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Estado de Minas

'� um governo de velhos brancos ricos', diz Dilma ao FT sobre sua sucess�o


postado em 08/12/2016 12:19 / atualizado em 08/12/2016 12:58

(foto: / AFP / Gustavo ROTH )
(foto: / AFP / Gustavo ROTH )

Em uma longa entrevista exclusiva ao jornal brit�nico Financial Times, a ex-presidente Dilma Rousseff salientou que uma autoridade mulher � chamada de "dura", enquanto um homem � chamado de "forte". Para ela, o governo � frente do Pa�s hoje � formado por "velhos brancos ricos ou, pelo menos, daqueles que querem ser ricos". Dilma foi afastada num processo de impeachment em maio de 2016 e falou ao peri�dico sobre a "impressionante mudan�a" de sorte e sobre seus planos futuros.

O espa�o concedido a Dilma faz parte de uma s�rie de entrevistas e perfis exibidos pela publica��o nesta quinta-feira, 8, com as consideradas "Mulheres do Ano". Al�m de Dilma, tamb�m h� entrevistas com a primeira-ministra brit�nica, Theresa May; com Simone Biles, considerada a maior ginasta de todos os tempos; com a escritora e apresentadora de TV brit�nica do ramo de culin�ria Mary Berry, e um perfil da gerente de campanha do ent�o candidato Donald Trump � presid�ncia dos Estados Unidos, Kellyanne Conway, entre outras.

"Para uma mulher que acabou de suportar um duro per�odo de seis meses de julgamento pol�tico, que resultou em seu impeachment, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff parece incrivelmente relaxada", avaliou logo no in�cio da entrevista o chefe da sucursal do FT no Brasil, Joe Leahy. A entrevista com a "primeira mulher presidente do maior pa�s da Am�rica Latina" foi concedida em um hotel em Porto Alegre.

Dilma, que tem 68 anos, enfatizou sua nova paix�o: andar de bicicleta - um hobby que adquiriu ainda quando estava no Pal�cio do Planalto e que continua a praticar na capital ga�cha, onde come�ou sua carreira pol�tica. "O lado s�rio de Dilma - uma ex-guerrilheira marxista que conquistou o cargo em 2010 com o apoio do que era ent�o um dos movimentos oper�rios mais bem-sucedidos do mundo, o PT, nunca est� longe, no entanto."

Leahy descreve que Dilma mostra uma indigna��o nervosa, por exemplo, em qualquer men��o sobre o governo que a substituiu, liderado pelo seu ex-vice-presidente e inimigo pol�tico, Michel Temer. "� um governo de velhos brancos ricos ou, pelo menos, daqueles que querem ser ricos", disse ela, insinuando uma longa lista de acusa��es de corrup��o contra os membros da coaliz�o de Temer.

A reportagem salienta que a ex-presidente ainda deve estar chocada com a reviravolta de sua sorte - uma invers�o que correspondeu � de sua na��o, que passou de um milagre econ�mico de mercado emergente a um desapontamento em poucos anos.

Truques or�ament�rios

O FT explica aos leitores brit�nicos que Dilma saiu do poder em maio e que foi expulsa da Presid�ncia em agosto, depois que o Senado a considerou culpada por uma s�rie de manobras fiscais usadas para estimular a economia e disfar�ar o pior do d�ficit or�ament�rio visto no Estado.

Ela alega que os mesmos truques or�ament�rios foram usados pelos seus antecessores, mas a reportagem cita que, pela primeira vez desde antes da segunda guerra mundial, seu governo foi o primeiro a ter as contas rejeitadas pela fiscaliza��o das finan�as p�blicas, o TCU.

"No final, o processo de impeachment foi um julgamento pol�tico - a verdadeira raz�o pela qual ela perdeu o poder foi a queda da popularidade em meio a uma recess�o crescente e uma investiga��o de corrup��o na estatal Petrobras", considerou o jornal.

Essa situa��o, lembra o correspondente, mostra um forte contraste com sua posi��o de seis anos atr�s, quando sua popularidade dava inveja a qualquer l�der mundial.

Para o peri�dico, ela foi a mulher que finalmente quebrou o teto de vidro na pol�tica brasileira, que se colocou como campe� das minorias e dos pobres por meio de programas como 'Sem Mis�ria' - enviando assistentes sociais para auxiliar os desamparados e garantir a seus regimes de assist�ncia social.

"Eu acho que a oligarquia tradicional brasileira ficou chateada com essa pequena (redistribui��o da riqueza)", disse Dilma. "Ap�s s�culos de exclus�o, este foi um esfor�o muito pequeno na inclus�o. N�o foi fant�stico; precisa ser muito mais do que o que fizemos", continuou.

Mal-humorada amig�vel

A imagem p�blica da ex-presidente � de uma l�der mal-humorada, mas pessoalmente ela pode ser informal e amig�vel, conforme o entrevistador. A reportagem � entremeada por v�rias fotos em preto e branco da ex-presidente, feitas durante a entrevista. Dilma, de acordo com o jornal, vestia uma de suas "roupas de poder".

O peri�dico tamb�m comenta que ela � famosa por usar v�rias vezes a palavra "querido" durante uma conversa. "Mais uma tecnocrata do que uma pol�tica natural, se v� que Dilma fica mais feliz quando discute os detalhes do or�amento federal, apoiada pelo PowerPoint", considerou o FT.

