S�o Paulo e Curitiba, 29 - Ao avan�ar sobre as anota��es e codinomes utilizados pela c�pula da Odebrecht para o pagamento de propinas em obras em todo o Pa�s, a Pol�cia Federal aponta a suspeita de repasses il�citos ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, ao ex-deputado e ex-l�der do Governo na C�mara C�ndido Vaccarezza (PT), e ao deputado Carlos Zarattini (PT-SP) referentes a contratos da empreiteira com a Prefeitura de S�o Paulo em 2011.
A anota��o sob suspeita dos investigadores est� no celular de Marcelo Odebrecht, em uma pasta intitulada como 'Cr�dito' e com a express�o "BMX: Vacareza e Zaratini 3%, sendo 3 deles, mais 1 GM at� outubro. Depois 21M p/GM e 2 para V + Z".
Para a PF, a refer�ncia aos ent�o deputados e ao ex-ministro (identificado pela sigla GM) estariam relacionadas �s obras da BMX Empreendimento Imobili�rio e Participa��es S/A, uma incorporadora respons�vel pela obra Parque da Cidade - constru��es residenciais, comerciais e at� um shopping feito pela Odebrecht na capital paulista.
O celular do empreiteiro foi apreendido na 14.� fase da Lava Jato, chamada Erga Omnes, deflagrada em junho de 2015.
O delegado federal Filipe Hille Pace afirma em relat�rio de an�lise das mensagens - documento que embasou a Opera��o Omert�, 35� fase da Lava Jato deflagrada na segunda-feira, 26 -, que as investiga��es identificaram nas anota��es uma rotina de Marcelo Odebrecht. "Relacionava projetos que geravam lucro para as empresas da holding Odebrecht como motivos para pagamentos il�citos."
O delegado aponta suspeitas sobre os petistas ao analisar os outros trechos das anota��es que associam as siglas referentes aos pol�ticos com valores.
Em uma tabela abaixo da primeira cita��o, a "BMX", descrita como "evento out", Marcelo Odebrecht detalha o que seriam os valores referentes a cada codinome.
Ap�s analisar outras mensagens e di�logos de executivos da Odebrecht, a PF afirma que as express�es 'evento' e 'evento out' seriam uma refer�ncia �s elei��es e, por isso, o delegado aponta as seguintes suspeitas:
"Candido El�pio Vacarezza (VACAREZZA; V�a), Carlos Zarattini (ZARATTINI; Z) receberiam R$ 3.000.000,00 relacionados ao 'Evento Out' e R$ 2.000.000,00 relacionados a 'Evento 2014', este �ltimo valor sob orienta��o de Guido Mantega (GM; G.)", afirma o delegado no relat�rio.
"Guido Mantega (GM), por sua vez, ao que parece, definiria a destina��o de R$ 1.000.000,00, relativo ao 'Evento Out', e de R$ 21.000.000,00, relacionado ao �Evento 2014'", segue o investigador.
Chamou a aten��o do delegado Pace o fato de, em novembro de 2011, Marcelo Odebrecht ter recebido um e-mail com anota��es sobre v�rios projetos da Odebrecht e objetivos da empresa para dar andamentos a eles. Um destes projetos �, exatamente, o "Projeto BMX (SP)" e, no e-mail, � descrita a preocupa��o da empresa em conseguir as "aprova��es finais" da proposta junto � Prefeitura de S�o Paulo, bem como viabilizar a aquisi��o de Certificados de Potencial Adicional de Constru��o - Cepacs, emitidos pela prefeitura.
Em rela��o a Zarattini, que ainda � deputado e possui foro privilegiado, as informa��es sobre ele j� foram encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal.
Vaccarezza e Mantega, por sua vez, n�o possuem foro privilegiado e est�o sob investiga��o da Lava Jato em Curitiba, sob tutela do juiz federal S�rgio Moro.
No caso do ex-ministro, ele chegou a ser detido e solto cerca de cinco horas depois na 34.� fase da Lava Jato, chamada Arquivo X, deflagrada na quinta-feira, 22.
Arquivo X apura a suspeita de pagamento de US$ 2,3 milh�es pelo empres�rio Eike Batista ao PT por ordem de Mantega.
O ex-ministro � citado pela Pol�cia Federal em outras planilhas de Marcelo Odebrecht que fazem refer�ncia � contabilidade paralela que a empreiteira mantinha junto ao PT.
Neste caso, ele seria identificado como "p�s It�lia", uma refer�ncia � sucess�o do ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma), identificado como "italiano", nas rela��es com a empreiteira.
Defesa
Em nota, deputado Carlos Zarattini afirmou: "Desconhe�o o teor e veracidade desses documentos. N�o tenho nenhum conhecimento do que significam. Reitero mais uma vez que todas as doa��es feitas a minha campanha foram legais e devidamente inclu�das na presta��o de contas apresentada � justi�a eleitoral".
O advogado Jos� Roberto Batochio, que defende o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, reagiu com ironias �s suspeitas dos investigadores baseadas em anota��es no celular do empreiteiro Marcelo Odebrecht. Batochio invocou at� a famigerada pol�cia secreta russa. "Nunca foi do conhecimento do ministro Mantega qualquer c�digo cifrado em celular de quem quer que seja. Isso s� existe na KGB e na cabe�a dos investigadores."
J� o criminalista Marcellus Ferreira Pinto, que defende Vaccarezza, afirmou:
"As obras do Parque da Cidade, vinculadas ao denominado Projeto BMX, foram executadas durante a gest�o de Gilberto Kassab, � �poca filiado ao DEM, not�rio opositor da gest�o do PT tanto na esfera municipal quanto na federal. Portanto, n�o seria conceb�vel qualquer tipo de inger�ncia de C�ndido Vaccarezza na gest�o das obras realizadas pela Prefeitura de SP. Quanto ao suposto 'Evento 2014', as doa��es recebidas por C�ndido Vaccarezza naquela elei��o s�o p�blicas, est�o sob aprecia��o no TSE e j� houve manifesta��o do Minist�rio P�blico Federal Eleitoral por sua aprova��o."