que perde espa�o em uma legenda grande, por exemplo, muitas vezes se filia a outra com menor densidade eleitoral apenas para disputar a elei��o”, refor�ou a vice-presidente da Ideia Intelig�ncia, Cila Shulman.
“Al�m disso, o pr�prio debate � mais administrativo, em torno da capacidade de resolver os problemas da comunidade. O que menos importa, em muitos casos, � o partido ao qual o candidato est� filiado”, completou.
A executiva da Ideia Intelig�ncia acrescenta outro ingrediente neste cen�rio. “Os atuais prefeitos ou aqueles que lan�aram nomes para suced�-los enfrentam dificuldades. Poucos deles conseguiram realizar boas obras, o dinheiro acabou, a Lei de Responsabilidade Fiscal amea�a todos com a inelegibilidade e os empr�stimos f�ceis de outros tempos, como os do Banco Mundial, n�o existem mais”.
Crise favorece pulveriza��o partid�ria
Para o cientista pol�tico da Funda��o Escola de Sociologia e Pol�tica de S�o Paulo Rui Tavares Maluf, a atual crise no sistema pol�tico tamb�m contribui para essa pulveriza��o partid�ria. “Vivemos uma crise de representatividade. H� muito tempo as nossas legendas n�o s�o consolidadas, acabam se formando diversos partidos que n�o t�m qualquer composi��o ideol�gica. � de assustar, de fato”, disse. Maluf, contudo, acha que ainda � cedo para se ter certeza do resultado final destas elei��es.
“� preciso esperar a abertura das urnas. E, mais do que isso, � prematuro avaliar se essa pulveriza��o ser� uma tend�ncia para disputas futuras ou apenas uma conjuntura atual”. Maluf lembrou que o PMDB, mesmo nos tempos mais duros e de rejei��o ao sistema pol�tico, sempre tem mantido sua capilaridade pol�tica, elegendo o maior n�mero de prefeitos e bancadas numerosas para a C�mara e o Senado.
O cientista pol�tico e professor do Insper Carlos Melo aponta o enfraquecimento do PT como um dos principais respons�veis por essa pulveriza��o. “O partido s� aparece na frente nas distantes Boa Vista e Porto Velho.
No caso do Acre, h� muito mais uma quest�o da oligarquia familiar dos Viana do que, necessariamente, uma identidade com o PT”, afirmou. “Em capitais como o Rio, S�o Paulo e Belo Horizonte, onde os candidatos petistas sempre foram competitivos, desta vez n�o t�m chance”. No Rio, por exemplo, o partido nem sequer tem candidato, optando por apoiar a candidata do PcdoB, Jandira Feghali.
Elei��o em segundo plano
Para Melo, � preciso ressaltar que esta � uma “elei��o an�mala”, com uma s�rie de assuntos nacionais, muitos deles que geram como��o: Olimp�adas, Paralimp�adas, impeachment de Dilma Rousseff, cassa��o de Eduardo, a morte de um ator global.
“As disputas municipais est�o em segundo plano. Todos analisam pesquisas, mas se esquecem de citar que, na m�dia, 50% dos eleitores entrevistados n�o sabem quem est� na disputa. Um candidato como Celso Russomano (PRB), por exemplo, que aparece com 30% das inten��es de voto, na verdade, tem apenas 15% da prefer�ncia do eleitorado”, calculou.
