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Estado de Minas

'Partidos n�o s�o mais capazes de capitalizar massas'


postado em 27/11/2016 09:37

S�o Paulo, 27/11/2016 - O professor de �tica pol�tica Roberto Romano defende a tese de que quanto mais ca�tico estiver o contexto pol�tico brasileiro, mais cara sair� a fatura de negocia��es do presidente Michel Temer com sua chamada base aliada. Leia os trechos da entrevista.

Como o sr. v� a sa�da o ministro Geddel Vieira Lima do governo?

A queda de Geddel evidencia a fragilidade da prud�ncia na escolha de ministros pelo presidente Temer. E tamb�m mostra o quanto a Presid�ncia da Rep�blica est� umbilicalmente unida a maiorias venais e nada �ticas do Congresso. Geddel deveria ter sido afastado imediatamente. E Marcelo Calero (ex-ministro da Cultura) deveria ser instado pelo presidente a abrir um processo contra seu colega que lhe exigia favores. Geddel sai, o governo perde for�a, enquanto uma administra��o federal provis�ria, at� 2018, e o desarrazoado pol�tico aumenta. � o tempo em que os pescadores de �gua turva, como boa parte da base aliada, encarecer�o o pre�o do peixe, ou seja, do apoio ao presidente.

O epis�dio amea�a o mandato do presidente Temer?

Eu acho que amea�a, n�o no sentido de que ele possa sofrer um impeachment, porque a oposi��o brasileira se encontra enfraquecida. O partido que poderia liderar um pedido de impeachment, o PT, acabou de sair de um processo de impeachment, de sair de uma derrota monumental nas elei��es municipais e est� numa crise interna muito grande de autodefini��o. Mas, por outro lado, essa desastrada escolha do Minist�rio traz problemas. Voc� escolhe para ministro da Educa��o (Mendon�a Filho) uma pessoa que realiza sua primeira audi�ncia com Alexandre Frota, que � um ator porn�. O Minist�rio tem muitos altos e baixos e eu digo que h� mais baixos do que altos. Ele escolheu esse Geddel, baseado no fato de que o Geddel tem condi��es de arregimentar votos para os projetos do governo no Congresso. Ele est� repetindo o drama do Get�lio Vargas, de todos os presidentes da Rep�blica, inclusive de Dilma Rousseff. � dific�limo esse trato do presidente com a chamada base aliada, o pre�o � cada vez mais caro.

Como o sr v� a tentativa dos deputados de estabelecer uma anistia ao caixa 2?

Essa anistia come�ou com a reda��o da Constitui��o de 1988, com a instaura��o da prerrogativa de foro. Voc� tinha um Congresso que deu a si mesmo o estatuto de constituinte para a reda��o da Constitui��o. Mas aqueles que estavam j� no Congresso e que delinquiram durante muito tempo, sabiam que uma vez institu�do o poder civil, eles n�o teriam mais possibilidade de chantagear os generais, de enfrentar de novo um reequil�brio dos poderes. A introdu��o da prerrogativa de foro foi um habeas corpus preventivo que todos fizeram. O foro ajudou a aumentar o pre�o da corrup��o, da chantagem do Legislativo sobre o Executivo. O foro tem de ser estendido a chefes dos Tr�s Poderes, inclusive por quest�o de seguran�a nacional. Agora, no atacada, � um incentivo � delinqu�ncia.

Como o sr. avalia a disposi��o do senador Renan Calheiros de modificar a lei de abuso de autoridade?

O Renan n�o � um pol�tico qualquer. Ele tem, talvez s� o Lula ou Fernando Henrique Cardoso tenham, essa agilidade mental para construir cen�rios que s�o semi-verdadeiros e semi-mentirosos. Nesse caso, eles est� usando um fato que tem fundo de verdade, mas aplicado ao que n�o � verdadeiro. Est� tentando blindar os pol�ticos, a come�ar por ele mesmo, usando esse defeito do relacionamento do Estado brasileiro com a cidadania, voc� tem um Estado que privilegia quem est� do lado do servi�o publico e n�o quem est� pagando pelo servi�o p�blico.

Procuradores e ju�zes deveriam estar submetidos a crime de responsabilidade?

Essa quest�o deveria aparecer em outro contexto e n�o nesse de retalia��o � Opera��o Lava Jato. Sim, � preciso que todo aquele que est� a servi�o do p�blico tenha consci�ncia de que n�o � superior ao p�blico, mas que � um servidor do p�blico. Achei bonito, embora um tanto demag�gica, a fala da ministra C�rmen L�cia em sua cerim�nia de posse: �Sua excel�ncia, o povo�. Isso � o que nossos pol�ticos, nossos ju�zes esquecem. O t�tulo de excel�ncia � o t�tulo do povo, que � emprestado temporariamente para essas pessoas. Aqui no Brasil n�o h� o exerc�cio pleno do respeito � soberania popular.

Como vida de ostenta��o do ex-governador S�rgio Cabral com dinheiro p�blico, segundo a PF, alcan�a a popula��o?

Isso causa uma revolta muito grande, mas uma revolta que n�o conseguiu at� hoje, a n�o ser em 2013 ou 2014, se traduzir em movimento de rua bem organizado. Esses dois movimentos n�o se traduziram em mudan�as nos partidos pol�ticos, pelo contr�rio. Os partidos est�o totalmente alheios ao que ocorre com a popula��o. Segundo pesquisa recente, parte da popula��o brasileira n�o � que n�o confia nas institui��es republicanas, ela n�o confia na democracia. O problema � que voc� n�o tem nem � esquerda ou � direita movimentos de partidos capazes de capitalizar essas massas e transform�-las em energia pol�tica para mudar a m�quina do Estado. Estamos retomando esse movimento do parafuso que criou as ditadura. Voc� n�o est� conseguindo produzir l�deres democratas capazes de movimentar massas. � a� quando surgem as lideran�as conservadores ou fascistas. (Alexandra Martins)

As informa��es s�o do jornal

O Estado de S. Paulo.


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