Outra qualidade que a define, de acordo com a publica��o, � seu dogmatismo. O Financial Times conta que Dilma nasceu em 1947, em Belo Horizonte, e que come�ou a combater a ent�o ditadura militar do pa�s com apenas 16 anos. Conheceu o advogado Carlos Franklin Paix�o de Ara�jo, pai de sua �nica filha, antes de ser presa por tr�s anos pelos militares em 1970. "Ela foi torturada, uma experi�ncia que lembrou a seus oponentes durante o processo de impeachment para mostrar que ela sabia como resistir a qualquer coisa", citou a reportagem.

Detalhando o perfil da ex-presidente, o jornal lembra que a primeira vez que Dilma foi eleita, j� foi para a Presid�ncia em 2010, depois de ter sido ministra no governo de seu predecessor e mentor, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva.

O FT destaca que Lula deixou para sua sucessora um crescimento econ�mico de 4% ao ano, em m�dia. J� Dilma entregou a Temer, neste ano, uma economia que estava se contraindo quase na mesma propor��o - considerada a pior recess�o do Brasil em mais de um s�culo.

A reportagem comenta que economistas do setor privado culpam Dilma por esse quadro. O argumento dos analistas apontado pelo Financial Times � o de que, embora o Brasil tenha sido atingido pela queda das commodities, suas pol�ticas econ�micas intervencionistas - como tentar controlar os pre�os dos combust�veis e da energia - minaram a confian�a das empresas.

"Mas qualquer pessoa que espere um mea culpa ser� decepcionada. A crise financeira global est� por tr�s dos problemas da economia, diz ela, enquanto o Congresso congelou suas tentativas de introduzir reformas, incluindo aumentos de impostos para deter uma explos�o no d�ficit or�ament�rio."

Loucura

Para Dilma, a proposta de Temer de congelar o crescimento dos gastos or�ament�rios por 20 anos � uma "loucura". "Durante uma recess�o, uma pol�tica de austeridade � o suic�dio", disse ela. "No curto prazo, voc� tem que aumentar o investimento p�blico."

Dilma chama seu impeachment de um "golpe". O jornalista questiona, ent�o, por que ela n�o permaneceu no pal�cio presidencial de Bras�lia (citado como uma das obras-primas do arquiteto Oscar Niemeyer), em um posicionamento de resist�ncia como a jovem guerrilheira teria feito. A ex-presidente responde que a luta atual � diferente. E argumentou que, em todos os lugares, o 'neoliberalismo' est� ruminando os fundamentos da democracia.

A melhor maneira de enfrentar essa amea�a, de acordo com ela, � usar as institui��es democr�ticas, como quando foi ao Senado durante o processo de impeachment para enfrentar seus opositores. "Por que n�o poderia ceder � tenta��o de amarrar-me a uma das belas colunas de Niemeyer no Pal�cio? Porque nesta fase, a melhor arma � a cr�tica, a conversa, o di�logo, o debate. A verdade � o oxig�nio da democracia."

Calcanhar de Aquiles

O FT destaca tamb�m menciona que, pessoas que trabalharam com ela dizem que, ao contr�rio de muitos pol�ticos brasileiros, Dilma n�o � uma pessoa corrupta. Mas seu calcanhar de Aquiles �, sem d�vida, a Petrobras, de acordo com seus cr�ticos. Dilma presidiu a companhia petrol�fera de 2003 a 2010 como presidente da empresa e ministro da energia.

Uma investiga��o abrangente sobre corrup��o na empresa, conhecida como "Lava Jato", revelou que alguns executivos da Petrobras conspiraram com antigos pol�ticos e membros da coaliz�o do governo para extrair bilh�es de d�lares em subornos e propinas da empresa, muito durante seu mandato.

O jornal menciona que Dilma n�o foi acusada de nenhum crime. "Ela insiste que nunca suspeitou de nada - apesar de um inqu�rito do Congresso sobre a corrup��o na empresa em 2009, quando ainda era presidente, e os custos enormemente inflacionados dos projetos da empresa", trouxe a publica��o.

Dilma insistiu tamb�m durante a entrevista que, se n�o fossem as reformas que ela introduziu para combater a corrup��o, a investiga��o Lava Jato nunca poderia ter acontecido.

Questionada sobre o futuro, a ex-presidente disse que n�o pretende mais concorrer a cargos eletivos. "Mas continuarei a ser politicamente ativa", avisou. Ela � membro do conselho da Funda��o Perseu Abramo, um �rg�o ligado ao PT, e planeja viajar para o exterior para informar outros pa�ses sobre o retrocesso imposto pelo governo Temer.

Para as mulheres, ela queria deixar um legado de uma presidente bem sucedida, n�o um impeachment, disse Dilma ao peri�dico. "Em todo o caso, vou deixar como legado para as mulheres minha trajet�ria. Eu digo que n�s (mulheres) n�o somos pessoas que desistem, que se dobram sob a adversidade." Para ela, as mulheres sempre enfrentam algum n�vel de discrimina��o, mesmo em "sociedades mais civilizadas".

Dilma, lembra a reportagem, foi frequentemente acusada de ser uma dama de ferro, supostamente t�o "dura" que fez ministros chorarem em seu gabinete quando n�o apresentaram o dever de casa. "Quando voc� � uma autoridade mulher, eles dizem que voc� � dura, seca e insens�vel, enquanto um homem na mesma posi��o � forte, firme e encantador", comparou.

Sobre o per�odo, Dilma brinca que o mais frustrante foi que ela foi pintada como um ogro, enquanto os homens na pol�tica brasileira ficaram "cheirando a rosas". "Um dia, depois de me cansar de ouvir o qu�o dura eu era, eu disse (sarcasticamente) que sim. Isso mesmo, eu sou uma mulher dura rodeada por homens doces. Todos eles s�o muito doces."


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