Porto Alegre - O PT perde import�ncia pol�tica com o resultado das elei��es municipais. A constata��o � do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, l�der da Mensagem ao Partido, corrente que busca uma reformula��o profunda do partido.
Tarso, ide�logo da tese de refunda��o do PT, lan�ada ap�s o mensal�o e revivida agora, disse que essa reformula��o passa por uma mudan�a na hegemonia interna e autocr�tica radical na qual o PT, por um lado, deve assumir a responsabilidade por erros cometidos por dirigentes em nome da legenda e, por outro, apontar os que se beneficiaram pessoalmente.
Segundo ele, se o atual grupo dirigente sonegar a autocr�tica, o partido deve sofrer um racha, com a sa�da de v�rios l�deres importantes.
O que levou � derrota do PT nas elei��es municipais?
Como o PT estava no governo e tinha uma for�a pol�tica muito grande no Pa�s, foi atingido massivamente por este conjunto de for�as que se organizou em torno da chamada luta contra a corrup��o. Praticamente 80% dessa for�a negativa foi sobre o partido. Mas, se formos examinar por completo o que est� acontecendo, � uma devasta��o de todo o sistema pol�tico e partid�rio que atingiu principalmente quem estava no poder.
Estamos vivendo o fim de um ciclo hist�rico?
Pode ter encerrado um per�odo dentro de um ciclo ou pode ter encerrado um ciclo. Isso ainda n�o est� decidido. A rea��o popular e da pr�pria plutocracia estatal � PEC 241 (que estabelece um teto para os gastos do governo) � que vai dizer. Se a PEC 241 for aplicada na sua totalidade, acho que se encerrou um ciclo. Mas, se ela for negociada e flexibilizada ao longo do processo, pode ser apenas o fim de um per�odo e pode ser que se resgate mais adiante a vontade de construir um estado social relativo e que mantenha o estatuto da pol�tica como meio fundamental para resolver as controv�rsias.
O senhor disse que foi uma derrota de todos os que estavam no governo, mas o governador Geraldo Alckmin e o PSDB tiveram vit�rias expressivas. O que explica esse sucesso?
Alckmin � a v�lvula de escape mais adequada para a centro-direita no Brasil. N�o s� porque ele tem uma import�ncia extraordin�ria dentro do PSDB, como tamb�m porque os demais pr�ceres tucanos, principalmente a ala aecista, sa�ram muito machucados. Ele emerge, sim, com for�a neste processo.
Qual � o papel do PT nesta nova conjuntura pol�tica?
O PT perde muita import�ncia pol�tica a partir destas elei��es. Tenho sustentado a vis�o de que o PT, para se recuperar como sujeito pol�tico, que seja o novo condutor de reformas, tem que se articular para fora. N�o � transformar o partido numa delegacia de pol�cia. O que temos que ver � quais foram os problemas organizativos, ideol�gicos e program�ticos que nos levaram a ser tolerantes com este tipo de conduta.
O PT vai fazer isso?
N�o sei. � isso precisamente que est� em jogo hoje no partido. H� uma vis�o de uma nova frente pol�tica.
Isso passa pela reorganiza��o do partido e da esquerda?
O partido tem que dizer como vai se organizar de dentro para fora e isso significa formatar uma nova vis�o de coaliz�o e uma nova vis�o de frente. Para mim, o exemplo mais adequado � a Frente Ampla do Uruguai. Uma organiza��o at�pica, plural, que pega desde o centro progressista at� a esquerda democr�tica e apresentou um programa n�o s� de partido, mas de movimentos, personalidades, organiza��es de base. Quando falo que tem que ser uma frente de esquerda, n�o quero dizer que seja uma frente esquerdista. Ela estaria � esquerda da coaliz�o que fizemos com o PMDB.
Quais seriam estas for�as de centro democr�ticas e progressistas das quais o senhor fala?
Est�o espalhadas em v�rios partidos. O centro no Brasil sempre foi uma rela��o de oportunidades no governo e n�o uma base program�tica. N�o temos um partido de centro. Temos posi��es centristas que se somam para governar. Temos que procurar estas vis�es de centro e dar condi��es de que elas participem.
A renova��o do PT passa por responsabilizar pessoalmente quem cometeu atos il�citos?
Isso, evidentemente, deve ser uma decorr�ncia. Porque o partido vai ter que separar. Sobre as pessoas que cometeram ilegalidades em proveito do partido, o partido vai ter que dizer: essas pessoas cometeram caixa 2 para o PT, o PT � respons�vel por este erro. Agora, quanto �s pessoas que cometeram ilegalidades em proveito pr�prio, o partido n�o � respons�vel. Estas t�m que ser evidentemente apontadas.
Existe o risco de uma ruptura profunda no PT?
Pode ocorrer. Isso n�o deve ser tratado com a forma de um ultimato. O que pode ocorrer � que, se a maioria partid�ria sonegar uma profunda discuss�o sobre os nossos problemas, certamente haver� uma dispers�o, pessoas v�o sair. Algumas dessas pessoas poder�o ir para um novo partido, outras dever�o se desligar e ficar na sociedade civil.