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Estado de Minas

Um dos principais personagens da Lava-Jato vai para pris�o domiciliar

O doleiro Alberto Youssef deixa hoje a sede da Pol�cia Federal, em Curitiba, para cumprir pris�o domiciliar em S�o Paulo


postado em 16/11/2016 07:49 / atualizado em 16/11/2016 08:12

O doleiro Alberto Youssef deixa a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, nesta quarta-feira e será monitorado por tornozeleira eletrônica(foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
O doleiro Alberto Youssef deixa a carceragem da Pol�cia Federal, em Curitiba, nesta quarta-feira e ser� monitorado por tornozeleira eletr�nica (foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

S�o Paulo - Ap�s ouvir nesta quarta-feira, 16, o barulho da tranca que separa a rua do c�rcere, na sede da Pol�cia Federal, em Curitiba, Alberto Youssef vai trocar a capital paranaense por S�o Paulo. Um dos principais personagens da Opera��o Lava-Jato, o doleiro que operava o pagamento de propinas no bilion�rio esquema de corrup��o na Petrobras, deixar� a cela de 12 metros quadrados, na qual passou os �ltimos 2 anos e 8 meses, para cumprir pris�o domiciliar.

Monitorado por uma tornozeleira eletr�nica, Youssef vai se mudar para um apartamento de pouco mais de 50 metros quadrados. O pr�dio, no entanto, fica em um dos endere�os mais caros da cidade, a Vila Nova Concei��o. Com vista para o Parque do Ibirapuera - um o�sis verde na capital paulista -, o doleiro s� poder� descer at� a academia do condom�nio e se descolar para atendimentos m�dicos.

"O Beto vai come�ar vida nova, como empres�rio", afirmou seu advogado, o criminalista Antonio Figueiredo Basto. "� preciso manter a esperan�a que qualquer um pode se remediar", afirmou uma autoridade envolvida nos processos contra o r�u beneficiado por uma dela��o premiada - ele foi pioneiro na colabora��o, ao lado do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Aos 49 anos, com problemas do cora��o - chegou a ser internado duas vezes durante o per�odo de pris�o -, Youssef vai morar sozinho. Casado, em processo de separa��o, e pai de duas filhas, o doleiro teve sua vida amorosa exposta com a pris�o na Lava-Jato.

O caso extraconjugal com Taiana Camargo, de 30 anos, com quem dividia a rotina de viagens em jatinhos particulares, jantares em restaurantes caros e dinheiro farto, foi o primeiro a se tornar p�blico com os grampos feitos em seus aparelhos celulares - ele tinha mais de 35. O epis�dio rendeu para ex-parceira um contrato de capa na revista Playboy como a "amante do doleiro da Lava-Jato".

O affair de Youssef que teve maior repercuss�o, no entanto, foi com a doleira Nelma Kodama, que se autointitulava a "dama do mercado negro". Presa tamb�m em mar�o de 2014, tentando fugir do Brasil com euros na calcinha, alvo da Opera��o Dolce Vita (nome de um cl�ssico de Federico Fellini).

Diante de deputados da CPI da Petrobras, em audi�ncia p�blica realizada em maio de 2015 e transmitida em cadeia nacional de TV, Nelma surpreendeu ao responder a um deputado sobre sua rela��o extraconjugal com o doleiro: "Depende do que o senhor (deputado) entende como amante. Eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante � uma palavra que engloba tudo, n�? Amante � ser amigo, � ser esposa, pode ser tudo". De bra�os ao ar, cantarolou trecho da can��o Amada Amante, de Roberto Carlos, para falar sobre "Beto".

Dono da mais complexa e sofisticada lavanderia de dinheiro a servi�o de empreiteiras, partidos, agentes p�blicos e pol�ticos envolvidos no esquema, Youssef cumprir� mais 4 meses de pris�o domiciliar, antes de se tornar um homem livre - o que acontecer� no dia 17 de mar�o de 2017.

O direito � liberdade foi o pr�mio obtido pelo doleiro, em troca da confiss�o de culpa nos crimes contra a Petrobras e da entrega de provas de novos delitos. Pelo acordo, fechado em setembro de 2014, sua pena m�xima de pris�o ficou limitada a 3 anos.

Ele e Costa confessaram � Justi�a serem bra�os do PP no esquema de arrecada��o de propinas na Petrobras. Suas revela��es transformaram as investiga��es de corrup��o e lavagem de dinheiro em duas obras de refinarias da estatal - Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e Get�lio Vargas (Repar), no Paran� - no maior esc�ndalo de corrup��o do Brasil - provocando ainda uma enxurrada de dela��es, s�o 57 at� aqui.

"N�o sou o mentor nem o chefe desse esquema", afirmou Youssef, no dia 8 de outubro de 2014, na primeira confiss�o do caso diante do juiz federal S�rgio Moro. "Sou apenas uma engrenagem desse assunto que ocorria na Petrobras. Tinha gente muito mais elevada acima."

A partir das confiss�es de Youssef e Costa - que tamb�m deixou a cadeia, no �ltimo m�s -, a Lava-Jato tomou nova propor��o. S�o mais de 80 condenados, penas que somadas ultrapassam mil anos de pris�o, mais de R$ 6,4 bilh�es em propinas e a descoberta de que a corrup��o era a "regra do jogo" em contratos do governo.

Bom delator


Para delegados e procuradores da for�a-tarefa, apesar de ser um "profissional do crime", em quem n�o se deve confiar, Youssef foi, at� aqui, um dos melhores delatores da Lava-Jato. "Tudo que ele revelou na dela��o se comprovou", afirmou o delegado M�rcio Anselmo, da equipe que originou as investiga��es em Curitiba.

Bra�o direito do deputado federal Jos� Janene (morto em 2010) - o ex-l�der do PP que deu origem � Opera��o Lava-Jato -, Youssef foi alvo principal da primeira fase das investiga��es, deflagrada em 17 de mar�o de 2014. Era segunda-feira e o rel�gio da recep��o do Hotel Luzeiros, em S�o Lu�s, capital do Maranh�o, marcava 6 horas, quando uma equipe de federais subiu ao s�timo andar para prender o h�spede do quarto 704.

Velho conhecido de autoridades de outras pris�es, o doleiro chegara acompanhado de um amigo na noite de domingo carregando duas malas e uma caixa de vinhos embaixo do bra�o. Uma delas guardava R$ 1,4 milh�o em dinheiro em esp�cie. Era propina da empreiteira UTC a ser entregue na tarde seguinte a um secret�rio do governo Roseana Sarney (PMDB), em contrapartida a libera��o "adiantada" de dinheiro de d�vida de mais de R$ 100 milh�es que o grupo tinha a receber do Estado.

Tr�s horas antes dos policiais baterem � porta do quarto 704, com vista para o mar, Youssef desconfiou do risco de ser preso e levou a mala milion�ria at� o quarto do comparsa. Assim, mesmo preso, conseguiu efetivar o pagamento da propina, como revelaram � Pol�cia Federal, posteriormente, as imagens das c�meras de seguran�a do hotel.

'Il Bidone'


A opera��o que tinha Youssef como alvo foi batizada de Bidone, refer�ncia ao filme Il Bidone (ou, A Trapa�a), outro cl�ssico de Fellini, que tem como protagonistas tr�s trapaceiros que vivem de aplicar golpes na It�lia p�s-guerra, dos anos 1950. O personagem principal, Augusto, � um velho trapaceiro em crise de consci�ncia: abandonar a vida de trambiques ou buscar a retid�o ao lado da filha.

Beto � um "profissional do crime", definiu Moro, respons�vel pelos processos da Lava-Jato em Curitiba.

Nascido em Londrina, filho de pai liban�s e m�e brasileira, Youssef vendia salgado nas ruas e ainda jovem virou contrabandista, trazendo mercadorias n�o declaradas do Paraguai para vender no Brasil. Considerado um criminoso h�bil, logo deixou de cruzar a fronteira com mercadorias n�o declaradas e passou a envi�-las via Correios. Foi detido cinco vezes nesse per�odo.

Em 2004 foi preso no primeiro grande esc�ndalo de corrup��o, como um dos operadores das contas CC5 (de n�o residentes), usadas para remessa ilegal de mais de R$ 30 bilh�es ao exterior, por meio do antigo Banco do Paran�, o Banestado. Entre 2000 e 2002, Youssef j� havia sido preso outras tr�s vezes, envolvido em esquemas de desvios na administra��o estadual e municipal. No caso Banestado ficou preso apenas um ano e meio e foi solto ap�s fechar um dos primeiros acordos de colabora��o da Justi�a brasileira, homologado pelo at� ent�o desconhecido Moro.

Pelo atual acordo de dela��o, Youssef n�o poder� cometer qualquer tipo de crime por um prazo de dez anos, ficando sujeito a responder aos processos e �s penas que lhe forem imputadas na Lava-Jato - 122 anos de cadeia. Ap�s o prazo, se for pego cometendo novo crime, tamb�m voltar� a responder �s a��es da Lava-Jato em tipifica��es que ainda n�o tenham prescrito. Para se beneficiar ele precisou devolver cerca de R$ 50 milh�es.

PARA LEMBRAR


Ex-diretor tirou tornozeleira


Em outubro de 2014, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi para o regime de pris�o domiciliar ap�s ficar sete meses preso na carceragem da Pol�cia Federal em Curitiba. Um ano depois, ele deixou o regime domiciliar, ap�s firmar acordo de dela��o premiada com a for�a-tarefa da Opera��o Lava-Jato, com monitoramento da tornozeleira eletr�nica. No dia 6 deste m�s, o ex-diretor da estatal deixou de usar o equipamento sob a condi��o de prestar servi�os � comunidade.


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